sexta-feira, 7 de abril de 2017


Capitulo 18 – O sucesso foi somente nosso?

Hoje, passados tantos anos, muitos ainda vivem com os recursos que obtiveram nos tempos da LTN. Não quero dizer que o dinheiro ganho ainda está guardado, mas com certeza serviu para muitos alavancarem seu negócio próprio, comprar uma casa ou várias, se estruturaram em uma nova profissão, ou concluíram um curso universitário. Bem, não importa como usaram o dinheiro que ganharam, mas ele serviu para dar continuidade na vida na época e oxalá, ainda reflita nos dias de hoje.

Quando nos recolhíamos aos nossos apartamentos no final do dia, nos preocupávamos em planejar o dia seguinte, pensando somente no nosso próprio umbigo e a noite quando retornávamos para o atendimento com diversos contratos, era como estivéssemos feitos a nossa obrigação e dali para a frente, o que iria acontecer não era problema seu. Mas era. Será que teríamos ganhado tanto dinheiro se não tivéssemos por trás uma grande equipe de apoio?

Será que teríamos tido tanto sucesso se não tivéssemos na retaguarda a paciência e a criatividade do Jose Carlos Fecuri, o nosso amigo Kaká, que com sua genialidade, era quem dava vida aos nossos pedidos.
- Kaká, preciso que você faça um logotipo, mais ou menos assim – pedia o vendedor e no dia seguinte, como num passe de mágica, tudo que o vendedor havia imaginado e solicitado se materializava e isso representava 50% de uma venda.

Hoje, existem no Brasil, centenas de empresas, para não dizer milhares que usam até hoje layout criados pelo Kaká e sua equipe, entre eles destaco o Beto, um japonês talentoso, que sempre viajava junto com as equipes, a pedido de um vendedor e como agradecíamos isso? Não agradecíamos. Era o trabalho deles. Vendo do ponto de visto puramente administrativo, não havia mesmo necessidade de agradecer nada, pois eles estavam prestando o serviço para o qual foram contratados, mas justiça seja feita, será que teríamos tido tanto sucesso, como tivemos, se não tivéssemos este suporte? Duvido.


Dava orgulho na gente e também no cliente, quando a lista telefônica, já editada era entregue em sua casa ou comércio e ele abria a página onde constava o seu anúncio e orgulhoso, mostrava para os amigos, usava o logotipo que havia sido criado na fachada do seu comércio, nos seus impressos. Apesar de muitos negócios terem sido feitos meio na marra, empurrado ao cliente goela abaixo, não dava para dizer que o trabalho não tinha sido muito bem feito.

Desta pequena caixa que eram criados todos os anuncios das listas.
Dentro desta ótica, hoje, neste capitulo, quero prestar uma homenagem a este grande amigo e parceiro, que foi o Kaká. Pessoa humilde, sempre esteve ao nosso lado. Não recordo de tê-lo visto uma vez sequer mal humorado, indisposto ou sem vontade de ajudar qualquer vendedor, do mais produtivo até o recém contratado. A todos atendia da mesma maneira, com muita paciência e atenção e com os parcos recursos da época, quando computador ainda era coisa de ficção cientifica, fazia sempre o melhor desenho, a melhor arte.

Mas quem é o Kaká?
Kaká, ainda bebê

Bem, José Carlos Fecuri, o nosso Kaká, nasceu na cidade de São José do Rio Pardo, onde o famoso escritor Euclides da Cunha, engenheiro contratado para construir uma ponte metálica sobre o Rio Pardo, que ligaria a cidade aos outros bairros. Esta obra foi tão importante e tão bem planejada, que hoje, anos depois, ainda é imprescindível para os moradores daquela localidade. 
Durante a construção da ponte, Euclides da Cunha, escreveu um dos maiores clássicos da literatura brasileira, “Os Sertões”, o que o imortalizou e tornou a cidade conhecida no mundo todo.

Filho de “Seo” Constantino Fecuri e da “Dona” Lazara, ele teve uma infância tranquila naquela pacata cidade do interior paulista. Alternando entre a cidade e o rancho que seu pai, tinha a beira do Rio Pardo, ele cresceu aprendendo a gostar de música e aprendeu “de ouvido” a tocar gaita.
Seu pai era musico e tocava violão e juntava com seu tio Elias Fecuri, exímio tocador de violino e outros amigos, na maioria músicos e sempre nos finais de semana iam fazer serestas ou tocavam num programa da Rádio Difusora de São José do Rio Pardo.  Era uma brincadeira seria, pois escreviam partituras e suas presenças eram muito solicitadas. Crescendo neste ambiente, não podia acontecer outra coisa: O Kaká acabou indo trabalhar na Rádio Difusora como Disk Jockey, hoje conhecido apenas como DF.

Mas dá para acrescentar à história do Kaká a figura de um caçador? Para quem conviveu com ele tantos anos, vendo aquele rapaz magrinho, sempre quietinho no seu canto, fica difícil imaginar ele como caçador, mas, realmente ele saia sempre com seu avô para caçar anta e capivara, que estragava toda a plantação de uma propriedade em Santa Maria do Rio Verde. Quando chegavam a matar algum bicho, imediatamente se preparava um belo churrasco.


Lazara Fecuri e seu filho
De sua mãe Lazara Fecuri, Kaká herdou a habilidade da gastronomia. Ela sendo uma grande quituteira, ensinou ao filho todos os segredos de uma boa comida, principalmente comida árabe, como tabule, quibe e outras delicias.
Assim a vida seguiu durante toda sua infância e juventude. Mas sua habilidade em desenhar já havia brotado em sua alma e ele resolveu estudar para se desenvolver nesta área. 





O caminho era São Paulo e o destino escolhido inicialmente foi a Faculdade de Belas Artes, mas depois de um tempo, se transferiu para a Escola Panamericana de Artes, a maior referência na área naquela época, onde ele contava com a instruções de grandes mestres europeus. Lá ele desenvolveu a arte de desenhar e dar magia as cores e seu talento, quis o destino que assim fosse, fosse descoberto por acaso. Vejam que interessante e como o destino conspira a favor. 
Ainda na LTB, na Cincinato Braga
Sua vizinha de apartamento, chamava-se Iris, era assistente social da LTB e vendo os desenhos do Kaká o convidou para uma entrevista de emprego na LTB para o cargo de desenhista. Foi aprovado imediatamente e era o início da sua profissão, isto em 1973. A LTB foi para ele uma grande escola, pois todos os desenhistas da empresa faziam quadros para serem vendidos aos domingos na tradicional feira de artesanato da Praça da República. 

Na LTB permaneceu por 01 ano e meio e para melhorar o salário, trabalhava como freelance, na Disney Infantil, fazendo a coloração dos desenhos. Creio que vimos muitos gibis do Pato Donald, Mickey, Tio Patinhas, Pateta e outros feitos pelo Kaká. Na LTB, ele teve o prazer de realizar sua primeira viagem interestadual e voar pela primeira vez. Foi escalado para trabalhar em Recife e na sua volta a São Paulo, sua vida começou a mudar.

Tinha uma pequena empresa no segmento de lista telefônica, com o nome de ORNASA (Organização Nacional AS), que meses depois virou LTN que abrira uma vaga para layoutista. Após os testes, ele foi contratado para cobrir a vaga de um amigo, também layoutista, que iria se casar e não queria ir trabalhar no Ceará, onde a LTN estava abrindo um escritório. Em Fortaleza, ele morou por vários meses,  na Praia de Mucuripe, em apartamento mobiliado, tudo pago pela empresa e tinha como companheiro o Mauricio Vezzo.
Praia de Mucuripe - Fortaleza.
Para ter uma ideia da capacidade de criação e fidelidade ao trabalho e a empresa, ele foi admitido pela ORNASA em março de 1974 e deixou a empresa, que passou a se chamar LTN e depois EPIL, somente em outubro de 2016, quando, por redução das atividades e ele deixou a empresa. Foram 42 anos fazendo arte e sendo degrau na escada do sucesso de centenas de vendedores que chegaram ao topo da carreira através da sua arte.

Parece que a arte de desenhar é um vício que quanto mais faz, mais se quer fazer. Ele tinha uma coluna diária no “O Diário de Ribeirão Preto”, onde por mais de 13 anos, publicou suas charges. No início, ainda em Fortaleza, enviava seus trabalhos via correio e posteriormente, com a chegada a Internet, seus desenhos eram enviados ao jornal via e-mail.
 Capa aberta da revista Fecuri Carttos, com pesquisa em de 5.000 charges originais em p&b, publicado no Jornal "O Diário de Ribeirão" durante 13 anos
Ele criou sua própria revista a “Fecuri Cartoon”. E fez tudo sozinho. Desenhou, pintou, encadernou, grampeou, distribuiu, vendeu, recebeu. Se valeu a pena do ponto de vista econômico ele não conta, mas que deu muito, mas muito trabalho, isto ele afirma categoricamente.
Este é um breve relato do José Carlos Fecuri, o nosso Kaká, pessoa que passou ao lado de nossas vidas por anos e anos nos ajudando a ganhar dinheiro e aqui quero deixar meus agradecimentos por tudo que faz por nós. Kaká, foi é especial. Abaixo alguns quadros que ele fez ao longo de sua carreira.





QUADRO EM AERÓGRAFO

Um comentário:

  1. Bom eu tive o prazer de trabalhar com essa figura carismática, um profissional com muitos talentos, fico muito feliz por essa trajetória brilhante que o amigo Kaka nos agraciou nesses anos de trabalho na empresa LTN e EPIL, simplesmente fantástico...Abs caro amigo.....

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