segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

MORAR NO PARAISO E VIVER NO INFERNO.



 
Um lindo lugar para se morar.
Titulo cabuloso, mas reflete bem o momento que estou vivendo. Moro num lugar paradisíaco, com muitas arvores, água, pássaros, internet, TV a cabo e todas as modernidades da vida atual. Estou bem casado, afinal já esta completando 50 anos de parceria plena. Sou feliz por ter uma família bem constituída com 03 filhos, 07 netos e 03 bisnetos, além de um cachorro da raça Dog Alemão, com nome de Bento.
Este é o lado do Paraiso. Otimo lugar para passar o resto da vida em paz, sem preocupações, afinal, com 67 anos, o corpo já não tem a mesma disposição de quando tinha 35, mas isto ainda é contornavel.
O lado Inferno vem da parte financeira e ai o bicho pega e nada consegue apaziguar os pensamentos. Certo dia, tudo estava indo bem, tinha um bom carro, uma excelente casa, um emprego que supria minhas necessidades e uma cerimonia sem grande importancia numa cidade distante da minha 200 quilometros. Era uma promoção de cargo que meu neto, na epoca frequentador do Demolay, havia recebido.
O local da queda.

Com a familia reunida, eu, minha esposa e 04 netos, saimos num sabado pela manhã, num dia ensolarado, estrada vazias, perfeito para viagens e como estavamos passeando resolvi  parar num posto de combustivel  no caminho para mostrar às crianças um mini zoologico que lá havia, não antes, porém, de entramos no restaurante do posto, usar os sanitários e comprar guloseimas para os netos. Tudo dentro de script, mas ainda entra em cena o imponderavel, o imprevisto, o momento que mudou minha vida para sempre.
Naquele momento, uma senhora estava fazendo faxina na frente do restaurante e jogava água na escadaria que dava acesso ao posto e para não correr risco de cair, resolvi utilizar a rampa destinada a cadeirantes e foi ai, neste local, que deveria oferecer segurança aos usuários, originou a minha desgraça. O piso era emborachado e estava molhado e eu, que estava utilizando um tênis também com sola de borracha, escorreguei e cai estatelado de costa, com a perna direita quebrada.
A dor foi imediata e agonizante. Até a chegada do socorro passou um tempo proximo de 01 hora e por ironia, a água que a senhora estava jogando na escadaria, agora escorria pela rampa e passava sob meu corpo. Deitado, com água correndo pelas costas e com a dor insuportavel, tive a tentativa de apoio de diversas pessoas que paravam para perguntar se eu estava bem, se precisava de ajuda, mas, de fato, ninguém poderia ajudar, salvo o pessoal da equipe de socorro da rodovia, que ao chegar, imobilizaram minha perna e me colocaram numa ambulância e me levaram para uma cidade a cerca de 40 quilometros do local.
Santa Casa de Taquaritinga - onde fui levado pela ambulância

Minha esposa e três dos meus netos,  ainda crianças, ficaram no posto aguardando a chegada de meu filho e o neto mais velho foi na ambulância comigo. No hospital, após a radiografia, ficou constatada a fratura da tíbia e da fíbula e o procedimento correto era cirúrgico. Apesar da dor que estava sentindo, minha preocupação maior era com minha familia, e somente após algumas horas foi que pude reencontra-los. No hospital fizeram uma imobilização da perna e me aconselharam a voltar para minha cidade, onde eu poderia fazer a cirurgia e ter uma melhor recuperação.
Até ai, tudo estava dentro da normalidade. Chegando na minha cidade, fui prontamente hospitalizado e um ortopedista de plantão, após radiografar a perna, chegou ao mesmo diagnostico do médico anterior. Uma cirurgia simples, com a introdução de uma vareta de aço inoxidável por baixo da pele, fixando a tíbia em 06 lugares. Imobilização e repouso. O tempo passou e depois de dezenas de radiografias, após 07 meses, o médico me liberou para caminhar, sem muletas. Estava curado, segundo ele.
Já em melhor condição, mas com a gaiola na perna.

Sai do consultório feliz e andando! Ufa! Como era bom voltar a caminhar, ter a vida de volta e já no dia seguinte, viajei a trabalho e durante o dia, após caminhar uns 200 metros, senti  uma dor muito forte na perna e fui me arrastando até o carro e voltei no médico e veio o diagnostico: a vareta (órtese) havia se rompido e teria que fazer nova cirurgia para ligar a quebradura da tíbia. O médico, vendo minha frustração, ofereceu um tratamento alternativo com emissão de ondas de radio, que segundo ele, acelera o metabolismo e aumenta a consolidação dos ossos. Foram 100 sessões (03 meses) de 40 minutos e já estava até conseguindo dar uns passos sem as muletas e parecia que tudo estava indo bem. Durante uma sessão de fisioterapia, quando a profissional fez uma pressão sob o meu pé, o mesmo deslocou para baixo um 05 centímetros e ai o caos foi instalado.
Sem poder pisar no chão, voltei ao médico e o mesmo disse que agora somente com cirurgia e eu resolvi pedir uma segunda opinião. Um segundo ortopedista informou que realmente o caso era cirúrgico e optei por continuar o tratamento com este profissional. A cirurgia ocorreu 03 meses após a consulta e ao contrário do primeira, esta foi mais agressiva, pois foi feito um corte vertical de 40 cm  e foi introduzida um órtese de aço inox. Voltei para uma consulta de rotina 15 dias após e foi notado que os parafusos que fixavam a órtese haviam se soltado e era necessário fazer outra cirurgia para consertar.
Depois de ter alta hospitalar, após esta cirurgia reparadora, voltei para casa e dias depois acordei com muita febre e voltei ao médico. Estava com 40º e o corte da cirurgia havia infecionado e tive que ficar internado mais de 40 dias para tratar desta infecção. Bem, pensei, agora tudo vai ficar bem. Passado quase um ano da cirurgia, voltei no médico e após as radiografias de rotina, ele constatou que a fratura estava consolidada e que eu poderia voltar a ter um vida normal. Só que não! Minha alegria durou exatamente 20 minutos e voltei a sentir fortes dores no local da quebradura. Voltei no médico e constatou que a  órtese havia novamente quebrado e que, infelizmente, ele, juntamente com outros médicos, teriam que fazer outra cirurgia, mas desta vez, usaria órtese de titânio, que além de ser extremamente cara, apresenta uma resistência muito maior que a de aço inoxidável.
Marcada a cirurgia, 03 ortopedista participaram da operação, onde tiraram pedaços de osso da cabeça do fêmur, cortaram um pedaço do osso da perna e ligaram tudo novamente com a tal barra de titânio. Mais 05 meses de repouso e dentro da minha casa, indo ao banheiro, com o maior cuidado, voltei a sentir a dor na região da quebradura. Não é possível, pensei! A cirurgia foi feita com titânio, eu estava usando bota ortopédica e muletas e mesmo assim, foi diagnosticado que a órtese de titânio havia quebrado e que seria necessário uma nova cirurgia, mas desta vez, a fixação seria externa, com uma gaiola em torno da perna.
Fiquei com este equipamento por 14 meses. Ninguém merece.

Mesmo contrariado, depois de 03 anos de tratamento, tive que fazer esta nova cirurgia, desta vez em Ribeirão Preto, com outro especialista e de lá sai com uma estrutura de ferro imensa, que prendia minha perna, me permitia pisar, mas doía muito, pois conforme o tempo ia passando, os ferros iam causando ferimentos e deixaram lindas cicatrizes em minha perna. Mas sobrevivi a este terror e cerca de 14 meses após ter colocado a gaiola,  voltei no médico e ai foi dado o diagnostico final. Esta curado. E realmente estava. A perna ficou mais curta, o tornozelo ainda não tem a mesma flexibilidade e ai eu pensava que tudo iria voltar ao normal, quando fui fazer a pericia no INPS, um médico após ver as radiografias e medir o diâmetro da minha perna, me aposentou por invalidez.
Sai da pericia feliz por ter conseguido me aposentar e acreditava que poderia trabalhar para completar a renda da familia, mas ai começou o segundo drama, que permanece até os dias de hoje. Ninguém queria me contratar por conta do sistema de aposentadoria e eu não podia abrir mão do recebimento que este beneficio proporciona e com isso, o tempo foi passando, as economias acabando e acabando. Tive que vender minha casa, mudar para uma zona rural e continuo numa queda  constante na qualidade de vida.
Por isso que o titulo do meu artigo “Morar no Paraiso e viver no Inferno”. Não desejo isto para ninguém, mas os amigos sumiram. Passo dias sem receber uma mensagem, um e-mail, nada! É como se eu não tivesse existido para eles e olha que fiz muito para muitos. Isto tenho consciência, mas a vida é isso.
Que nunca aconteçam com vocês!