A MELHOR FASE DA VIDA |
As vezes, quando estamos concentrados em nosso mundo, do nada vem uma
lembrança de um momento vivido à muitos e muitos anos. Isto sucede com todo mundo e sempre com estas
lembranças vem nome de pessoas que já partiram, outras que você nunca mais viu,
lugares que um dia, somente uma vez você passou, mas aquele instante volta como
um filme, onde os personagens estão ali ao seu lado, compartilhando aquele
momento, como se o tempo não tivesse passado.
Um tempo para esquecer. |
Como se houvesse uma maquina no tempo, consigo recordar momentos que
aconteceram quando ainda era um garoto. Por ter bronquite, certa feita, com uma
forte crise de asma e pela carência de dinheiro e medicamento na epoca, minha
mãe, cuidava de mim da maneira que podia, me colocando sob uma toalha sobre uma
bacia com água quente e Vick Vaporub e eu ficava ali procurando o ar que
insistia em faltar. Lembro que certa vez, creio que ainda tinha uns 03 anos, eu
tive uma crise tão forte da bronquite, que além das benzedeiras, que era muito
comum na epoca, veio até um padre na minha casa, acho que era para dar extrema
unção. Não lembro, evidentemente do rosto, mas me recordo daquela figura toda
vestido de preto ao meu lado.
UMA IMAGEM QUE NÃO DÁ PARA ESQUECER |
Aos trancos e barrancos consegui sobreviver e a vida seguiu seu caminho, com a primeira
escola, onde a primeira professora Dona Alzira, me ensinou as primeiras
palavras com a cartilha Caminho Suave. Se estivesse viva, esta professora já
teria mais de 100 anos, mas eu me recordo dela, bem como a professora Rute, que
a sucedeu, como se tivesse as encontrado hoje.
Meu primeiro livro |
A recordação dos anos da infância nos remete a lembranças mágicas, como
a primeira vez que andei de bicicleta. Era uma rua de terra e meu pai foi
equilibrando a bicicleta enquanto eu pedalava e quando dei por mim, meu pai já
tinha deixado a bicicleta aos meus cuidados. Não me recordo de ter caído,mas
deve ter acontecido.
No bairro onde cresci, era todo de terra batida e nos idos de 1960, o
prefeito autorizou o asfaltamento do bairro. Foi uma período fantástico para
nós, pois primeiro os trabalhadores abriam grandes valetas no meio da ruas para
colocação das redes de esgoto e água e era ali que brincávamos. Em alguns lugares
as valetas, que hoje seriam feitas com uma retroescavadeira, na epoca, era na
pá e picareta e chegavam a mais de 02 metros de profundidade. Chegava em casa
todo sujo daquela terra vermelha. Inesquecível!
Era assim as valetas de nossa infância |
Quando tudo estava concluído, começou o serviço de asfalto e ai o
problema era outro, pois a técnica usada na epoca consistia em colocar camadas
de pedra, entremeadas por piche, e na cobertura, era jogada uma camada de
pedras bem pequenos, pedriscos, para dar o acabamento. Aquele pedrisco era o
nosso inimigo. Não havia um moleque da rua que não tinha joelho esfolado pelos
tombos que ela proporcionava por ficar escorregadia.
Quando o asfalto já estava limpo, começamos a brincar com carrinhos de
rolemâ. Era muito bacana descer a avenida do bairro a toda velocidade, sem se
preocupar de teria algum carro no caminho, e era uma festa. De vez em quando um
caia, se esfolava todo, levantava, sacudia a poeira e seguia em frente. Brincávamos o tempo todo, até a noite, quando
as famílias sentavam à porta das casas para conversar, ouvir radio e sempre inventávamos uma nova brincadeira. Consigo lembrar de vários amiguinhos daquela
epoca, mas o tempo, sempre ele, se encarregou de separar todo mundo.
Era uma delicia descer as ladeiras do bairro sem pensar no perigo |
Eram muitas as brincadeiras da epoca. Pião, bolinhas de gude, figurinhas
do filme “Os Dez Mandamentos”, dos jogadores das Copas de 58 e 62. Não entendia
nada, mas como num filme, tenho a imagem dos homens aglomerados por volta meio
dia, defronte ao Bar do Toninho, ouvindo a transmissão do jogo Brasil e Suécia,
quando o Brasil conquistou o primeiro titulo mundial de futebol e o mundo
passou a reverenciar o garoto Pelé. Foi um foguetório enorme e para nós
garotos, tinha 07 anos na epoca, tudo era festa e encontramos uma bomba que não
havia explodido e na inocência, resolvemos abri-la. Eu, o meus amigos Wille e
Tim. Era o que chamávamos de bomba morteiro. Cortamos ela e espalhamos a pólvora na calçada e o Tim, o mais velho do grupo, acendeu um fosforo e jogou
sobre a pólvora. Houve aquele fogo rápido e violento e ele ficou todo queimado
no rosto. Desnecessário dizer que levamos a maior surra de nossas mães.
Que viveu esta epoca não esquece este momento. |
Tudo era brincadeira, até quando corríamos risco de morrer. Na região
que morava, tinha a Lagoa do Turco e dela saia um riozinho, que tinha o nome de
Bernadino. A lagoa não tinha uma grande profundidade, e era tomada por plantas aquáticas. A brincadeira que fazíamos, era mergulhar por baixo destas plantas
até um buraco no meio delas. Respirar e ir para um outro ponto e assim passávamos horas, logico que nossos pais não tinham a menor idéia de onde
estavamos e nem o administrador da fazenda onde ficava a lagoa, pois quando
percebia que a molecada lá estava, ele vinha a galope num cavalo branco e
colocava todo mundo a correr. Os que ficavam pra trás, corriam o risco de
perder as roupas, pois sempre nadávamos pelados e as roupas ficavam na margem
da lagoa
.
Hoje a Lagoa do Turco virou um ponto turístico da cidade |
Grandes momentos e longas caminhadas. Além do riacho do Bernadino, tinha
mais dois rios na região, que íamos nadar. No Bernadino, era muito raso, tinha
muita lama e dava apenas para se molhar ou fazer guerra de bolas de barro. O
outro riacho era a Água Quente, que ficava na base de uma grande descida, mas
era muito ruim nadar naquele local, então íamos para um outro rio, que ficávamos um pouco mais a frente, a Água Fria, e lá havia espaço e água
suficiente para todos se divertirem, mas para voltar para casa era um
sofrimento, pois a mesma ladeira que descíamos na vinda tínhamos que escalar na
volta. Como era difícil. Hoje, de vez em quando, passo por lá e está tudo
asfaltado, e tudo fica fácil de carro, mas quando eramos garotos, vinhamos a
pé, as vezes descalços, sob um sol escaldante, não era fácil.
Os rios da infancai eram assim, rasos, mas limpos |
Hoje a cidade cresceu e onde passei minha infância esta tomada por
casas, mas no idos de 1960, havia uma grande plantação de eucaliptos e uma
floresta de pés de manga. Era o nosso local predileto para brincar. Nos
eucaliptos brincávamos de mocinhos e bandidos e era fácil de se esconder.
Nossa, como era gostoso ficar no meio daquelas arvores. Ainda dá para lembrar o
aroma das folhas do eucalipto.
Eram centenas de pés de mangueiras e foram trocadas por casas populares |
Na plantação dos pés de mangas era uma imensidão
de arvores, que muitos garotos já mais velhos, conseguiam passar de uma arvore
para outra e para outra, mas isto, de repente, tudo veio abaixo. Resolveram
construir no local onde havia as mangueiras uma vila de casas, que acabou
levando o nome de uma novela da epoca, Redenção. O projeto fez tanto sucesso que o ator
principal da trama, Francisco Cuoco, veio participar da entrega das casas.
Simbolo da TV Tupi. As vezes ficavamos horas vendo esta imagem; |
Eramos pobres, andávamos com roupas simples, mas eramos felizes com nossos
pais, com nossos amigos, e quando começou a chegar a televisão, um vizinho que
tinha mais posse, comprou o primeira aparelho de televisão do bairro e ele
deixava a gente assistir o programa do Vigilante Rodoviário na TV Tupi. Era aquele grupo
de moleques sentados no chão da sala assistindo as epopeias da vigilante Carlos
e seu cachorro Lobo. Se quiserem matar a saudades , ou descobrir como era, entre no link abaixo e curta um bom momento de 1962.
Numa próxima publicação, escrevo mais algumas lembranças.