terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Capitulo 13 – A Campanha de 0,01 centavo



Com a morte do Agno, fiz minha primeira campanha do GBT sem um faixa A já experiente e como já escrevi, quem se destacou foi a A. Guerreiro, mas a equipe estava reduzida pois havia saído o Sergio, que não suportou a ideia de voar e para substituir, a empresa completou minha equipe com dois vendedores, que vieram posteriormente me dar muita dor de cabeça. Um novato, chamado Atanosov e uma veterana que fora recontratada e entrou na minha equipe com status de faixa A, Eliane. Era uma vendedora simpática, parecia ser muito experiente e cheguei a acreditar que seria uma solução para melhorar o desempenho da equipe e ela trabalhou no final da campanha do GBT, sem grandes resultados.

O próximo trabalho era fazer novamente a Lista da Ceterp, agora eu na condição de supervisor. Além da minha equipe, também estava a equipe do Meneghetti, Silvio, Alexandre e a supervisão geral era do Manoel, que estava em casa, pois morava em Ribeirão Preto. Quando chegamos a cidade, ficamos hospedados no Hotel Bradesco, hoje já não existe mais e o prédio é ocupado por outro tipo de atividade. Ele ficava localizado bem próximo do escritório da LTN, a 50 metros do Calçadão e 100 metros do famoso Bar Pinguim. O salão de atendimento era grande, acarpetado, um bom lugar para trabalhar. Nossas mesas ficavam espalhadas pelo salão e na frente delas a mesa do Manoel.

Hotel Bradesco - Para matar a saudade.
A minha, ficava no fundo da sala, uns 20 metros afastada da do Manoel e agradecia por isso, pois ainda não me sentia seguro com ele, embora o Manoel já tivesse dado prova de ter muita confiança na minha pessoa quando me indicou para o cargo de supervisor, mas sempre prevalecia a máxima: “chefe é chefe, manda quem pode e obedece quem tem juízo”.

A rotina diária era a mesma de outros lugares. Atendimento dos vendedores, checagem de contratos e assim os dias iam passando. Diversas vezes, a noite, inclusive noites de sábado, eu e Meneghetti ficávamos jogando xadrez no apartamento. Nunca chegamos a conclusão que era o melhor. Ganhei, perdi, mas guardo este momento com muito carinho.

Voltando a campanha, a Lista da Ceterp daquele ano tinha uma novidade: todos os telefones que quisessem ser inseridos de outra forma, além da contratada junto a Ceterp, teriam que fazer um contrato, inclusive residencial, para que a próxima edição saísse com as alterações que os clientes queriam. Cada contrato tinha o valor único de 0,01 centavo.

Chovia contrato no atendimento a noite. Em média 100 contratos diários por equipe. Tinha vendedor que sentava numa praça e ficava atendendo os interessados ali mesmo o dia todo. Era um festival de contratos sem valor e no meio deles, os contratos de renda e novos, que geravam divisas para a empresa. Foi uma campanha longa, e era impossível entrar improdutivo. O vendedor podia não realizar nenhuma venda, mas não trazer contrato de R$ 0,01 era impossível, a não ser que não estivesse trabalhando.

Bem, nesta fase, foi que entrou em cena o Atanosov e a Eliane. Um dia entraram improdutivos, contaram uma história qualquer e nos dias seguintes faziam o suficiente para provar que estavam trabalhando, mas sem nenhuma produtividade efetiva. Chegavam no atendimento a tarde com 01 contrato de R$ 0,01. Como a situação se repetia, tive que sair do meu canto e enfrentar meu querido supervisor chefe.
Na epoca usava bigode, que escondia esta cara alegre e de bom moço

- Manoel, a situação da Eliane e do Atanosov é essa, não estão produzindo e fiquei sabendo que estão saindo e ficando o dia todo juntos, indo a motel e está prejudicando a equipe. Quero que você me autorize a demitir os dois.
- Tudo bem, respondeu, mas aproveite também e traga sua carta de demissão, pois já que você está acabando com sua equipe, não vai ter ninguém para cuidar.
- Mas eu não quero sair, disse a ele.
- Então aprenda a dirigir seus vendedores, respondeu.
Voltei para minha mesa quase chorando, mas entendi a mensagem e a noite, depois do atendimento, chamei os dois vendedores para conversar e tivemos uma reunião bem amarga, mas que trouxe resultados. Depois daquele dia, eles continuaram a se encontrar, mas a produção dos dois foi normal até o final da campanha.

Mas estes contratos de R$ 0,01 davam muito trabalho para a supervisão, pois tínhamos que fazer com eles o mesmo procedimento que fazíamos com os contratos de novos e rendas, ou seja, conferir o preenchimento, fazer a checagem do que o vendedor havia feito, etc., mas era muito trabalho e passávamos o dia inteiro grudados no telefone.
- Bom dia! Quem fala é o sr. José das Dores?
- Ele não está, respondia. Só a noite. Quem é?
- É da Lista da Ceterp e ele autorizou uma inserção com o nome de José Funileiro e precisamos confirmar, esclarecia
- Isto é com ele, mas o telefone não dele e eu não quero nada. Muitas vezes esta era a resposta que ouvíamos e tínhamos que cancelar o contrato.

Isto se repetia o dia todo, por semanas a fio. Lembro uma ocasião que a Ângela trouxe somente num dia mais de 60 contratos. Jogou aquela pilha na mesa e atendendo o resto da equipe, naquele dia especifico entrou mais de 150 contratos. Eu, até por falta de experiência, ficava trabalhando na conferência dos contratos e das planilhas de atribuição até por volta de 22 horas, enquanto meus amigos supervisores, já por volta de 19 horas tinham encerrado suas tarefas.

Aprendi muito nesta época, apesar das gozações e das broncas, sai de Ribeirão Preto fortalecido. Estava pronto para enfrentar maiores desafios. Uma nova equipe seria formada e com esta equipe tive grandes alegrias.
Confesso que não recordo de todos, mas lembro que nesta equipe tinha o R. Souza, a Pinnati, Aílton, Valtinho, Saime, Kalil, Moya, Bertazoni e Granconato. Me perdoem se esqueci alguém ou troquei a época da equipe. Sei que todos trabalharam comigo, mas esta foi a segunda e também tive outras.

O carro do Valtinho era um Maverick neste estilo
O GBT era o desafio e o Valtinho vinha como o vendedor mais experiente da equipe, o famoso "Kid Vigarista", com seu famoso Maverick. Esta figurinha, um homem pequeno no tamanho, mas grande na astúcia e muito articulado.
Ele se divertia e divertia todo mundo. Era considerando faixa A, portanto cabeça de equipe e na formação ele foi escalado para trabalhar comigo numa campanha do GBT e íamos trabalhar no nordeste e norte do Brasil, mas quem disse que este homem entrava em avião. Nem amarrado! Estava criado um problema, pois a campanha ia começar, ele era o faixa A da equipe e tinha medo de viajar de avião.

Conversa aqui, conversa ali e nada – de avião eu não vou – dizia ele. Era um problema, pois estávamos sem tempo, não dava para trocar e aí conversando com o Manoel e com o Sidney, fizemos um plano que o Valtinho poderia viajar de carro e ele faria todas as cidades do interior de Minas, Bahia, e mais alguns lugares. Saiu de viagem com um pacote enorme de fichas e viajou sozinho por mais de 02 meses. A produção não foi das melhores, mas as histórias que ele contava sobre a viagem deixou muita gente morrendo de rir.

Era um bom sujeito. Nunca mais o vi depois que sai da LTN e um dia me disseram que ele havia morrido, mas nunca pude comprovar. Espero que esta notícia não seja verdade. Para concluir, o Valtinho, tinha uma brincadeira que fazia sempre, era quando recebia o pagamento, ele amarrava uma linha num pacote de dinheiro e saia correndo pelo salão de atendimento e gritava: - eu corri atrás de você. Agora você corre atrás de mim e todos riam.
Aparecido Ribeiro

Tem várias histórias sobre ele, como uma contada pelo Ribeiro, que certa ocasião, trabalhando na cidade de Assis, foi atribuído com uma ficha de uma concessionária Mercedes Benz e lá chegando foi atendido pelo contador da empresa e dentro da técnica mais refinada de um bom listeiro, se apresentou, disse o que estava fazendo e depois ficou mudo e saiu calado com o contrato assinado. Quis o destino que esta mesma empresa fosse atribuída a ele no ano seguinte e lá foi o Ribeiro encontrar com o mesmo contador e a mesma técnica e novamente o contrato foi renovado.

No ano seguinte, esta ficha já estava na condição de Especial e foi designada ao Valtinho resolver. Como era praxe entre os vendedores, o Valtinho conversou com o Ribeiro sobre como agir no cliente e lá foi o nosso herói em busca da consagração, pois resolvendo aquela ficha ele ganharia um bom dinheiro e seu percentual financeiro ficaria nas alturas. Mas ninguém dorme eternamente, um dia acorda e neste dia o contador já estava acordado e recebeu o Valtinho com duas pedras na mão (forma de expressão) e disse alhos e bugalhos e não teve jeito. O Valtinho teve que fazer o cancelamento da ficha e advinha quem pagou o pato: o Ribeiro, que foi vítima da ira do Valtinho, mas tudo isso era rotina.
Grande Kaká - Este merece um capitulo exclusivo

Mas este personagem era tão polêmico nos seus 1,55m creio, que estava sempre aprontando das suas e nosso amigo Kaká, conta que certa ocasião, na cidade de Barretos ele estava na porta do Hotel Shelton, que fica em frete a praça central da cidade, quando de repente ele vê um cara correndo como um doido, com uma pasta na mão, vindo em direção ao hotel e entrou por afora e dispensou o uso do elevador e subiu correndo as escadas. Era o Valtinho o atleta. Ele estava fugindo de um senhor com um pedaço de pau na mão, que  adentrou no hotel e queria pegar o rapaz da LTN. O pessoal da recepção, assustados com a gritaria e tentando acalmar o senhor, pediu com urgência a presença de um supervisor para resolver aquele impasse, o que depois de muito bate-boca, a situação ficou controlada, mas no dia seguinte, no jornal da cidade saiu uma notícia na primeira página que uma quadrilha estava agindo na cidade lesando os comerciantes com vendas de anúncios na lista telefônica. Foi a maior confusão. Foi necessário interromper a campanha até a chegada do diretor da empresa, o Sr. Josias, que teve grandes dificuldades em colocar as coisas no lugar. O causador de tudo isto tinha sido o Valtinho e o senhor que o queria agredir era o dono de um cartório da cidade. O motivo era simples: o Valtinho tentou dar uma “tranca” e o homem percebeu a falcatrua.

Voltando a campanha, resolvido o impasse do Valtinho, saímos para viagem e nossa primeira parada foi Ilhéus. Ficamos hospedados no centro da cidade ao lado do famoso Bar Vesúvio, onde Jorge Amado imortalizou pelo romance entre Nacib e Gabriela. Ilhéus Praia Hotel era o nosso quartel general e a região que iriamos atender era muito grande, pois além de Ilhéus, que é uma cidade relativamente pequena, tinha Itabuna, Vitoria da Conquista, Jequié e outras dezenas de cidades menores, que exigiram a locação de vários veículos e foram percorridos alguns milhares de quilômetros. Eram grandes distancias a serem cobertas e os vendedores tinham que sair bem cedo e chegarem sempre bem fora do atendimento normal.
O trabalho foi se desenvolvendo e a equipe vinha mantendo os percentuais normais e quando concluímos o serviço, nosso destino era Salvador. O voo de apenas 01 horas, estava marcado para sair num sábado por volta de 15 horas. O procedimento padrão é pegar e devolver o carro no aeroporto e foi o que fizemos. Fechamos a conta do hotel e cada vendedor colocou suas bagagens em seus respectivos carros e fomos em comboio para o aeroporto. 

Lembranças para quem não teve oportunidade de conhecer.
Eu, na condição de supervisor, não tinha direito a locar um automóvel e peguei uma carona no carro da Pinnati, que era um Voyage. Ela tinha trabalhado com este carro a semana toda, viajado no mínimo uns 3000 quilômetros. Saímos do hotel, paramos num posto de gasolina para abastecer, pois tinha que devolver o veículo com o tanque cheio. Quando chegamos no estacionamento da locadora, a Pinnati, fez a manobra de estacionar o carro corretamente e bateu com os pneus na guia, para que o carro ficasse bem estacionado. Neste momento, aconteceu o imponderável. O volante do carro caiu literalmente no seu colo. Foi o maior susto. Pensar que havia trabalhado a semana toda com o carro e do nada o volante sai, era imperdoável. Lembro da cena como fosse hoje, a Pinnati desceu do carro com o volante na mão e falou alhos e bugalhos para o pessoal da locadora. Desta vez a sorte esteve do lado dela, pois considerando o que ela havia trabalhado toda a semana e pelas estradas que andou, com várias serras, se o defeito tivesse acontecido antes, certamente ela teria sofrido um grave acidente.


Nosso destino agora era a cidade de Salvador e lá muitas coisas aconteceram, mas é para o próximo capitulo.

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