Embora considere minha
participação na LTN escrita de forma resumida nos últimos 20 capítulos, creio
que ainda sobra muitos assuntos que merecem ser comentados, mas nesta parte da
narrativa procurarei me ater a somente boas lembranças e fatos engraçados, que
conseguir lembrar.
Precisa de memória de
elefante para recordar momentos pequenos, mas engraçados que aconteceram a mais
de 30 anos, mas vamos ver o que vai sair depois de pronto.
Todos os que trabalharam na
LTN, mesmo os que deram sequência nas tarefas quando a empresa passou a ser
EPIL, mesmo que em épocas diferentes, viveram momentos inesquecíveis e isso que
pretendo contar neste episódio.
Sashimi
Numa das primeiras viagens
que fazia pela LTN, ainda era vendedor bem pezinho mesmo e estava trabalhando
na cidade de Marília. Numa noite qualquer, fui convidado pelo Brito para ir ao
um bar da cidade comer Sashimi. Eu estava igual a música do Zeca Pagodinho
sobre caviar “nunca vi, nem comi, eu só ouço falar” e convidamos alguns outros
vendedores, mas o único que aceitou o convite foi o Paulo Regis, lembram dele?
Quando terminamos o trabalho
e deixamos tudo pronto para o dia seguinte, fomos nós, no meu chevette a gás, comer Sashimi. Era um restaurante dirigido por
japonês e fiquei sabendo depois que aquela região de Marília tem uma grande
colônia de japoneses. Quando chegamos no
restaurante, sentamos num local bem próximo à rua, e pedimos cerveja e uns
tira-gostos e ficamos de papo por quase uma hora, quando finalmente o Brito pediu
ao garçom trazer o tal Sashimi.
Eu não tinha mesmo ideia do que seria o prato,
apenas que era peixe cru e esta ideia não estava bem digerida pelo meu cérebro.
Nunca, até então tinha sido chegado a peixe, com exceção da sardinha em lata ou
de vez em quando um pedaço de imitação de bacalhau na Semana Santa, que era
tradicional na casa dos meus pais. Minutos depois o garçom
volta com um prato com um peixe todo fatiado, uma tigela com gengibre, um molho
preto que eu também não conhecia e que depois fiquei sabendo que era shoyo e
uma porção de uma pasta verde, com nome de wasabi.
O Paulo Regis e o Brito
atacarão o prato vorazmente, enquanto eu ficava imaginando qual o sabor daquela
coisa totalmente desconhecida para mim, mas resolvi arriscar e peguei um pedacinho
e sem colocar no molho e nem nos outros acompanhamentos, dei uma mordida e
quase cuspi. Tinha gosto de terra. O peixe era um Corimba.
Para fazer sacanagem, que
depois repliquei por muitos anos, os dois me disseram que eu devia passar o
peixe no shoyo e depois passar aquela pasta verde e assim o sabor de terra
desaparecia. Foi o que fiz. Passei wasabi como fosse manteiga e mandei goela
abaixo. Parecia que eu tinha engolido chumbo. Quando aquele peixe recheado com
wasabi teve contato com minha língua, nossa, parece que para descrever, foi
como se um bate estaca estive batido em minha cabeça. Lembro desta sensação até
hoje. Os olhos lacrimejavam, e as lagrimas desciam pelo rosto. Eu, de aflição e
dos meus colegas de tanto rir. Como diz o ditado, você aprende no amor ou na
dor. Eu aprendi a comer Sashimi na dor, mas fiquei fã. Posteriormente, em
outras ocasiões, repeti a experiencia com salmão e atum e os sabores muito
diferentes de peixe de agua doce me fizeram um dos apreciadores desta iguaria
japonesa.
Diz o ditado que vingança é
um prato para se comer frio. Bem eu nunca pude revidar a sacanagem que o Brito
e o Paulo Regis fizeram comigo, mas ao longo da minha vida como supervisor,
gerente de outra empresa, sempre que eu convidava algum vendedor para jantar e
se houvesse possibilidade de servir Sashimi eu não perdia a ocasião, caso ele
não conhecesse, de fazer o batismo do wasabi. Sempre a cena se repetia e sempre
era engraçado. Hoje é mais raro um momento deste para mim, mas recentemente fui
jantar com meu neto e ele além de pagar a conta, teve os olhos lacrimejantes e
até esqueceu que eu era o avô e me mandou para o inferno, enquanto eu ria do
seu desespero.
Zona
Franca de Manaus
Hoje a Zona Franca de Manaus
já não tem o mesmo “glamour” de outrora, pois com o crescimento do contrabando
dos produtos eletrônicos vindo da fronteira do Brasil com o Paraguai e a
facilidade de se comprar produtos a prazo nas lojas, em shopping center, onde
você consegue sem correr risco algum, adquirir o que existe de melhor na
tecnologia, ficou tudo fácil, mas nem sempre foi assim.
Antes até de entrar na LTN,
cheguei a fazer uma viagem a Foz do Iguaçu e o meu sonho de consumo na época era
comprar toca fita “Roadstar”, aqueles desodorantes enormes, de embalagem verde,
todo cheio de perfume “Brut”, que era caro no Brasil e hoje você encontra com a
maior facilidade até no Mercado Livre e outras besteirinhas que se vendia por
todos os lados de Ciudad del Este.
Um dos produtos mais procurados pelos
turistas era o vídeo cassete e lá se comprava a preços bem mais acessíveis que
no Brasil, mas o comprador tinha que ter
sorte ou comprar em lojas bem estabelecidas, como a Loja da China, mas que as
vezes, dependendo da cotação do dólar, não valia a pena, então os mais incautos
compravam de pequenas lojas ou mesmo dos camelôs e levavam para casa uma
embalagem fechada, acreditando que dentro dela havia um vídeo cassete de última
geração, mas quando abria a embalagem, iam notar que haviam comprado uma
carcaça de vídeo cassete com um tijolo dentro. Era normal acontecer isso e
depois não havia como reclamar.
Mas malandragem não tem
fronteira e lá estava o grupo da LTN trabalhando em Manaus e era uma corrida
nas horas de folga às lojas da zona franca. Câmeras fotográficas Olimpikus, que
era o que havia de mais moderno no momento foi adquirida por vários vendedores
e até era engraçado lembrar a cena no voo de volta quando um tirava foto do
outro, das aeromoças, de uma nuvem, não importava o que, o que valia era tirar
fotos para exibir o troféu conquistado; a supermáquina fotográfica, que tinha uma
ferramenta que dobrava a capacidade do filme, ou seja, um filme de 36 fotos,
ela conseguia tirar 72 fotos. Era o máximo! Eu, que ainda não dispunha de
dinheiro para tanto, comprei uma garrafa térmica, aquela do Elefante,
tecnologia japonesa e acreditem, depois de 33 anos, ela ainda continua em uso
na minha casa, sem nunca, neste tempo todo, apresentar nenhum tipo de problema.
Mas teve uma situação
engraçada vivida pelos vendedores Ailton e Marco Antonio. Eles estavam
interessados em comprar um vídeo cassete e saíram com destino a grande loja da
época que era a Mesbla, onde havia de tudo, com garantia de qualidade e bons
preços, comparados com os praticados em São Paulo, mas antes de chegar a loja,
foram abordados por dois vendedores de rua, que ofereceram a eles um vídeo
cassete de 04 cabeças, JVC cheio de recursos. Como eles queriam, por um preço
bem mais baixo que o da Mesbla resolveram comprar e enquanto rolava a
negociação, apareceu a polícia para abordar os camelôs.
O Ailton e o Marco
Antonio se assustaram e foram embora rapidinho, sem ter fechado o negócio. Os
dois, como a maioria dos vendedores, não tinham dinheiro sobrando, era tudo
contadinho, senão faltava para as atividades do dia a dia. A solução era fazer
pechincha para poder economizar o máximo. Este aspecto foi que evitou que
tivessem um prejuízo, pois tudo estava combinado entre a polícia e os
vigaristas. Era um golpe que eles aplicavam nos compradores menos avisados.
Quando a venda se concretizava, a polícia chegava, prendia os sujeitos, o vídeo
cassete e o dinheiro gasto na compra não era devolvido ao comprador. Por pouco,
o Ailton e o Marco Antonio não entraram nesta gelada. À tarde, no atendimento,
eles me contaram o acontecido e riam muito da situação que escaparam. No dia
seguinte, voltaram à Mesbla e fizeram a compra do vídeo cassete de 04 cabeças,
com nota fiscal e devem ter usado por muito tempo, pois os produtos legalizados
que eram vendidos na Zona Franca de Manaus, tinham qualidade excepcional.
‘BIRD”
A vida de um profissional de
vendas de publicidade em lista telefônica acredito, que nos idos de 1975 a
1995, era muito estressante. Quantas vezes o vendedor chegava para renovar um
contrato ou mesmo fazer um contrato novo e usava aquela palavra que é igual
caviar, que é a “tranca”. Todo mundo sabe que tinha, mas ninguém admitia. Era
como o juramento do Eterno Segredo da Maçonaria. Existia, mas não existia
oficialmente. Todo mundo acreditava nisso. Bem, a cada contrato, novo ou
renovação, era uma dose de adrenalina imensa. O coração acelerava, a pulsação
aumentava e o grau de stress que o vendedor era submetido era imensa e não teve
um vendedor, seja em que época ou veículo que tenha trabalhado que não teve um
momento assim.
E este “stress” não era
restrito somente ao vendedor, também era extensivo aos supervisores, pois
embora tivessem que checar o trabalho dos vendedores, tinham que ter habilidade
ao fazê-lo, pois também não podia ir cancelando todo o trabalho realizado.
Houve, durante o tempo que
lá estive, inúmeros casos de vendedores sendo expulsos de estabelecimentos,
diversas vezes a polícia foi chamada pelo assinante e teve até um vendedor que
levou um tiro no pé, quando trabalhava numa cidade do interior do Mato Grosso.
Histórias deste tipo foram várias. Algumas acabaram em demissão outras em
grandes gargalhadas.
Teve um caso que aconteceu
com uma equipe do Guia Internacional W+V, que me foi contado pela nossa amiga
Teresa Travia. Ela tinha uma equipe de vendedores e haviam terminado o trabalho
na região sul do Brasil e chegaram para trabalhar o norte do Estado do Paraná,
e a cidade escolhida para ser a sede do trabalho de uma semana foi Maringá.
Cidade bonita, centro de uma região prospera, a equipe ficou hospedada no melhor
hotel da cidade, como era costume acontecer e o trabalho foi normal na quarta,
quinta e sexta feira. Bem, aí que começa a história. Tereza, naquela época
tinha um namorado, um bocado ciumento, pediu, implorou, fez o diabo para ela
vir passar o final de semana em São Paulo, pois, por coincidência, era
comemorado o “Dia das Mães”.
Como uma boa profissional
que era, na sexta feira, pela manhã, instruiu a equipe que iria viajar a tarde
e que estaria de volta na manhã de segunda feira. No final do dia, despediu-se
de todos após o atendimento e pegou um ônibus para São Paulo a noite.
Viajou tranquila, passou um
final de semana reconfortante e no domingo à noite, pegou um ônibus e voltou
para Maringá, chegando no hotel por volta das 06:00 horas. Logo que entrou na
portaria do hotel, notou um clima diferente, pediu sua chave e subiu para seu
apartamento. Quando lá chegou, quase teve um enfarte. Todas suas coisas estavam
jogadas pelo chão, as malas abertas, atribuições espalhadas pelo apartamento,
um caos total. Apavorada com o que via, desceu rapidamente para a recepção do
hotel para dar queixa do ocorrido, mas aí sua surpresa aumentou mais ainda. O
assunto já era de conhecimento do hotel e o autor do vandalismo foi um vendedor
de sua equipe.
Este vendedor teve um “Dia
de Fúria” e praticamente acabou com seu apartamento no 10º andar do hotel,
jogando pela janela, travesseiros, colchão, televisão e outros objetos do
apartamento e para completar o quadro dantesco, ele, completamente nu, ficou na
janela do apartamento, fazendo a maior cena. Não deu outra. Polícia chamada e o
vendedor, por estar naquele estado foi dominado e levado para um hospital, onde
tomou um sossega leão.
Outro fato que deixou a
Teresa surpresa foi que toda sua equipe, a pedido do gerente dela, foram se
hospedar em outra cidade para evitar problemas sobre o acontecido. Ela teve que
assumir o trabalho de vendas das fichas de Maringá e ficou por lá sozinha por
mais uns dias, enquanto seus vendedores trabalhavam em outras cidades.
Aquele acontecimento foi
manchete do dia de todos os jornais da cidade e das rádios. Os repórteres
estavam ávidos para saber mais notícias, mas como era praxe na nossa atividade,
mas o que mais chamou a atenção de todos foram os representantes das igrejas,
padres, pastores, evangélicas foram até o vendedor para ajudá-lo a sair daquele
estado anormal. Tudo foi contornado e o caso foi abafado e a LTN teve que pagar
o prejuízo e talvez por conta disso, o vendedor, que ainda era pezinho,
permaneceu na empresa, pagando o estrago em suaves prestações mensais. Como
recordação deste dia, recebeu a partir daquele dia o sugestivo nome de BIRD – O
Homem Pássaro.
Só quem viveu estes momentos
pode contar uma história como essa.
"O
CAMARO AMARELO"
Recentemente, a dupla sertaneja Munhoz &
Mariano fez o maior sucesso com a musica "Camaro Amarelo". Creio que
ainda é o sonho de consumo da maioria das pessoas possuir um carro deste, mas
nos ano 90 o carro mais desejado pelos jovens era o top de linha da Volkswagen,
o SP-2. A historia abaixo conta a
aventura do listeiro Flavio Leite, que comprou uma caranga desta e foi tirar
onda e esta aventura durou somente uma semana, mas foi inesquecível.
A campanha estava sendo realizada na cidade
de Ribeirão Preto, e as equipes estavam hospedadas no hotel Holliday Inn e o
estacionamento deste hotel, que ficava no subsolo, tinha uma pequena rampa que
servia para reduzir a velocidade de quem entrava ou saia do estacionamento e
também para conter água da chuva, pois aquela região quando chovia forte, tinha
uma enxurrada violenta, tanto que certa ocasião, quando houve uma tromba d'água
na cidade, a água invadiu o saguão do hotel, inundando até parte do restaurante,
que ficava ao lado.
Bem, nosso herói, que na época tinha um Fiat
147 azul, que era o carro possível de ser comprado e muitos listeiros tinham
também, resolveu fazer um rolo com seu cunhado, que tinha um estacionamento em
São José do Rio Preto e comprou o carro cobiçado: um SP2 conversível e amarelo,
com rodão preto, cheio de acessórios. Era um show de carro, só que não!
Quando chegou com o carro no Holliday Inn, o
primeiro problema; como o era rebaixado, ao entrar no estacionamento, o SP2
enroscou o assoalho na lombada. Ai a solução foi chamar um grupo de vendedores,
que ergueram o carro para poder entrar na garagem do hotel.
Para sair da garagem, era outro show de
horrores: o pessoal parava o transito e ele saia em velocidade para não
encalhar na lombadinha e esta rotina se repetiu todos os dias. Num destes dias,
ele pegou uma atribuição de renda numa fazenda no município de São José da Bela
Vista, na região de Franca. Quando
chegou no local, para ir até a sede da fazenda, tinha que percorrer um trecho
numa estrada com muita areia e não deu outra. Alguns metros depois o carro
enroscou num banco de areia e não tinha o que se fazer, a não ser pedir ajuda
ao pessoal da fazenda para tirar o carro do local.
O Flavio, que naquele dia estava usando
gravata, teve que percorrer um bom trecho a pé, sob o sol escaldante da região
e o fazendeiro prestou socorro a ele, puxando o carro com um trator. Com o
carro num local seguro, o fazendeiro perguntou o que ele queria na sua fazenda
e quando ele disse que era da lista telefônica e estava lá para renovar a
assinatura de sua publicidade. o proprietário da fazenda disse com um pouco de
raiva e ironia que se soubesse antes não o teria ajudado. Mas. por conta do
favor prestado, o contrato acabou sendo cancelado.
Mas desgraça pouca é bobagem. Nada é tão ruim
que não pode ser piorado. Quando saiu da fazenda, trabalhou o resto do dia numa
boa e a tarde quando voltava para Ribeirão Preto começou a chover. Rapidamente
ele ergueu a capota, mas era como se não tivesse erguido, pois ela estava toda
furada e a chuva molhava o carro todo e para completar o quadro, o limpador de
parabrisa também não estava funcionando. Chegou no atendimento todo molhado,
revoltado e o sonho do carro conversível chegara ao fim.
E assim, encerro a serie das minhas
lembranças da LTN. Não foi tudo o que eu quis, mas foi tudo feito com muito
carinho e espero que de alguma forma tenha contribuído para despertar a
lembrança nos que leram meus textos.
Sejam felizes!