Foto do Prédio do Instituo Hermes Pardini da Rua Aimorés - BH. |
Hoje, o Laboratório Hermes Pardini talvez seja um dos
maiores laboratórios de analises clinicas do mundo, mas nem sempre foi assim. A
historia da criação desta empresa já foi contada em diversas publicações do seu
fundador, o Dr. Hermes Pardini e mostra desde a sua criação uma trajetória de
conquistas, de muitas vitórias e de grande coragem e poder de investimento do
seu Presidente.
O que vou contar aqui refere-se ao período de 1997 a 2006, quando
realmente o gigante acordou e caminhou para ser o que é hoje. Este artigo é uma homenagem que presto a esta
grande empresa, e pretendo relatar as dificuldades e desafios que tivemos neste período, que com todo respeito aos
demais, tive grande participação nesta historia, embora hoje, esteja
completamente esquecido, mas vamos à ela:
Eu era representante do Laboratório LID, da cidade de São Paulo (hoje
esta empresa não existe mais) e estava fazendo um trabalho pioneiro de criar
pontos de coletas de amostras em diversas localidades. Tinha criado uma frente
de trabalho no Rio de Janeiro, no interior de São Paulo, Cuiabá, Fortaleza e
Recife. Meu trabalho consistia em visitar os laboratórios destas localidades,
fazer contratos de prestação de serviços e treinar uma equipe para dar
sequencia aos trabalhos de prospecção de
novos clientes. Este serviço tornou o LID um laboratório conhecido em todo o
Brasil, pois, além do trabalho de campo, passamos a participar com sucesso de
Congressos da SBAC e da SBPC. Os concorrentes da epoca eram a Criesp,
Endocenter e SAE. O Hermes Pardini tinha uma clientela restrita à Minas Gerais,
mas mesmo assim, sua produção, embora boa para o padrão da empresa na epoca, era ainda
pequena e a Diretoria queria mais. Queria crescer e ser o líder do
mercado.
Certa feita, em 1995 houve a realização de um congresso na cidade de Goiânia e na oportunidade fiz amizade com duas representantes do Hermes
Pardini, e através dela, acabei
conhecendo meses depois o Dr. Hermes Pardini, num Congresso de Endocrinologia,
realizado na cidade de Salvador. Neste evento seu filho, Victor Pardini estava
apresentando uma tese de doutorado ou algo similar, que o tempo insiste em não
permitir recordar.
Num momento de calma do congresso, o Dr. Hermes Pardini veio até o stand
do LID e me convidou para trabalhar no Instituto Hermes Pardini, onde eu
entraria com o cargo de gerente nacional e teria como missão principal montar
uma equipe para desenvolver o serviço de laboratório de apoio em todo o Brasil.
Acertamos os detalhes e iniciei meus trabalhos em março de 1997.
O Departamento de Apoio ao
Laboratório funcionava na Rua Aymorés num pequeno salão, na parte terreá, quase
um subsolo, inclusive era utilizado um espaço debaixo de uma escada, onde ficou
instalada a minha primeira mesa. Ali, na realidade era feita a triagem dos
materiais recebidos e os exames eram feitos nos setores, que ficavam nos
andares superiores e no predio novo construído na frente.
A estrutura era muito simples, os controles, todos com fichas, eram
muito confusos e vez por outra haviam problemas, com quebras de tubos com amostras,
marcação errada e outros problemas que acontecem na rotina de um laboratório.
De verdade, naquele momento, o laboratório já estava operando no limite da sua
capacidade produtiva, pois além dos exames que recebia das cidades de Minas,
tinha a rotina de porta, que era muito grande.
Bem, eu acabara de ser contratado e a gerente com a qual eu tinha
amizade e pretendia trabalhar, foi demitida na semana que eu cheguei. Fiquei
sem norte. Não conhecia ninguém e ninguém me conhecia, com exceção do Dr.
Hermes Pardini e ele nem sempre tinha tempo para me atender e fiquei uns dias
perdido literalmente. Eu queria fazer, todos queriam que algo fosse feito, mas
não havia uma determinação objetiva para fazer.
Conversei com Dr. Hermes e resolvi começar o trabalho de expansão pelo
Rio de Janeiro. Lá já havia uma pessoa que já fazia coleta em alguns
laboratórios, tudo de forma bem amadora, mas era o que tinha. Chegando ao Rio
de Janeiro, conheci o representante de nome Antonio, um português muito
simpatico e começamos visitar dezenas de laboratórios e em pouco tempo, cerca
de 02 meses depois, tinhamos dobrado a produção da coleta de amostras da cidade
do Rio de Janeiro. Dado ao grande numero de laboratórios daquela metropole e do
seu tamanho convenci a empresa que seria necessário contratar mais uma pessoa
para aumentar o campo de atuação. Fui autorizado e contratei uma representante
do Endocenter, Ana Lucia, que já tinha uma pequena carteira de clientes. Houve
um crescimento enorme. Passamos a coletar amostras em mais de 30 laboratórios e
isto começou a causar muita confusão na triagem, pois eles não estavam estruturados para suportar o
aumento da produção, o mesmo acontecia com os setores técnicos, que da noite
para o dia, passaram a ter a rotina aumentada.
Me recordo de um bioquímico chamado Hervercio, que fazia milagres para
conseguir triar e encaminhar todas as amostras para os setores e de um
supervisor administrativo, chamado Avany, que cuidava da rotina de Minas Gerais.
Implantado o Rio de janeiro, concentrei meus esforços na região do Sul de Minas
e também uma parte do interior de São Paulo, obtendo excelentes resultados.
Nesta altura, a rotina que inicialmente era de 400 a 500 ´pacientes diariamente
vindo de outros laboratórios, já estava na casa de 4000 pacientes dia. O caos
estava estabelecido.
Houve nesta epoca o Congresso Brasileiro da SBAC em Belo Horizonte e
conversando com o Dr. Hermes, resolvemos inovar e oferecer aos congressistas
café, pão de queijo, tudo servido a vontade, o dia todo, durante todo o
congresso. Com isso, nosso stand ficou lotado o tempo todo e pude fazer dezenas
de contratos com novos clientes de diversas localidades e a grande maioria,
clientes de nossos concorrentes, que passaram a enviar suas amostras via
Correios, o que aumentou significativamente a produção e os problemas.
Em paralelo ao crescimento das vendas, Dr. Hermes começou a investir
pesado na melhoria do laboratório, com novos equipamentos e desenvolvimento de
controles, que permitiram suportar o aumento da rotina, mas ainda havia muitos
problemas com controle de amostras e cada problema criado era um problema que o
comercial tinha que contornar para não perder o cliente. Foram contratadas e
treinadas diversas telefonistas, que davam apoio aos clientes, resolvendo
problemas, inserindo ou cancelando exames, quando solicitado pelos laboratórios
e assim o tempo foi passando e um ano desde que havia iniciado, eu tinha aberto
um escritório no Rio de Janeiro, com uma secretária e também na cidade de São
Paulo. A produção já chegava a quase 8.000 pacientes por dia.
Com o passar do tempo, com a empresa mais organizada, foram inseridos
novos produtos como o teste de paternidade por DNA, onde entrou em cena, ainda novinho, o Dr. Alessandro Ferreira.
Fizemos inúmeras viagens juntos por todo o Brasil, onde nas visitas ele fazia a
apresentação técnica do exame. Foram inúmeras palestras e em pouco tempo de
trabalho, o Dr. Victor que esperava receber uns 50 exames por mês, estava
recebendo mais de 200. A partir daí o Departamento de Genética lançou novos
exames e minhas viagens com o Dr. Alessandro permaneceram por alguns anos.
Pessoa muito humilde e extremamente inteligente, hoje é merecedor do cargo que
ocupa e com certeza, chegara mais longe.
A CAL – Central de Apoio ao Laboratórios, era uma estrutura criada para
dar apoio à logística, aos clientes e a minha equipe de campo e esta foi
brilhantemente dirigida pelo Jorge Goston, meu parceiro de luta, que passou a
ser o meu interlocutor junto a diretoria da empresa e era com ele que eu conversava diariamente,
traçava planos, fazia negociações especiais. Foi uma grande parceria que durou
quase 08 anos. E foi. com certeza, o período mais produtivo do Laboratório
Hermes Pardini. Já tínhamos cerca de 9000 clientes cadastrados, com uma média
mensal de 5000 laboratórios enviando diariamente, chegando a marca de 800.000 pacientes
e mais de 1.600.000 exames mensais.
Estávamos em franco crescimento e já nesta epoca, o Dr. Carlos Olney,
Dr. Ariovaldo Mendonça, começaram a planejar a criação da nova unidade, hoje já
é realidade e em paralelo ao crescimento das vendas do apoio, pois já tínhamos representantes em todos os estados do Brasil e nas principais cidades
brasileiras, a estrutura do Laboratório Hermes Pardini também expandiu em
postos de coletas. Foram criados estruturas para atendimento ao publico nos
principais bairros de Belo Horizonte e Contagem. A equipe que eu gerenciava,
tinha 06 supervisores, 38 vendedores, 30 motoqueiros e mais 20 secretárias. Nos escritórios do Rio de Janeiro e de São Paulo foi montado uma Central de
Triagem, onde as amostras daquelas cidades eram cadastradas, triadas e enviadas
para Belo Horizonte já pronta para serem encaminhadas aos setores. Nestas duas
unidades foram contratadas entre técnicos, digitadores e bioquímicos, 30
profissionais.
Com a saída do Jorge Goston, a empresa me transferiu para Belo
Horizonte, mas não foi o melhor que poderia acontecer para mim e para a
empresa. Eu havia trabalhado até 08 anos viajando, ia pouco a Belo Horizonte e
poucos me conheciam pessoalmente, mas por ter um cargo comissionado, meu
salario era muito alto comparado com os outros gerentes e isso, quando passei a
trabalhar em Belo Horizonte, começou a criar muitas intrigas e inimizades. Eu
ainda tinha que fazer viagens constantes e em Belo Horizonte acabei ficando responsável por administrar a logística e ai começou tudo a desandar.
Tinhamos contratado uma empresa de transporte, para a qual terceirizamos
os serviços de motoqueiros e transportes das bases para Belo Horizonte. Este
processo envolvia dois setores distintos: terrestres, onde entrava os
motoqueiros, motoristas, carros, gasolina, pedágios e outro que envolvia a
parte aérea. Eu cuidava da parte terrestre e o Dr. Victor tratava diretamente
com o proprietário da transportadora, o preço dos fretes aéreos.
Tudo caminhou bem por um bom tempo, até que o inesperado aconteceu: A
VASP, que transportava todas as cargas aereas faliu e a única empresa
autorizada a transportar material contaminante, com embalagens especiais, era a
TAM. Só que para utilizar este serviço a TAM cobrava quase 05 vezes o valor da
VASP e ai o caldo entornou. Com este aumento de custo no transporte, o dono da
transportadora me procurou e disse que teria que haver um reajuste bem
consideravel no contrato vigente, com o que o Dr. Victor não concordou. Este
imbrolio durou 03 meses, até que um determinado dia, recebemos uma notificação
judicial informando que a partir do dia seguinte a empresa não mais faria
coleta das amostras. O caos estava instalado, pois colhiamos cerca de 28.000
pacientes dia e se a coleta não fosse realizada, os problemas seriam imensos,
pois não tinhamos nenhum plano
alternativo, pois tantos os motoqueiros que faziam coletas nas cidades e os
motoristas que faziam coletas nas cidades circunvizinhas eram funconários da
transportadora e a única solução encontrada, que acabou custando o meu emprego
meses depois foi conversar com o Dr. Hermes e relatar o que estava acontecendo.
O Dr. Hermes entendeu o que estava ocorrendo imediatamente ligou para o
transportador e acertou fazer o pagamento dos valores por ele cobrado. A
produção continuou normal, mas minha amizade com o Dr. Victor depois daquele
episódio, nunca mais foi a mesma. Ele me culpava por ter influenciado o Dr.
Hermes fazer o acordo com a transportadora, o que realmente nunca aconteceu.
Quando este episódio aconteceu, o Dr. Victor estava fora do Brasil e na
volta, como não aceitava pagar o reajuste, convenceu o Dr. Hermes a rescindir o
contrato com a transportadora e a contratação de uma nova empresa, que
permanece até hoje
.
Depois deste acontecimento, minha relação com a diretoria ficou muito difícil, e para completar o quadro negativo que havia sido instalado, um dos
supervisores que trabalhava sob meu comando pediu demissão e foi trabalhar no
Laboratório Álvaro, no Estado da Bahia, onde tínhamos uma grande clientela, a
grande maioria feita pelo supervisor que agora era do laboratório concorrente. O
Dr. Victor pediu que eu fosse para Salvador para organizar o escritório e
montar uma equipe para combater o concorrente. Trabalhei por lá, montei uma estrutura, isto num prazo de 02 semanas,
mas neste ínterim, por mais que fizéssemos, perdemos alguns clientes, o que
deixou a Diretoria irritada com a situação.
Numa sexta feira, , recebo uma ligação do Dr. Hermes, para eu voltar
para Belo Horizonte e que eu iria trabalhar em São Paulo. Foi a ultima vez que
conversei com ele. Ele estava diferente ao telefone, pois sempre nossas
conversas eram muito agradáveis e cheias de otimismo. Cheguei a Belo Horizonte
e no sábado tentei conversar com o Carlos Olney, com o Dr. Roberto, mas todos
se esquivavam. Ninguem sabia de nada e na terça feira, 02 de maio, cheguei no
meu escritório, notei que havia algo diferente no ar. Nem o Dr. Ariovaldo, com
o qual conversava sempre, estava disperso e desconversava quando perguntava o
que estava acontecendo. Reuni a minha equipe interna e comentei a eles o que
estava acontecendo e disse que acreditava que seria demitido, mas que
desconhecia o motivo.
Foi tiro e queda. Por volta de 17 horas, recebi um telefonema para me
apresentar ao RH e lá, sem dar nenhuma satisfação ou apresentar motivos, fui
demitido. Tinha encerrado meu ciclo no Instituto Hermes Pardini. Foram 10 anos
dedicação total, onde passei meses fora de minha casa, viajei milhares de
quilometros, perdi, infelizmente, por morte, 04 vendedores e 01 motoqueiro, mas
consegui participar ativamente no na
montagem e criação do maior laboratório de analises clinicas do Brasil. Hoje
não sou mais lembrado, mas o mérito de ter feito isto me pertence e ninguém vai
tirar de mim. Claro, que não fiz sozinho, mas consegui criar uma maquina de
vendas que nunca mais será igualada. Eramos um grupo que vivianos Pardini.
Tudo, apesar de todas as dificuldades, era feito com muito amor e carinho e isso
nunca foi valorizado, tanto que depois da minha saída, a equipe foi totalmente
desmontada e substituída por outros funcionários. Eu, por ter sofrido um
acidente, deixei o mercado, mas minha ex-equipe, foram para as concorrências e hoje fazem parte
das criaturas brigando com o criador.
Aos que hoje lá estão, já passados 12 anos da minha saída, fica o meu
fraterno abraço e que você continuem lutando para que esta grande empresa nunca
perca a sua pujança e seu lugar de destaque que conseguimos fazer entre 1997 a
2007.
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