domingo, 4 de junho de 2017

As melhores historias - grandes recordações



Embora considere minha participação na LTN escrita de forma resumida nos últimos 20 capítulos, creio que ainda sobra muitos assuntos que merecem ser comentados, mas nesta parte da narrativa procurarei me ater a somente boas lembranças e fatos engraçados, que conseguir lembrar.
Precisa de memória de elefante para recordar momentos pequenos, mas engraçados que aconteceram a mais de 30 anos, mas vamos ver o que vai sair depois de pronto.
Todos os que trabalharam na LTN, mesmo os que deram sequência nas tarefas quando a empresa passou a ser EPIL, mesmo que em épocas diferentes, viveram momentos inesquecíveis e isso que pretendo contar neste episódio.
Sashimi

Numa das primeiras viagens que fazia pela LTN, ainda era vendedor bem pezinho mesmo e estava trabalhando na cidade de Marília. Numa noite qualquer, fui convidado pelo Brito para ir ao um bar da cidade comer Sashimi. Eu estava igual a música do Zeca Pagodinho sobre caviar “nunca vi, nem comi, eu só ouço falar” e convidamos alguns outros vendedores, mas o único que aceitou o convite foi o Paulo Regis, lembram dele?



Quando terminamos o trabalho e deixamos tudo pronto para o dia seguinte, fomos nós, no meu chevette a gás,  comer Sashimi. Era um restaurante dirigido por japonês e fiquei sabendo depois que aquela região de Marília tem uma grande colônia de japoneses. Quando chegamos no restaurante, sentamos num local bem próximo à rua, e pedimos cerveja e uns tira-gostos e ficamos de papo por quase uma hora, quando finalmente o Brito pediu ao garçom trazer o tal Sashimi. 

Eu não tinha mesmo ideia do que seria o prato, apenas que era peixe cru e esta ideia não estava bem digerida pelo meu cérebro. Nunca, até então tinha sido chegado a peixe, com exceção da sardinha em lata ou de vez em quando um pedaço de imitação de bacalhau na Semana Santa, que era tradicional na casa dos meus pais. Minutos depois o garçom volta com um prato com um peixe todo fatiado, uma tigela com gengibre, um molho preto que eu também não conhecia e que depois fiquei sabendo que era shoyo e uma porção de uma pasta verde, com nome de wasabi.


O Paulo Regis e o Brito atacarão o prato vorazmente, enquanto eu ficava imaginando qual o sabor daquela coisa totalmente desconhecida para mim, mas resolvi arriscar e peguei um pedacinho e sem colocar no molho e nem nos outros acompanhamentos, dei uma mordida e quase cuspi. Tinha gosto de terra. O peixe era um Corimba.

Para fazer sacanagem, que depois repliquei por muitos anos, os dois me disseram que eu devia passar o peixe no shoyo e depois passar aquela pasta verde e assim o sabor de terra desaparecia. Foi o que fiz. Passei wasabi como fosse manteiga e mandei goela abaixo. Parecia que eu tinha engolido chumbo. Quando aquele peixe recheado com wasabi teve contato com minha língua, nossa, parece que para descrever, foi como se um bate estaca estive batido em minha cabeça. Lembro desta sensação até hoje. Os olhos lacrimejavam, e as lagrimas desciam pelo rosto. Eu, de aflição e dos meus colegas de tanto rir. Como diz o ditado, você aprende no amor ou na dor. Eu aprendi a comer Sashimi na dor, mas fiquei fã. Posteriormente, em outras ocasiões, repeti a experiencia com salmão e atum e os sabores muito diferentes de peixe de agua doce me fizeram um dos apreciadores desta iguaria japonesa.

Diz o ditado que vingança é um prato para se comer frio. Bem eu nunca pude revidar a sacanagem que o Brito e o Paulo Regis fizeram comigo, mas ao longo da minha vida como supervisor, gerente de outra empresa, sempre que eu convidava algum vendedor para jantar e se houvesse possibilidade de servir Sashimi eu não perdia a ocasião, caso ele não conhecesse, de fazer o batismo do wasabi. Sempre a cena se repetia e sempre era engraçado. Hoje é mais raro um momento deste para mim, mas recentemente fui jantar com meu neto e ele além de pagar a conta, teve os olhos lacrimejantes e até esqueceu que eu era o avô e me mandou para o inferno, enquanto eu ria do seu desespero.

Zona Franca de Manaus

Hoje a Zona Franca de Manaus já não tem o mesmo “glamour” de outrora, pois com o crescimento do contrabando dos produtos eletrônicos vindo da fronteira do Brasil com o Paraguai e a facilidade de se comprar produtos a prazo nas lojas, em shopping center, onde você consegue sem correr risco algum, adquirir o que existe de melhor na tecnologia, ficou tudo fácil, mas nem sempre foi assim.

Antes até de entrar na LTN, cheguei a fazer uma viagem a Foz do Iguaçu e o meu sonho de consumo na época era comprar toca fita “Roadstar”, aqueles desodorantes enormes, de embalagem verde, todo cheio de perfume “Brut”, que era caro no Brasil e hoje você encontra com a maior facilidade até no Mercado Livre e outras besteirinhas que se vendia por todos os lados de Ciudad del Este.



Um dos produtos mais procurados pelos turistas era o vídeo cassete e lá se comprava a preços bem mais acessíveis que no Brasil, mas o  comprador tinha que ter sorte ou comprar em lojas bem estabelecidas, como a Loja da China, mas que as vezes, dependendo da cotação do dólar, não valia a pena, então os mais incautos compravam de pequenas lojas ou mesmo dos camelôs e levavam para casa uma embalagem fechada, acreditando que dentro dela havia um vídeo cassete de última geração, mas quando abria a embalagem, iam notar que haviam comprado uma carcaça de vídeo cassete com um tijolo dentro. Era normal acontecer isso e depois não havia como reclamar.

Mas malandragem não tem fronteira e lá estava o grupo da LTN trabalhando em Manaus e era uma corrida nas horas de folga às lojas da zona franca. Câmeras fotográficas Olimpikus, que era o que havia de mais moderno no momento foi adquirida por vários vendedores e até era engraçado lembrar a cena no voo de volta quando um tirava foto do outro, das aeromoças, de uma nuvem, não importava o que, o que valia era tirar fotos para exibir o troféu conquistado; a supermáquina fotográfica, que tinha uma ferramenta que dobrava a capacidade do filme, ou seja, um filme de 36 fotos, ela conseguia tirar 72 fotos. Era o máximo! Eu, que ainda não dispunha de dinheiro para tanto, comprei uma garrafa térmica, aquela do Elefante, tecnologia japonesa e acreditem, depois de 33 anos, ela ainda continua em uso na minha casa, sem nunca, neste tempo todo, apresentar nenhum tipo de problema.


Mas teve uma situação engraçada vivida pelos vendedores Ailton e Marco Antonio. Eles estavam interessados em comprar um vídeo cassete e saíram com destino a grande loja da época que era a Mesbla, onde havia de tudo, com garantia de qualidade e bons preços, comparados com os praticados em São Paulo, mas antes de chegar a loja, foram abordados por dois vendedores de rua, que ofereceram a eles um vídeo cassete de 04 cabeças, JVC cheio de recursos. Como eles queriam, por um preço bem mais baixo que o da Mesbla resolveram comprar e enquanto rolava a negociação, apareceu a polícia para abordar os camelôs. 

O Ailton e o Marco Antonio se assustaram e foram embora rapidinho, sem ter fechado o negócio. Os dois, como a maioria dos vendedores, não tinham dinheiro sobrando, era tudo contadinho, senão faltava para as atividades do dia a dia. A solução era fazer pechincha para poder economizar o máximo. Este aspecto foi que evitou que tivessem um prejuízo, pois tudo estava combinado entre a polícia e os vigaristas. Era um golpe que eles aplicavam nos compradores menos avisados. 


Quando a venda se concretizava, a polícia chegava, prendia os sujeitos, o vídeo cassete e o dinheiro gasto na compra não era devolvido ao comprador. Por pouco, o Ailton e o Marco Antonio não entraram nesta gelada. À tarde, no atendimento, eles me contaram o acontecido e riam muito da situação que escaparam. No dia seguinte, voltaram à Mesbla e fizeram a compra do vídeo cassete de 04 cabeças, com nota fiscal e devem ter usado por muito tempo, pois os produtos legalizados que eram vendidos na Zona Franca de Manaus, tinham qualidade excepcional.

‘BIRD”

A vida de um profissional de vendas de publicidade em lista telefônica acredito, que nos idos de 1975 a 1995, era muito estressante. Quantas vezes o vendedor chegava para renovar um contrato ou mesmo fazer um contrato novo e usava aquela palavra que é igual caviar, que é a “tranca”. Todo mundo sabe que tinha, mas ninguém admitia. Era como o juramento do Eterno Segredo da Maçonaria. Existia, mas não existia oficialmente. Todo mundo acreditava nisso. Bem, a cada contrato, novo ou renovação, era uma dose de adrenalina imensa. O coração acelerava, a pulsação aumentava e o grau de stress que o vendedor era submetido era imensa e não teve um vendedor, seja em que época ou veículo que tenha trabalhado que não teve um momento assim.


E este “stress” não era restrito somente ao vendedor, também era extensivo aos supervisores, pois embora tivessem que checar o trabalho dos vendedores, tinham que ter habilidade ao fazê-lo, pois também não podia ir cancelando todo o trabalho realizado.
Houve, durante o tempo que lá estive, inúmeros casos de vendedores sendo expulsos de estabelecimentos, diversas vezes a polícia foi chamada pelo assinante e teve até um vendedor que levou um tiro no pé, quando trabalhava numa cidade do interior do Mato Grosso. Histórias deste tipo foram várias. Algumas acabaram em demissão outras em grandes gargalhadas.

Teve um caso que aconteceu com uma equipe do Guia Internacional W+V, que me foi contado pela nossa amiga Teresa Travia. Ela tinha uma equipe de vendedores e haviam terminado o trabalho na região sul do Brasil e chegaram para trabalhar o norte do Estado do Paraná, e a cidade escolhida para ser a sede do trabalho de uma semana foi Maringá. Cidade bonita, centro de uma região prospera, a equipe ficou hospedada no melhor hotel da cidade, como era costume acontecer e o trabalho foi normal na quarta, quinta e sexta feira. Bem, aí que começa a história. Tereza, naquela época tinha um namorado, um bocado ciumento, pediu, implorou, fez o diabo para ela vir passar o final de semana em São Paulo, pois, por coincidência, era comemorado o “Dia das Mães”.

Como uma boa profissional que era, na sexta feira, pela manhã, instruiu a equipe que iria viajar a tarde e que estaria de volta na manhã de segunda feira. No final do dia, despediu-se de todos após o atendimento e pegou um ônibus para São Paulo a noite.
Viajou tranquila, passou um final de semana reconfortante e no domingo à noite, pegou um ônibus e voltou para Maringá, chegando no hotel por volta das 06:00 horas. Logo que entrou na portaria do hotel, notou um clima diferente, pediu sua chave e subiu para seu apartamento. Quando lá chegou, quase teve um enfarte. Todas suas coisas estavam jogadas pelo chão, as malas abertas, atribuições espalhadas pelo apartamento, um caos total. Apavorada com o que via, desceu rapidamente para a recepção do hotel para dar queixa do ocorrido, mas aí sua surpresa aumentou mais ainda. O assunto já era de conhecimento do hotel e o autor do vandalismo foi um vendedor de sua equipe.

Este vendedor teve um “Dia de Fúria” e praticamente acabou com seu apartamento no 10º andar do hotel, jogando pela janela, travesseiros, colchão, televisão e outros objetos do apartamento e para completar o quadro dantesco, ele, completamente nu, ficou na janela do apartamento, fazendo a maior cena. Não deu outra. Polícia chamada e o vendedor, por estar naquele estado foi dominado e levado para um hospital, onde tomou um sossega leão.
Outro fato que deixou a Teresa surpresa foi que toda sua equipe, a pedido do gerente dela, foram se hospedar em outra cidade para evitar problemas sobre o acontecido. Ela teve que assumir o trabalho de vendas das fichas de Maringá e ficou por lá sozinha por mais uns dias, enquanto seus vendedores trabalhavam em outras cidades.


Aquele acontecimento foi manchete do dia de todos os jornais da cidade e das rádios. Os repórteres estavam ávidos para saber mais notícias, mas como era praxe na nossa atividade, mas o que mais chamou a atenção de todos foram os representantes das igrejas, padres, pastores, evangélicas foram até o vendedor para ajudá-lo a sair daquele estado anormal. Tudo foi contornado e o caso foi abafado e a LTN teve que pagar o prejuízo e talvez por conta disso, o vendedor, que ainda era pezinho, permaneceu na empresa, pagando o estrago em suaves prestações mensais. Como recordação deste dia, recebeu a partir daquele dia o sugestivo nome de BIRD – O Homem Pássaro.

Só quem viveu estes momentos pode contar uma história como essa.

"O CAMARO AMARELO"

Recentemente, a dupla sertaneja Munhoz & Mariano fez o maior sucesso com a musica "Camaro Amarelo". Creio que ainda é o sonho de consumo da maioria das pessoas possuir um carro deste, mas nos ano 90 o carro mais desejado pelos jovens era o top de linha da Volkswagen, o SP-2.  A historia abaixo conta a aventura do listeiro Flavio Leite, que comprou uma caranga desta e foi tirar onda e esta aventura durou somente uma semana, mas foi inesquecível.

A campanha estava sendo realizada na cidade de Ribeirão Preto, e as equipes estavam hospedadas no hotel Holliday Inn e o estacionamento deste hotel, que ficava no subsolo, tinha uma pequena rampa que servia para reduzir a velocidade de quem entrava ou saia do estacionamento e também para conter água da chuva, pois aquela região quando chovia forte, tinha uma enxurrada violenta, tanto que certa ocasião, quando houve uma tromba d'água na cidade, a água invadiu o saguão do hotel, inundando até parte do restaurante, que ficava ao lado.

Bem, nosso herói, que na época tinha um Fiat 147 azul, que era o carro possível de ser comprado e muitos listeiros tinham também, resolveu fazer um rolo com seu cunhado, que tinha um estacionamento em São José do Rio Preto e comprou o carro cobiçado: um SP2 conversível e amarelo, com rodão preto, cheio de acessórios. Era um show de carro, só que não!

Quando chegou com o carro no Holliday Inn, o primeiro problema; como o era rebaixado, ao entrar no estacionamento, o SP2 enroscou o assoalho na lombada. Ai a solução foi chamar um grupo de vendedores, que ergueram o carro para poder entrar na garagem do hotel.


Para sair da garagem, era outro show de horrores: o pessoal parava o transito e ele saia em velocidade para não encalhar na lombadinha e esta rotina se repetiu todos os dias. Num destes dias, ele pegou uma atribuição de renda numa fazenda no município de São José da Bela Vista, na região de Franca.  Quando chegou no local, para ir até a sede da fazenda, tinha que percorrer um trecho numa estrada com muita areia e não deu outra. Alguns metros depois o carro enroscou num banco de areia e não tinha o que se fazer, a não ser pedir ajuda ao pessoal da fazenda para tirar o carro do local.

O Flavio, que naquele dia estava usando gravata, teve que percorrer um bom trecho a pé, sob o sol escaldante da região e o fazendeiro prestou socorro a ele, puxando o carro com um trator. Com o carro num local seguro, o fazendeiro perguntou o que ele queria na sua fazenda e quando ele disse que era da lista telefônica e estava lá para renovar a assinatura de sua publicidade. o proprietário da fazenda disse com um pouco de raiva e ironia que se soubesse antes não o teria ajudado. Mas. por conta do favor prestado, o contrato acabou sendo cancelado.

Mas desgraça pouca é bobagem. Nada é tão ruim que não pode ser piorado. Quando saiu da fazenda, trabalhou o resto do dia numa boa e a tarde quando voltava para Ribeirão Preto começou a chover. Rapidamente ele ergueu a capota, mas era como se não tivesse erguido, pois ela estava toda furada e a chuva molhava o carro todo e para completar o quadro, o limpador de parabrisa também não estava funcionando. Chegou no atendimento todo molhado, revoltado e o sonho do carro conversível chegara ao fim.

E assim, encerro a serie das minhas lembranças da LTN. Não foi tudo o que eu quis, mas foi tudo feito com muito carinho e espero que de alguma forma tenha contribuído para despertar a lembrança nos que leram meus textos.

Sejam felizes!