terça-feira, 11 de agosto de 2020

AVENTURA DE VIAGEM - SALVO PELO ANJO DA GUARDA


Morro do Cristo em Araxá - Uma das vantagens de viajar

Gosto de contar algumas historias do meu tempo de vendedor e das peripécias que acontecem no dia a dia da vida do profissional, as vezes coisas engraças outras tristes, mas este é o cotidiano para quem escolhe esta profissão.

 Pelos idos de 1994, eu trabalhava para a empresa Wama, da cidade de São Carlos, na época ainda era uma empresa pequena, ao contrário de hoje, que uma firma pujante e respeitada internacionalmente como fabricante de reagentes e testes rápidos para diagnósticos para laboratório de analises clinica.

 


O que vou descrever abaixo aconteceu comigo, numa viagem que fiz para participar de uma concorrência publica na cidade de Fortaleza. É uma longa viagem, em torno de 3000 quilômetros e naquele tempo, os caminhos eram considerados de bons a sofríveis.

 Esta aventura começa em São Carlos, quando uma tarde no escritório da empresa, lendo o Diário Oficial, notei que haveria uma concorrência publica em Fortaleza para compra de equipamentos de analises clinicas que a Wama representava na época e era uma ótima oportunidade para nós e resolvemos participar.

 Participar de uma concorrência publica, para quem não conhece é a venda mais tranquila e a mais complicada que existe. Você não tem que dialogar com ninguém, apresentar vantagens comerciais ou técnicas, você tem apenas que estar apto para participar do embate e para isso são exigidos muitos documentos e declarações. Você tem que apresentar certificados de  pagamentos de INPS, FGTS, PIS, Confins, Contrato social, numero de funcionários da empresa, currículos dos funcionários responsáveis por setor e montar um planilha técnica do produto e outra planilha de preço. De verdade, para preparar toda esta documentação, dependendo do que é solicitado leva em média 03 dias bem trabalhado para estar tudo em  ordem.



Ao chegar no local da concorrência, o pregoeiro recebe as propostas das empresas, todas em 02 envelopes lacrados, num constando os documentos e no outro a proposta de preço. Aberto o pregão, todos os participantes começam a conferir a documentação do concorrente e se estiver faltando um documento, você é eliminado sumariamente. Quando tudo esta conferido, as empresas consideradas aptas começam a participar de um leilão, onde a ganhadora será aquela que oferecer o melhor preço. Simples assim.

Bem, esta introdução é apenas para dar inicio a um dos momentos mais tensos e que senti mais medo em toda minha vida de viajante.  Quando tudo estava preparado pela contabilidade, acertei os últimos detalhes com a diretoria da empresa e sai para a viagem. Ainda faltavam 15 dias para a data de abertura dos envelopes, mas por cautela da longa viagem e por ter em mente visitar algumas empresas na ida da viagem e também no volta, sai para a viagem com bastante antecedência. Outro objetivo que tinha em mente era chegar logo em Fortaleza, onde morava um amigo de longa data, Manoel Santander e ficar uns dias em sua casa e aproveitar o tempo para visitar todos os laboratórios de Fortaleza.  Tudo acertado me adiantaram um pouco de dinheiro e a promessa de depositar em minha conta valores, na medida em que eu fosse precisando para as despesas da viagem como gasolina, hotel e refeições.

Igreja de Bela Vista de Minas

No primeiro dia da viagem, percorri um trecho de 800 quilômetros entre São Carlos e a cidade de João Monlevade, pra que não conhece, fica uns 80 quilômetros depois de Belo Horizonte. A viagem foi tranquila, embora já chegando a João Monlevade, tive que enfrentar, sob muita chuva, um longo trecho de estrada muito sinuosa, mas cheguei sem nenhum problema no hotel.  Para o dia seguinte havia planejado chegar à Bahia, na cidade de Vitoria da Conquista e dependendo do estado da estrada e do horário poderia estender a viagem até a cidade de Jequié.

Tomei um café reforçado e comecei minha viagem em direção a Vitoria da Conquista. A primeira cidade, saindo de João Monlevade, pela Rodovia MG 381 é Bela Vista de Minas, um lugar pequeno, localizado no pé de um grande morro. Bem, eu estava viajando tranquilo, embora com chuva, subindo uma grande ladeira e bem no alto desta ladeira, a pista tem uma curva fechada, que de um lado tem as paredes do morro e do outro um precipício. Não sei como esta aquela estrada hoje, mas naquele dia que eu passei por lá, não havia nenhuma proteção.  A curva, não era difícil de ser feita, creio que com o tempo seco, poderia ser contornada, sem dificuldades com velocidade de 80 km por hora, mas no momento que eu estava passando por ela meu carro derrapou no óleo deixado pelos caminhões e o carro saiu girando em direção ao abismo e como ainda não era minha hora, o carro caiu com a roda esquerda traseira num buraco e parou.


Foi nesta curva que quase me envolvo num acidente fatal

Embora tenha parado, o carro ficou atravessado na pista contrária e eu estava desesperado, querendo tirar o carro daquela posição e nem estava imaginando o perigo que havia corrido. Só queria tirar o carro daquele local, pois tinha medo que algum outro veiculo viesse de encontro. Com muito esforço, consegui endireitar um pouco o carro, deixando-o alinhado com a pista contrária, mas já não conseguia rodar mais, pois o eixo traseiro havia quebrado com a pancada. Demorou uns 30 minutos para chegar um carro guincho da cidade de Bela Vista de Minas. Com meu carro guinchado, começamos a descer em direção à cidade e ainda não havíamos percorrido nem 200 metros, um carro derrapa na mesma curva e passam reto em direção ao abismo. Se eu tivesse ficado ali mais uns minutos, este veiculo iria se chocar diretamente  com o meu e ai o resultado poderia ter sido outro. Neste acidente, no carro que caiu no abismo haviam 03 pessoas todas, e infelizmente todas morreram.

Confesso que tive muito medo e fiquei apavorado de pensar que poderia ter sido eu que tivesse caído na lateral do morro. Tive  uma crise de nervo, de medo, uma coisa muito estranha. Nunca havia sentido nada deste jeito. A impressão é que havia alguma coisa muito forte ao meu lado, me protegendo. Meu anjo da guarda me afastou da morte aquele dia.

Depois deste dia, tenho certeza que Anjo da Guarda existe

Fiquei parado em Bela Vista de Minas por 04 dias esperando chegar um novo eixo e neste tempo acompanhei a angustia das famílias das pessoas que haviam morrido. Eram todos moradores da cidade e a consternação era geral. Fiquei sabendo depois que já tinham acontecido muitos acidentes naquela curva, alguns com vitimas fatais.                                

Fortaleza - Todo mundo merece conhecer.

Quando o carro ficou pronto, segui viagem para Fortaleza e o resto do caminho foi tranquilo, mas posso dizer que a morte me pediu carona e eu quase parei para ela montar. Quanto a concorrência, perdemos para uma empresa local. Fazem tantos anos que este fato ocorreu, mas ele permanece vivo em minha vida até os dias de hoje. Ao longo da minha vida como vendedor, supervisor e gerente de vendas, viajei pelo Brasil por mais de 30 anos, enfrentei muitas situações adversas, carro quebrado, passar a noite esperando socorro para numa estrada, mas nada foi tão marcante como este dia. Não era ainda minha vez.

6 comentários:

  1. Que história meu amigo!
    Nesse dia o seu anjo da guarda, protetor estava com você.
    Continue escrevendo, suas histórias são maravilhosa!

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  2. 🙏🙏🙏 Seu Anjo da Guarda realmente tê protejeu e você foi abençoado por Deus. Lembra sempre de agradecer à Deus, o dom da Vida. Abraços.

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  3. Qdo somos preparados para retornar e cumprir uma missão, nos é dado um guardião que nos acompanhará até o final desta vida, bem próximo, ou mais distante, dependendo de suas ações, seu anjo da guarda está bem pertinho de vc, te amo se cuida

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  4. Que aventura perigosa, Luis! Que bom que nao aconteceu nada de mal com voce!

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  5. Parabéns pelo texto, senti a sua angústia enquanto lia, consegui cativar minha imaginação.

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  6. Quando vejo essas histórias, sinto sua saudade da época, sinti um medo! Eu amo vc

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