Titulo cabuloso, mas reflete bem o momento que estou vivendo. Moro num
lugar paradisíaco, com muitas arvores, água, pássaros, internet, TV a cabo e
todas as modernidades da vida atual. Estou bem casado, afinal já esta completando
50 anos de parceria plena. Sou feliz por ter uma família bem constituída com 03
filhos, 07 netos e 03 bisnetos, além de um cachorro da raça Dog Alemão, com
nome de Bento.
Este é o lado do Paraiso. Otimo lugar para passar o resto da vida em
paz, sem preocupações, afinal, com 67 anos, o corpo já não tem a mesma
disposição de quando tinha 35, mas isto ainda é contornavel.
O lado Inferno vem da parte financeira e ai o bicho pega e nada consegue
apaziguar os pensamentos. Certo dia, tudo estava indo bem, tinha um bom carro,
uma excelente casa, um emprego que supria minhas necessidades e uma cerimonia
sem grande importancia numa cidade distante da minha 200 quilometros. Era uma
promoção de cargo que meu neto, na epoca frequentador do Demolay, havia recebido.
O local da queda. |
Com a familia reunida, eu, minha esposa e 04 netos, saimos num sabado
pela manhã, num dia ensolarado, estrada vazias, perfeito para viagens e como
estavamos passeando resolvi parar num
posto de combustivel no caminho para
mostrar às crianças um mini zoologico que lá havia, não antes, porém, de
entramos no restaurante do posto, usar os sanitários e comprar guloseimas para
os netos. Tudo dentro de script, mas ainda entra em cena o imponderavel, o
imprevisto, o momento que mudou minha vida para sempre.
Naquele momento, uma senhora estava fazendo faxina na frente do
restaurante e jogava água na escadaria que dava acesso ao posto e para não
correr risco de cair, resolvi utilizar a rampa destinada a cadeirantes e foi
ai, neste local, que deveria oferecer segurança aos usuários, originou a minha
desgraça. O piso era emborachado e estava molhado e eu, que estava utilizando
um tênis também com sola de borracha, escorreguei e cai estatelado de costa,
com a perna direita quebrada.
A dor foi imediata e agonizante. Até a chegada do socorro passou um
tempo proximo de 01 hora e por ironia, a água que a senhora estava jogando na
escadaria, agora escorria pela rampa e passava sob meu corpo. Deitado, com água
correndo pelas costas e com a dor insuportavel, tive a tentativa de apoio de
diversas pessoas que paravam para perguntar se eu estava bem, se precisava de
ajuda, mas, de fato, ninguém poderia ajudar, salvo o pessoal da equipe de
socorro da rodovia, que ao chegar, imobilizaram minha perna e me colocaram numa
ambulância e me levaram para uma cidade a cerca de 40 quilometros do local.
Santa Casa de Taquaritinga - onde fui levado pela ambulância |
Minha esposa e três dos meus netos,
ainda crianças, ficaram no posto aguardando a chegada de meu filho e o
neto mais velho foi na ambulância comigo. No hospital, após a radiografia,
ficou constatada a fratura da tíbia e da fíbula e o procedimento correto era cirúrgico. Apesar da dor que estava sentindo, minha preocupação maior era com
minha familia, e somente após algumas horas foi que pude reencontra-los. No
hospital fizeram uma imobilização da perna e me aconselharam a voltar para
minha cidade, onde eu poderia fazer a cirurgia e ter uma melhor recuperação.
Até ai, tudo estava dentro da normalidade. Chegando na minha cidade, fui
prontamente hospitalizado e um ortopedista de plantão, após radiografar a
perna, chegou ao mesmo diagnostico do médico anterior. Uma cirurgia simples,
com a introdução de uma vareta de aço inoxidável por baixo da pele, fixando a tíbia em 06 lugares. Imobilização e repouso. O tempo passou e depois de dezenas
de radiografias, após 07 meses, o médico me liberou para caminhar, sem muletas.
Estava curado, segundo ele.
Já em melhor condição, mas com a gaiola na perna. |
Sai do consultório feliz e andando! Ufa! Como
era bom voltar a caminhar, ter a vida de volta e já no dia seguinte, viajei a
trabalho e durante o dia, após caminhar uns 200 metros, senti uma dor muito forte na perna e fui me
arrastando até o carro e voltei no médico e veio o diagnostico: a vareta
(órtese) havia se rompido e teria que fazer nova cirurgia para ligar a
quebradura da tíbia. O médico, vendo minha frustração, ofereceu um tratamento
alternativo com emissão de ondas de radio, que segundo ele, acelera o
metabolismo e aumenta a consolidação dos ossos. Foram 100 sessões (03 meses) de
40 minutos e já estava até conseguindo dar uns passos sem as muletas e parecia
que tudo estava indo bem. Durante uma sessão de fisioterapia, quando a
profissional fez uma pressão sob o meu pé, o mesmo deslocou para baixo um 05 centímetros e ai o caos foi instalado.
Sem poder pisar no chão, voltei ao médico e o
mesmo disse que agora somente com cirurgia e eu resolvi pedir uma segunda
opinião. Um segundo ortopedista informou que realmente o caso era cirúrgico e
optei por continuar o tratamento com este profissional. A cirurgia ocorreu 03
meses após a consulta e ao contrário do primeira, esta foi mais agressiva, pois
foi feito um corte vertical de 40 cm e
foi introduzida um órtese de aço inox. Voltei para uma consulta de rotina 15
dias após e foi notado que os parafusos que fixavam a órtese haviam se soltado
e era necessário fazer outra cirurgia para consertar.
Depois de ter alta hospitalar, após esta
cirurgia reparadora, voltei para casa e dias depois acordei com muita febre e
voltei ao médico. Estava com 40º e o corte da cirurgia havia infecionado e tive
que ficar internado mais de 40 dias para tratar desta infecção. Bem, pensei,
agora tudo vai ficar bem. Passado quase um ano da cirurgia, voltei no médico e
após as radiografias de rotina, ele constatou que a fratura estava consolidada
e que eu poderia voltar a ter um vida normal. Só que não! Minha alegria durou
exatamente 20 minutos e voltei a sentir fortes dores no local da quebradura.
Voltei no médico e constatou que a órtese havia novamente quebrado e que, infelizmente, ele, juntamente com
outros médicos, teriam que fazer outra cirurgia, mas desta vez, usaria órtese de titânio, que além de ser extremamente cara, apresenta uma resistência muito
maior que a de aço inoxidável.
Marcada a cirurgia, 03 ortopedista participaram
da operação, onde tiraram pedaços de osso da cabeça do fêmur, cortaram um
pedaço do osso da perna e ligaram tudo novamente com a tal barra de titânio.
Mais 05 meses de repouso e dentro da minha casa, indo ao banheiro, com o maior
cuidado, voltei a sentir a dor na região da quebradura. Não é possível, pensei!
A cirurgia foi feita com titânio, eu estava usando bota ortopédica e muletas e
mesmo assim, foi diagnosticado que a órtese de titânio havia quebrado e que
seria necessário uma nova cirurgia, mas desta vez, a fixação seria externa, com
uma gaiola em torno da perna.
Fiquei com este equipamento por 14 meses. Ninguém merece. |
Mesmo contrariado, depois de 03 anos de
tratamento, tive que fazer esta nova cirurgia, desta vez em Ribeirão Preto, com
outro especialista e de lá sai com uma estrutura de ferro imensa, que prendia
minha perna, me permitia pisar, mas doía muito, pois conforme o tempo ia passando,
os ferros iam causando ferimentos e deixaram lindas cicatrizes em minha perna.
Mas sobrevivi a este terror e cerca de 14 meses após ter colocado a
gaiola, voltei no médico e ai foi dado o
diagnostico final. Esta curado. E realmente estava. A perna ficou mais curta, o
tornozelo ainda não tem a mesma flexibilidade e ai eu pensava que tudo iria
voltar ao normal, quando fui fazer a pericia no INPS, um médico após ver as
radiografias e medir o diâmetro da minha perna, me aposentou por invalidez.
Sai da pericia feliz por ter conseguido me
aposentar e acreditava que poderia trabalhar para completar a renda da familia,
mas ai começou o segundo drama, que permanece até os dias de hoje. Ninguém
queria me contratar por conta do sistema de aposentadoria e eu não podia abrir
mão do recebimento que este beneficio proporciona e com isso, o tempo foi
passando, as economias acabando e acabando. Tive que vender minha casa, mudar
para uma zona rural e continuo numa queda
constante na qualidade de vida.
Por isso que o titulo do meu artigo “Morar no
Paraiso e viver no Inferno”. Não desejo isto para ninguém, mas os amigos
sumiram. Passo dias sem receber uma mensagem, um e-mail, nada! É como se eu não
tivesse existido para eles e olha que fiz muito para muitos. Isto tenho consciência,
mas a vida é isso.
Que nunca aconteçam com vocês!