Capitulo
13 – A Campanha de 0,01 centavo
Com a morte do Agno, fiz minha
primeira campanha do GBT sem um faixa A já experiente e como já escrevi, quem
se destacou foi a A. Guerreiro, mas a equipe estava reduzida pois havia saído o
Sergio, que não suportou a ideia de voar e para substituir, a empresa completou
minha equipe com dois vendedores, que vieram posteriormente me dar muita dor de
cabeça. Um novato, chamado Atanosov e uma veterana que fora recontratada e
entrou na minha equipe com status de faixa A, Eliane. Era uma vendedora
simpática, parecia ser muito experiente e cheguei a acreditar que seria uma
solução para melhorar o desempenho da equipe e ela trabalhou no final da
campanha do GBT, sem grandes resultados.
O próximo trabalho era fazer
novamente a Lista da Ceterp, agora eu na condição de supervisor. Além da minha equipe,
também estava a equipe do Meneghetti, Silvio, Alexandre e a supervisão geral
era do Manoel, que estava em casa, pois morava em Ribeirão Preto. Quando chegamos a cidade, ficamos hospedados no Hotel Bradesco, hoje já não existe mais e o prédio é ocupado por outro tipo de atividade. Ele ficava localizado bem
próximo do escritório da LTN, a 50 metros do Calçadão e 100 metros do famoso
Bar Pinguim. O salão de atendimento era grande, acarpetado, um bom lugar para
trabalhar. Nossas mesas ficavam espalhadas pelo salão e na frente delas a mesa
do Manoel.
Hotel Bradesco - Para matar a saudade. |
A minha, ficava no fundo da
sala, uns 20 metros afastada da do Manoel e agradecia por isso, pois ainda não
me sentia seguro com ele, embora o Manoel já tivesse dado prova de ter muita
confiança na minha pessoa quando me indicou para o cargo de supervisor, mas
sempre prevalecia a máxima: “chefe é chefe, manda quem pode e obedece quem tem
juízo”.
A rotina diária era a mesma de
outros lugares. Atendimento dos vendedores, checagem de contratos e assim os
dias iam passando. Diversas vezes, a noite, inclusive noites de sábado, eu e
Meneghetti ficávamos jogando xadrez no apartamento. Nunca chegamos a conclusão
que era o melhor. Ganhei, perdi, mas guardo este momento com muito carinho.
Voltando a campanha, a Lista
da Ceterp daquele ano tinha uma novidade: todos os telefones que quisessem ser
inseridos de outra forma, além da contratada junto a Ceterp, teriam que fazer
um contrato, inclusive residencial, para que a próxima edição saísse com as
alterações que os clientes queriam. Cada contrato tinha o valor único de 0,01
centavo.
Chovia contrato no atendimento
a noite. Em média 100 contratos diários por equipe. Tinha vendedor que sentava
numa praça e ficava atendendo os interessados ali mesmo o dia todo. Era um
festival de contratos sem valor e no meio deles, os contratos de renda e novos,
que geravam divisas para a empresa. Foi uma campanha longa, e era impossível
entrar improdutivo. O vendedor podia não realizar nenhuma venda, mas não trazer
contrato de R$ 0,01 era impossível, a não ser que não estivesse trabalhando.
Bem, nesta fase, foi que
entrou em cena o Atanosov e a Eliane. Um dia entraram improdutivos, contaram
uma história qualquer e nos dias seguintes faziam o suficiente para provar que
estavam trabalhando, mas sem nenhuma produtividade efetiva. Chegavam no
atendimento a tarde com 01 contrato de R$ 0,01. Como a situação se repetia,
tive que sair do meu canto e enfrentar meu querido supervisor chefe.
Na epoca usava bigode, que escondia esta cara alegre e de bom moço |
- Manoel, a situação da Eliane
e do Atanosov é essa, não estão produzindo e fiquei sabendo que estão saindo e
ficando o dia todo juntos, indo a motel e está prejudicando a equipe. Quero que
você me autorize a demitir os dois.
- Tudo bem, respondeu, mas
aproveite também e traga sua carta de demissão, pois já que você está acabando
com sua equipe, não vai ter ninguém para cuidar.
- Mas eu não quero sair, disse
a ele.
- Então aprenda a dirigir seus
vendedores, respondeu.
Voltei para minha mesa quase
chorando, mas entendi a mensagem e a noite, depois do atendimento, chamei os
dois vendedores para conversar e tivemos uma reunião bem amarga, mas que trouxe
resultados. Depois daquele dia, eles continuaram a se encontrar, mas a produção
dos dois foi normal até o final da campanha.
Mas estes contratos de R$ 0,01
davam muito trabalho para a supervisão, pois tínhamos que fazer com eles o
mesmo procedimento que fazíamos com os contratos de novos e rendas, ou seja,
conferir o preenchimento, fazer a checagem do que o vendedor havia feito, etc.,
mas era muito trabalho e passávamos o dia inteiro grudados no telefone.
- Bom dia! Quem fala é o sr.
José das Dores?
- Ele não está, respondia. Só
a noite. Quem é?
- É da Lista da Ceterp e ele
autorizou uma inserção com o nome de José Funileiro e precisamos confirmar,
esclarecia
- Isto é com ele, mas o
telefone não dele e eu não quero nada. Muitas vezes esta era a resposta que
ouvíamos e tínhamos que cancelar o contrato.
Isto se repetia o dia todo,
por semanas a fio. Lembro uma ocasião que a Ângela trouxe somente num dia mais
de 60 contratos. Jogou aquela pilha na mesa e atendendo o resto da equipe,
naquele dia especifico entrou mais de 150 contratos. Eu, até por falta de
experiência, ficava trabalhando na conferência dos contratos e das planilhas de
atribuição até por volta de 22 horas, enquanto meus amigos supervisores, já por
volta de 19 horas tinham encerrado suas tarefas.
Aprendi muito nesta época,
apesar das gozações e das broncas, sai de Ribeirão Preto fortalecido. Estava
pronto para enfrentar maiores desafios. Uma nova equipe seria formada e com
esta equipe tive grandes alegrias.
Confesso que não recordo de
todos, mas lembro que nesta equipe tinha o R. Souza, a Pinnati, Aílton,
Valtinho, Saime, Kalil, Moya, Bertazoni e Granconato. Me perdoem se esqueci
alguém ou troquei a época da equipe. Sei que todos trabalharam comigo, mas esta
foi a segunda e também tive outras.
O carro do Valtinho era um Maverick neste estilo |
O GBT era o desafio e o
Valtinho vinha como o vendedor mais experiente da equipe, o famoso "Kid Vigarista",
com seu famoso Maverick. Esta figurinha, um homem pequeno no tamanho, mas
grande na astúcia e muito articulado.
Ele se divertia e divertia
todo mundo. Era considerando faixa A, portanto cabeça de equipe e na formação
ele foi escalado para trabalhar comigo numa campanha do GBT e íamos trabalhar
no nordeste e norte do Brasil, mas quem disse que este homem entrava em avião.
Nem amarrado! Estava criado um problema, pois a campanha ia começar, ele era o
faixa A da equipe e tinha medo de viajar de avião.
Conversa aqui, conversa ali e
nada – de avião eu não vou – dizia ele. Era um problema, pois estávamos sem
tempo, não dava para trocar e aí conversando com o Manoel e com o Sidney,
fizemos um plano que o Valtinho poderia viajar de carro e ele faria todas as
cidades do interior de Minas, Bahia, e mais alguns lugares. Saiu de viagem com um pacote
enorme de fichas e viajou sozinho por mais de 02 meses. A produção não foi das
melhores, mas as histórias que ele contava sobre a viagem deixou muita gente
morrendo de rir.
Era um bom sujeito. Nunca mais o vi depois que sai da LTN e um
dia me disseram que ele havia morrido, mas nunca pude comprovar. Espero que
esta notícia não seja verdade. Para concluir, o Valtinho, tinha uma brincadeira
que fazia sempre, era quando recebia o pagamento, ele amarrava uma linha num
pacote de dinheiro e saia correndo pelo salão de atendimento e gritava: - eu
corri atrás de você. Agora você corre atrás de mim e todos riam.
Aparecido Ribeiro |
Tem várias histórias sobre ele,
como uma contada pelo Ribeiro, que certa ocasião, trabalhando na cidade de
Assis, foi atribuído com uma ficha de uma concessionária Mercedes Benz e lá
chegando foi atendido pelo contador da empresa e dentro da técnica mais
refinada de um bom listeiro, se apresentou, disse o que estava fazendo e depois
ficou mudo e saiu calado com o contrato assinado. Quis o destino que esta mesma
empresa fosse atribuída a ele no ano seguinte e lá foi o Ribeiro encontrar com
o mesmo contador e a mesma técnica e novamente o contrato foi renovado.
No ano seguinte, esta ficha já
estava na condição de Especial e foi designada ao Valtinho resolver. Como era
praxe entre os vendedores, o Valtinho conversou com o Ribeiro sobre como agir
no cliente e lá foi o nosso herói em busca da consagração, pois resolvendo
aquela ficha ele ganharia um bom dinheiro e seu percentual financeiro ficaria
nas alturas. Mas ninguém dorme eternamente, um dia acorda e neste dia o
contador já estava acordado e recebeu o Valtinho com duas pedras na mão (forma
de expressão) e disse alhos e bugalhos e não teve jeito. O Valtinho teve que
fazer o cancelamento da ficha e advinha quem pagou o pato: o Ribeiro, que foi vítima
da ira do Valtinho, mas tudo isso era rotina.
Grande Kaká - Este merece um capitulo exclusivo |
Mas este personagem era tão polêmico
nos seus 1,55m creio, que estava sempre aprontando das suas e nosso amigo Kaká,
conta que certa ocasião, na cidade de Barretos ele estava na porta do Hotel
Shelton, que fica em frete a praça central da cidade, quando de repente ele vê
um cara correndo como um doido, com uma pasta na mão, vindo em direção ao hotel
e entrou por afora e dispensou o uso do elevador e subiu correndo as escadas.
Era o Valtinho o atleta. Ele estava fugindo de um senhor com um pedaço de pau
na mão, que adentrou no hotel e queria
pegar o rapaz da LTN. O pessoal da recepção, assustados com a gritaria e
tentando acalmar o senhor, pediu com urgência a presença de um supervisor para
resolver aquele impasse, o que depois de muito bate-boca, a situação ficou
controlada, mas no dia seguinte, no jornal da cidade saiu uma notícia na
primeira página que uma quadrilha estava agindo na cidade lesando os
comerciantes com vendas de anúncios na lista telefônica. Foi a maior confusão.
Foi necessário interromper a campanha até a chegada do diretor da empresa, o
Sr. Josias, que teve grandes dificuldades em colocar as coisas no lugar. O
causador de tudo isto tinha sido o Valtinho e o senhor que o queria agredir era
o dono de um cartório da cidade. O motivo era simples: o Valtinho tentou dar uma
“tranca” e o homem percebeu a falcatrua.
Voltando a campanha, resolvido o impasse do
Valtinho, saímos para viagem e nossa primeira parada foi Ilhéus. Ficamos
hospedados no centro da cidade ao lado do famoso Bar Vesúvio, onde Jorge Amado
imortalizou pelo romance entre Nacib e Gabriela. Ilhéus Praia Hotel era o nosso
quartel general e a região que iriamos atender era muito grande, pois além de
Ilhéus, que é uma cidade relativamente pequena, tinha Itabuna, Vitoria da
Conquista, Jequié e outras dezenas de cidades menores, que exigiram a locação
de vários veículos e foram percorridos alguns milhares de quilômetros. Eram
grandes distancias a serem cobertas e os vendedores tinham que sair bem cedo e chegarem
sempre bem fora do atendimento normal.
O trabalho foi se
desenvolvendo e a equipe vinha mantendo os percentuais normais e quando
concluímos o serviço, nosso destino era Salvador. O voo de apenas 01 horas,
estava marcado para sair num sábado por volta de 15 horas. O procedimento
padrão é pegar e devolver o carro no aeroporto e foi o que fizemos. Fechamos a conta do hotel e
cada vendedor colocou suas bagagens em seus respectivos carros e fomos em
comboio para o aeroporto.
Lembranças para quem não teve oportunidade de conhecer. |
Eu, na condição de supervisor, não tinha direito a
locar um automóvel e peguei uma carona no carro da Pinnati, que era um Voyage.
Ela tinha trabalhado com este carro a semana toda, viajado no mínimo uns 3000
quilômetros. Saímos do hotel, paramos num posto de gasolina para abastecer,
pois tinha que devolver o veículo com o tanque cheio. Quando chegamos no
estacionamento da locadora, a Pinnati, fez a manobra de estacionar o carro
corretamente e bateu com os pneus na guia, para que o carro ficasse bem
estacionado. Neste momento, aconteceu o imponderável. O volante do carro caiu
literalmente no seu colo. Foi o maior susto. Pensar que havia trabalhado a
semana toda com o carro e do nada o volante sai, era imperdoável. Lembro da
cena como fosse hoje, a Pinnati desceu do carro com o volante na mão e falou
alhos e bugalhos para o pessoal da locadora. Desta vez a sorte esteve do lado
dela, pois considerando o que ela havia trabalhado toda a semana e pelas
estradas que andou, com várias serras, se o defeito tivesse acontecido antes,
certamente ela teria sofrido um grave acidente.
Nosso destino agora era a
cidade de Salvador e lá muitas coisas aconteceram, mas é para o próximo
capitulo.