sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Capitulo 10 –  As Campanhas das Listas Telefônicas de Araçatuba e Presidente Prudente.

Estava de saída para Araçatuba, mas tinha um lugar para conhecer que eu ainda não tinha tido oportunidade, A Porcada. Um restaurante simples, com música ao vivo, que ficava lotado toda quarta e sexta feiras. Existe até hoje e está localizado na Rodovia Transbrasiliana, na altura de Bady Bassitt e mantém as mesmas características que é servir torresmo, linguiça, polenta, chouriço, costelinha de porco, tudo produção própria, além, é claro, de cerveja gelada e muita música sertaneja. Lá era o ponto de encontro dos listeiros após o atendimento.

O prato preferido  dos frequentadores da Porcada
Bem, havia terminado a campanha de Rio Preto e o Marco Antonio liberou a equipe para viajar para Araçatuba, pois o Hotel Chamonix, do nosso amigo Gilberto, já estava à disposição para quem quisesse se hospedar a partir daquela sexta feira. Eu tinha ido para casa na semana anterior e resolvi que iria direto para Araçatuba. Eu e mais uns vendedores, resolvemos sair em comboio por volta de 18:00 horas, mas depois de uns 20 minutos de viagem, avistamos a Porcada, lotado de carros e gente. Resolvemos parar para conhecer. Foi uma noite sensacional. Muita comida, cerveja e músicas. Mesmo com uma alta dose de álcool no organismo, seguimos viagem para Araçatuba, chegando no hotel, complemente cansados e com sono, por volta de 02 horas da madrugada, mas valeu a pena. Anos depois voltei na Porcada com minha família e pude matar a saudade daquela primeira vez e da boa comida que ainda lá é servida. Recomendo para quem não teve oportunidade de conhecer.

Hotel Chamonix de Araçatuba
O Hotel Chamonix, tinha como gerente o Gilberto, um grande amigo dos listeiros. Fazia o possível para que todos se sentissem em casa. Uma pessoa inesquecível. O atendimento dos vendedores durante a campanha, ficava no mezanino, era um salão de bom tamanho, e tinha uma sacada para a rua, onde os vendedores ficavam esperando a vez de ser atendido pelo seu supervisor. A Lista de Araçatuba atendia muitas cidades e era grande o movimento de viagens dos vendedores. A cidade de Araçatuba, conhecida como a Capital do Boi de Corte, já despontava na época como uma das mais prósperas do Estado de São Paulo, com bons hotéis, restaurantes e um comércio muito forte, que era o nosso cliente final.
A região de Araçatuba era muita extensa com diversas cidades, atendendo desde a divisa com o Mato Grosso do Sul até a Região de Cafelândia, destacando entre elas, além de Araçatuba, Birigui, Dracena e Lins. O tempo de trabalho nesta lista ficava em torno de 60 dias e terminando o destino era Presidente Prudente, quando se encerraria o trabalho daquele ano e entraríamos em férias.
Araçatuba tem uma arquitetura diferente, pois todas as principais avenidas se convergem para a Praça Central, onde tem uma grande rotatória, com um Igreja Católica no centro e era fácil pegar a avenida errada no início dos trabalhos. Era entrar numa avenida errada e pronto, você se afastava do seu destino. Para exemplificar como funciona imaginem uma roda de carroça. Cada raio da roda significava uma avenida e o eixo da roda era o centro da cidade, onde estava localizado a região dos bancos. O comércio era espalhado por todas as avenidas. 
O Hotel Chamonix ficava numa destas avenidas. Como tínhamos muita amizade com o Gilberto e o nosso grupo ocupava uma boa parte do hotel, tínhamos muita liberdade e em uma ocasião, uns vendedores resolveram aprontar uma brincadeira, que era encher sacos plásticos com água e atirar dos apartamentos sob os vendedores que ficavam conversando na calçada do hotel. A brincadeira não foi bem aceita e teve bate boca e intervenção de supervisores. O propósito era sempre quebrar a rotina, para criar um ambiente mais sadio para o trabalho.

Espero que a Leda se recorde deste dia.
Numa ocasião, sai para trabalhar com a Leda, que era uma vendedora muito experiente e eu, embora já estivesse na empresa há uns 06 meses, ainda estava aprendendo e a Leda era uma excelente vendedora e uma orientadora muito eficaz. Trabalhamos uma certa manhã visitando clientes de uma região de Araçatuba e na hora do almoço fomos num restaurante que ficava numa avenida que era a entrada principal da cidade, salvo engano, o local chamava-se Bola Sete. Era um lugar bem frequentado, principalmente a noite, mas como estava aberto, resolvemos conhecer e almoçar por lá mesmo. Foi a maior decepção. Depois de muito esperar, devido ao péssimo atendimento, pois o restaurante não tinha muitos clientes naquele momento, finalmente os nossos pratos chegaram. Creio que havíamos pedido lasanha, mas o que foi servido nem de longe lembrava esta comida italiana. O que foi servido foi uma gororoba toda feia, sem sabor e fria. A Leda subiu nos tamancos e falou alhos e bugalhos para o garçom, para o gerente e revoltados saímos do restaurante sem comer nada e sem pagar nada também.
Maquina para esterelizar
Mas as campanhas começaram bem antes de 1985 e deste tempo tem duas boas histórias vivida pelo Manoel, quando ainda ele era representante, contada por ele. Veja como foi:
Chegamos no hotel Chamonix perto da hora do almoço pra começar a campanha, recebemos só ficha de NOVO, saí logo depois do almoço e visitei um novinho no segundo quarteirão depois do hotel chegando quase na praça, era uma loja de antiguidades, comecei a agencia a dona uma mulher bem culta, ofereci um 3 cms com logotipo, ela disse mas eu não tenho logotipo, e eu muito cheio da razão disse pra ela: nós podemos bolar um logotipo esterilizado…ela me perguntou como? Não entendi, e eu repeti um logotipo esterilizado, e ela pergunta novamente: como? Não entendi, e eu já puto com ela repeti já irritado, um logotipo esterilizado...aí ela vira pra mim e diz: não seria ESTILIZADO?...fiquei todo envergonhado e disse: desculpe é isto mesmo estilizado, começamos a rir e ela fez o anúncio...

Outra história que aconteceu com nosso supervisor chefe, ainda pezinhos na época, tem a ver com uma bolsa, que segundo as más línguas, era tão grande que cabia dentro uns 10 exemplares da lista telefônica de Araçatuba. Ele é quem conta:
Eu tinha uma pasta ( bolsa ) feia demais, parecia aquelas bolsas de profissionais que fazem serviços de consertos...saí depois do almoço e fui andando por uma praça toda arborizada, quando vi uma senhora vindo ao meu encontro meio encabulada, me parou e perguntou pra mim: O senhor é que é o consertador da máquina de lavar ali do número 67 ?...eu respondi: não minha senhora e ela disse: desculpe é que vi o senhor com esta bolsa de consertos e como estou esperando o técnico, mas tive que sair e pensei que fosse o senhor..
A campanha estava terminando e o desempenho da nossa equipe foi dentro do esperado, não ganhamos a campanha, mas ficamos dentro da média, mas estava na hora de partir para a região de Presidente Prudente, a lista de maior quilometragem e mais cidades a serem visitadas.

Hotel Aruá - O melhor do interior.
O hotel reservado era o Hotel Aruá, o melhor que havíamos ficado até então em campanhas de lista telefônica, localizado na região central de Presidente Prudente, na época considerado um marco na hotelaria da região, sendo classificado como um dos melhores do interior do Estado de São Paulo. Neste hotel sempre os artistas que faziam show na região se hospedavam por lá e era uma boa oportunidade para os vendedores conhecerem os famosos. 

Certa ocasião, como o Hotel Aruá era o “point” de Presidente Prudente e na cobertura tinha uma boate e um clube do uísque. Era bem organizado e lá sempre havia encontro, show e numa desta ocasião tive oportunidade de conhecer a Martinha, uma cantora que fazia sucesso na época e era como a Paula Fernandes hoje, pois também foi apresentada ao grande público pelo Roberto Carlos. Neste mesmo hotel, durante a nossa campanha, ficou hospedado o Ray Conniff e orquestra e no café da manhã todos os listeiros foram tietar o grande maestro, pedir autógrafos, etc. Ele gentilmente atendeu a todos. O resto da orquestra, que era composta por umas 40 pessoas também deram autógrafos, conversaram com nosso grupo e deixaram uma lembrança inesquecível daquele encontro.
Grande maestro. Foi gentil com todos 
Nesta campanha, embora Presidente Prudente estivesse muito distante da base da maioria dos vendedores, isto não impedia que nos finais de semana houvesse a debandada às sextas feiras para suas residências para voltarem no domingo à noite e para isso era necessária muita gasolina e aí o bicho pegava, pois, os supervisores marcavam em cima, mas sempre se dava um jeito de burlar a vigilância dos nossos chefes.  Para não chamar a atenção, os carros dos vendedores que iriam viajar naquela semana ficavam guardados em postos de gasolina na estrada e dali saiam em TJ, e a tarde, tirava a gasolina do tanque e guardava num galão para ser utilizado na viagem para casa. Como eu tinha o meu carro movido a gás de cozinha, era o mais assediado para levar comigo vendedores, mesmo de outras equipes, para trabalhar na mesma cidade que eu tinha atribuição. Uma ocasião tive uma atribuição para a cidade de Presidente Wenceslau, uma boa cidade da região e outros 04 vendedores também tinha atribuição e eles me ajudaram a comprar um botijão de gás e fomos em 05 trabalhar em Wenceslau. Dá para imaginar o resultado, pouca produção e uma dose extra de azar na chegada à tarde em Presidente Prudente. Fomos pegos pelos supervisores que estavam de tocaia num lugar que nunca costumavam ficar.
Bronca geral, advertência por escrito e naquela semana não teríamos direito ao prêmio da semana. Por ironia do destino, eu havia conseguido fazer dois contratos e como estava com meu carro, o Manoel abrandou um pouco minha punição e transformou a advertência por escrito em advertência verbal, que doía até mais que a escrita, pois o Manoel tinha um jeito de pegar no pé, que era duro de suportar. Mas era o nosso dia a dia. Era difícil, cansativo, mas éramos felizes, pois riamos muito das histórias de cada vendedor. 
Vendedor Pennachi. Na epoca era bem magrinho

Tem uma história do vendedor Pennachi, que ele jura que aconteceu da maneira que vou contar, que rimos muito. Veja como foi: Ele recebeu atribuição da região de Presidente Wenceslau e no final do dia, quando já próximo de Presidente Prudente, tinha na região uma grande plantação de milho já em ponto de colheita. É menos normal hoje você encontrar pessoas invadindo propriedades para roubar frutas, pois as rodovias atuais criaram dificuldades de acesso, mas na época, era tudo mais fácil, bastava pular a cerca de arame farpado e eis o milharal a sua disposição. Bem, naquele dia, o Pennachi de longe avistou um carro da polícia parado no estacionamento, próximo ao milharal. Por prudência, ele diminuiu a velocidade do seu carro e quando estava chegando próximo da viatura, viu dois soldados passando a cerca do milharal com dois sacos grandes as costas. O que ele fez então? Parou o carro atrás da viatura e disse aos guardas que aquela propriedade era de sua família e que eles não poderiam pegar o milho sem autorização e que poderiam se fartar a vontade, bastava para isso ir na sede da fazenda e conversar com o Administrador que ele providenciaria milho para toda a corporação, mas aquele dois sacos ele teria que levar, pois ficava mal dois homens da lei praticar furto de milho. 

Os soldados ficaram envergonhados do feito e para não complicar, pois o Pennachi disse que iria comunicar o fato a Policia Rodoviária, os soldados carregaram os dois sacos de milhos no carro do Pennachi e foram embora com o rabinho no meio das pernas. O Pennachi ficou uns 15 minutos parados para recuperar da sua audácia, mas,m para não correr risco, deu meia volta e ficou num posto de gasolina próximo dali até começar a escurecer. Chegou tarde no atendimento e depois, mais tarde, na casa de uns amigos, fizeram uma grande festa do milho, com direito a curau, pamonha, quentão e muita dança. Tem história de pescador e de listeiro, mas esta foi muito boa.
A campanha estava terminando e o motor do meu chevette também. Cheguei a rodar os últimos dias rodando com óleo queimado, fazendo uma fumaceira, que lembrava os aviões da esquadrilha da fumaça, mas chegou uma hora que não aguentou mais e parou. Levei numa oficina que me indicaram e o custo do novo motor era muito mais que eu ainda estava recebendo por mês. Terminei a campanha fazendo TJ autorizado e consegui emprestar da LTN o dinheiro para consertar o motor do carro. Como o conserto iria demorar alguns dias e já estávamos entrando em férias, eu voltei para Descalvado de carona. Antes de sair de férias, teríamos um encontro de todas as equipes em São Paulo, para fazer o planejamento para o próximo ano e ficamos hospedado no Hotel Bourbon.
Depois das reuniões, tive a maior surpresa e alegria do meu período de LTN. Estava conversando com alguns amigos, quando o Manoel me chamou na sala dele. Confesso que fiquei apavorado, pois não era normal este tipo de procedimento, pois sempre o Manoel conversava com os vendedores em reuniões abertas, muito dificilmente chamava um vendedor, principalmente um novato, para conversar em particular. O que será que eu aprontei? Será que vou ser demitido? Passou mil pensamentos pela cabeça naquele pequeno espaço de tempo de sair de onde eu estava para ir a Sala do Supervisor Chefe. Pronto, estou defronte com a fera. O que será que ele quer comigo?

Sai  da reunião com a cabeça nas nuvens
- Luis, disse ele, o que vou falar aqui é confidencial e se você contar para alguém da empresa, você será demitido. Tudo bem, Manoel, não contarei nada, disse a ele, mas o que se trata? Ele respondeu o que eu nunca esperava ouvir. Foi mais ou menos assim: Neste tempo que você está na empresa estivemos analisando seu trabalho e eu estou te indicando para uma vaga de supervisor a partir do próximo ano, mas isto não pode ser comentado. Vai ser aberta duas vagas na supervisão e tem alguns veteranos interessados, mas eu vou apostar em você. Quase dei um beijo nele, mas como sou muito emotivo, devo ter deixado cair algumas lagrimas de felicidades. Mas esta história vou contar no próximo capitulo.,





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