Capitulo 10 – As Campanhas das Listas Telefônicas de Araçatuba
e Presidente Prudente.
Estava de saída para
Araçatuba, mas tinha um lugar para conhecer que eu ainda não tinha tido
oportunidade, A Porcada. Um restaurante simples, com música ao vivo, que ficava
lotado toda quarta e sexta feiras. Existe até hoje e está localizado na Rodovia
Transbrasiliana, na altura de Bady Bassitt e mantém as mesmas características
que é servir torresmo, linguiça, polenta, chouriço, costelinha de porco, tudo
produção própria, além, é claro, de cerveja gelada e muita música sertaneja. Lá
era o ponto de encontro dos listeiros após o atendimento.
O prato preferido dos frequentadores da Porcada |
Bem, havia terminado a
campanha de Rio Preto e o Marco Antonio liberou a equipe para viajar para
Araçatuba, pois o Hotel Chamonix, do nosso amigo Gilberto, já estava à
disposição para quem quisesse se hospedar a partir daquela sexta feira. Eu
tinha ido para casa na semana anterior e resolvi que iria direto para
Araçatuba. Eu e mais uns vendedores, resolvemos sair em comboio por volta de
18:00 horas, mas depois de uns 20 minutos de viagem, avistamos a Porcada,
lotado de carros e gente. Resolvemos parar para conhecer. Foi uma noite
sensacional. Muita comida, cerveja e músicas. Mesmo com uma alta dose de álcool
no organismo, seguimos viagem para Araçatuba, chegando no hotel, complemente
cansados e com sono, por volta de 02 horas da madrugada, mas valeu a pena. Anos
depois voltei na Porcada com minha família e pude matar a saudade daquela
primeira vez e da boa comida que ainda lá é servida. Recomendo para quem não
teve oportunidade de conhecer.
Hotel Chamonix de Araçatuba |
O Hotel Chamonix, tinha como
gerente o Gilberto, um grande amigo dos listeiros. Fazia o possível para que
todos se sentissem em casa. Uma pessoa inesquecível. O atendimento dos
vendedores durante a campanha, ficava no mezanino, era um salão de bom tamanho,
e tinha uma sacada para a rua, onde os vendedores ficavam esperando a vez de
ser atendido pelo seu supervisor. A Lista de Araçatuba atendia muitas cidades e
era grande o movimento de viagens dos vendedores. A cidade de Araçatuba,
conhecida como a Capital do Boi de Corte, já despontava na época como uma das
mais prósperas do Estado de São Paulo, com bons hotéis, restaurantes e um
comércio muito forte, que era o nosso cliente final.
A região de Araçatuba era
muita extensa com diversas cidades, atendendo desde a divisa com o Mato Grosso
do Sul até a Região de Cafelândia, destacando entre elas, além de Araçatuba,
Birigui, Dracena e Lins. O tempo de trabalho nesta lista ficava em torno de 60
dias e terminando o destino era Presidente Prudente, quando se encerraria o
trabalho daquele ano e entraríamos em férias.
Araçatuba tem uma arquitetura
diferente, pois todas as principais avenidas se convergem para a Praça Central,
onde tem uma grande rotatória, com um Igreja Católica no centro e era fácil
pegar a avenida errada no início dos trabalhos. Era entrar numa avenida errada
e pronto, você se afastava do seu destino. Para exemplificar como funciona
imaginem uma roda de carroça. Cada raio da roda significava uma avenida e o
eixo da roda era o centro da cidade, onde estava localizado a região dos
bancos. O comércio era espalhado por todas as avenidas.
O Hotel Chamonix ficava
numa destas avenidas. Como tínhamos muita amizade com o Gilberto e o nosso
grupo ocupava uma boa parte do hotel, tínhamos muita liberdade e em uma
ocasião, uns vendedores resolveram aprontar uma brincadeira, que era encher
sacos plásticos com água e atirar dos apartamentos sob os vendedores que
ficavam conversando na calçada do hotel. A brincadeira não foi bem aceita e
teve bate boca e intervenção de supervisores. O propósito era sempre quebrar a
rotina, para criar um ambiente mais sadio para o trabalho.
Espero que a Leda se recorde deste dia. |
Numa ocasião, sai para
trabalhar com a Leda, que era uma vendedora muito experiente e eu, embora já
estivesse na empresa há uns 06 meses, ainda estava aprendendo e a Leda era uma
excelente vendedora e uma orientadora muito eficaz. Trabalhamos uma certa manhã
visitando clientes de uma região de Araçatuba e na hora do almoço fomos num
restaurante que ficava numa avenida que era a entrada principal da cidade,
salvo engano, o local chamava-se Bola Sete. Era um lugar bem frequentado,
principalmente a noite, mas como estava aberto, resolvemos conhecer e almoçar
por lá mesmo. Foi a maior decepção. Depois de muito esperar, devido ao péssimo
atendimento, pois o restaurante não tinha muitos clientes naquele momento,
finalmente os nossos pratos chegaram. Creio que havíamos pedido lasanha, mas o
que foi servido nem de longe lembrava esta comida italiana. O que foi servido
foi uma gororoba toda feia, sem sabor e fria. A Leda subiu nos tamancos e falou
alhos e bugalhos para o garçom, para o gerente e revoltados saímos do
restaurante sem comer nada e sem pagar nada também.
Maquina para esterelizar |
Mas as campanhas começaram bem
antes de 1985 e deste tempo tem duas boas histórias vivida pelo Manoel, quando
ainda ele era representante, contada por ele. Veja como foi:
Chegamos no hotel Chamonix perto da hora do
almoço pra começar a campanha, recebemos só ficha de NOVO, saí logo depois do
almoço e visitei um novinho no segundo quarteirão depois do hotel chegando
quase na praça, era uma loja de antiguidades, comecei a agencia a dona uma
mulher bem culta, ofereci um 3 cms com logotipo, ela disse mas eu não tenho
logotipo, e eu muito cheio da razão disse pra ela: nós podemos bolar um
logotipo esterilizado…ela me perguntou como? Não entendi, e eu repeti um
logotipo esterilizado, e ela pergunta novamente: como? Não entendi, e eu já
puto com ela repeti já irritado, um logotipo esterilizado...aí ela vira pra mim
e diz: não seria ESTILIZADO?...fiquei todo envergonhado e disse: desculpe é
isto mesmo estilizado, começamos a rir e ela fez o anúncio...
Outra história que aconteceu
com nosso supervisor chefe, ainda pezinhos na época, tem a ver com uma bolsa,
que segundo as más línguas, era tão grande que cabia dentro uns 10 exemplares
da lista telefônica de Araçatuba. Ele é quem conta:
Eu tinha uma pasta ( bolsa ) feia demais,
parecia aquelas bolsas de profissionais que fazem serviços de consertos...saí
depois do almoço e fui andando por uma praça toda arborizada, quando vi uma
senhora vindo ao meu encontro meio encabulada, me parou e perguntou pra mim: O
senhor é que é o consertador da máquina de lavar ali do número 67 ?...eu
respondi: não minha senhora e ela disse: desculpe é que vi o senhor com esta
bolsa de consertos e como estou esperando o técnico, mas tive que sair e pensei
que fosse o senhor..
A campanha estava terminando e
o desempenho da nossa equipe foi dentro do esperado, não ganhamos a campanha,
mas ficamos dentro da média, mas estava na hora de partir para a região de
Presidente Prudente, a lista de maior quilometragem e mais cidades a serem
visitadas.
Hotel Aruá - O melhor do interior. |
O hotel reservado era o Hotel
Aruá, o melhor que havíamos ficado até então em campanhas de lista telefônica,
localizado na região central de Presidente Prudente, na época considerado um
marco na hotelaria da região, sendo classificado como um dos melhores do
interior do Estado de São Paulo. Neste hotel sempre os artistas que faziam show
na região se hospedavam por lá e era uma boa oportunidade para os vendedores conhecerem
os famosos.
Certa ocasião, como o Hotel Aruá era o “point” de Presidente
Prudente e na cobertura tinha uma boate e um clube do uísque. Era bem
organizado e lá sempre havia encontro, show e numa desta ocasião tive
oportunidade de conhecer a Martinha, uma cantora que fazia sucesso na época e
era como a Paula Fernandes hoje, pois também foi apresentada ao grande público
pelo Roberto Carlos. Neste mesmo hotel, durante a nossa campanha, ficou
hospedado o Ray Conniff e orquestra e no café da manhã todos os listeiros foram
tietar o grande maestro, pedir autógrafos, etc. Ele gentilmente atendeu a
todos. O resto da orquestra, que era composta por umas 40 pessoas também deram
autógrafos, conversaram com nosso grupo e deixaram uma lembrança inesquecível
daquele encontro.
Grande maestro. Foi gentil com todos |
Nesta campanha, embora
Presidente Prudente estivesse muito distante da base da maioria dos vendedores,
isto não impedia que nos finais de semana houvesse a debandada às sextas feiras
para suas residências para voltarem no domingo à noite e para isso era necessária
muita gasolina e aí o bicho pegava, pois, os supervisores marcavam em cima, mas
sempre se dava um jeito de burlar a vigilância dos nossos chefes. Para não chamar a atenção, os carros dos
vendedores que iriam viajar naquela semana ficavam guardados em postos de
gasolina na estrada e dali saiam em TJ, e a tarde, tirava a gasolina do tanque
e guardava num galão para ser utilizado na viagem para casa. Como eu tinha o
meu carro movido a gás de cozinha, era o mais assediado para levar comigo
vendedores, mesmo de outras equipes, para trabalhar na mesma cidade que eu
tinha atribuição. Uma ocasião tive uma atribuição para a cidade de Presidente
Wenceslau, uma boa cidade da região e outros 04 vendedores também tinha
atribuição e eles me ajudaram a comprar um botijão de gás e fomos em 05
trabalhar em Wenceslau. Dá para imaginar o resultado, pouca produção e uma dose
extra de azar na chegada à tarde em Presidente Prudente. Fomos pegos pelos
supervisores que estavam de tocaia num lugar que nunca costumavam ficar.
Bronca geral, advertência por
escrito e naquela semana não teríamos direito ao prêmio da semana. Por ironia
do destino, eu havia conseguido fazer dois contratos e como estava com meu
carro, o Manoel abrandou um pouco minha punição e transformou a advertência por
escrito em advertência verbal, que doía até mais que a escrita, pois o Manoel
tinha um jeito de pegar no pé, que era duro de suportar. Mas era o nosso dia a
dia. Era difícil, cansativo, mas éramos felizes, pois riamos muito das
histórias de cada vendedor.
Vendedor Pennachi. Na epoca era bem magrinho |
Tem uma história do vendedor Pennachi, que ele jura
que aconteceu da maneira que vou contar, que rimos muito. Veja como foi: Ele
recebeu atribuição da região de Presidente Wenceslau e no final do dia, quando
já próximo de Presidente Prudente, tinha na região uma grande plantação de
milho já em ponto de colheita. É menos normal hoje você encontrar pessoas
invadindo propriedades para roubar frutas, pois as rodovias atuais criaram
dificuldades de acesso, mas na época, era tudo mais fácil, bastava pular a
cerca de arame farpado e eis o milharal a sua disposição. Bem, naquele dia, o
Pennachi de longe avistou um carro da polícia parado no estacionamento, próximo
ao milharal. Por prudência, ele diminuiu a velocidade do seu carro e quando
estava chegando próximo da viatura, viu dois soldados passando a cerca do
milharal com dois sacos grandes as costas. O que ele fez então? Parou o carro
atrás da viatura e disse aos guardas que aquela propriedade era de sua família
e que eles não poderiam pegar o milho sem autorização e que poderiam se fartar
a vontade, bastava para isso ir na sede da fazenda e conversar com o Administrador
que ele providenciaria milho para toda a corporação, mas aquele dois sacos ele
teria que levar, pois ficava mal dois homens da lei praticar furto de milho.
Os
soldados ficaram envergonhados do feito e para não complicar, pois o Pennachi
disse que iria comunicar o fato a Policia Rodoviária, os soldados carregaram os
dois sacos de milhos no carro do Pennachi e foram embora com o rabinho no meio
das pernas. O Pennachi ficou uns 15 minutos parados para recuperar da sua
audácia, mas,m para não correr risco, deu meia volta e ficou num posto de gasolina
próximo dali até começar a escurecer. Chegou tarde no atendimento e depois,
mais tarde, na casa de uns amigos, fizeram uma grande festa do milho, com
direito a curau, pamonha, quentão e muita dança. Tem história de pescador e de
listeiro, mas esta foi muito boa.
A campanha estava terminando e
o motor do meu chevette também. Cheguei a rodar os últimos dias rodando com
óleo queimado, fazendo uma fumaceira, que lembrava os aviões da esquadrilha da
fumaça, mas chegou uma hora que não aguentou mais e parou. Levei numa oficina
que me indicaram e o custo do novo motor era muito mais que eu ainda estava
recebendo por mês. Terminei a campanha fazendo TJ autorizado e consegui
emprestar da LTN o dinheiro para consertar o motor do carro. Como o conserto
iria demorar alguns dias e já estávamos entrando em férias, eu voltei para
Descalvado de carona. Antes de sair de férias, teríamos um encontro de todas as
equipes em São Paulo, para fazer o planejamento para o próximo ano e ficamos
hospedado no Hotel Bourbon.
Depois das reuniões, tive a
maior surpresa e alegria do meu período de LTN. Estava conversando com alguns
amigos, quando o Manoel me chamou na sala dele. Confesso que fiquei apavorado,
pois não era normal este tipo de procedimento, pois sempre o Manoel conversava
com os vendedores em reuniões abertas, muito dificilmente chamava um vendedor,
principalmente um novato, para conversar em particular. O que será que eu
aprontei? Será que vou ser demitido? Passou mil pensamentos pela cabeça naquele
pequeno espaço de tempo de sair de onde eu estava para ir a Sala do Supervisor
Chefe. Pronto, estou defronte com a fera. O que será que ele quer comigo?
Sai da reunião com a cabeça nas nuvens |
- Luis, disse ele, o que vou
falar aqui é confidencial e se você contar para alguém da empresa, você será
demitido. Tudo bem, Manoel, não contarei nada, disse a ele, mas o que se trata?
Ele respondeu o que eu nunca esperava ouvir. Foi mais ou menos assim: Neste
tempo que você está na empresa estivemos analisando seu trabalho e eu estou te
indicando para uma vaga de supervisor a partir do próximo ano, mas isto não
pode ser comentado. Vai ser aberta duas vagas na supervisão e tem alguns
veteranos interessados, mas eu vou apostar em você. Quase dei um beijo nele,
mas como sou muito emotivo, devo ter deixado cair algumas lagrimas de
felicidades. Mas esta história vou contar no próximo capitulo.,
Muito legal tudo, parabéns!
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