Capitulo
17 – Supervisão – O lado doce ou azedo?
Ser supervisor. Talvez este
tenha sido o desejo de muitos vendedores, entre eles me incluo, mas chegar a
este cargo não era fácil e a concorrência era acirrada, quando se abria uma
vaga. Mas era um desejo de muitos e alcançado por poucos. Fui um deles e neste
capitulo irei contar a vida na LTN visto por dentro, numa visão que os
vendedores não conheciam.
A hierarquia da LTN, no plano
comercial, era formada pelo Presidente, Diretor Comercial, Gerentes, Supervisores
Chefes e Supervisores. Pelo que recordo, eram o Dr. Aníbal Haddad, que nunca
conheci, Sr. Josias, como era chamado, Sidnei Marques e Antonio Augusto Falco,
os gerentes, Manoel Santander, Antonio Carlos (Tonico), os supervisores chefes
e os supervisores que conheci, como Jair, Morales, Cavalcanti, Marco Antonio,
Mairo, Luis Antonio, Meneghetti, Silvio, Alexandre, Adão, Valdecir, Inocêncio,
Paulo Cesar.
A empresa tinha também outros
veículos, que eram chefiados por outros supervisores, como o Anuário das
Industrias e outros, mas eram outra linha de trabalho e não havia nenhum
envolvimento com o grupo que trabalhava listas telefônicas e o guia da
Embratel. O que tínhamos em comum era o fato de trabalharmos na mesma empresa e
dividir, quando em São Paulo, ainda na Rua Martins Fontes, o espaço no salão de
atendimento, mas até lá não havia grandes contatos.
O mundo dos supervisores era
de muita responsabilidade, pois ele, de certa forma, avalizava os contratos que
os vendedores faziam. Se o trabalho de checagem não fosse bem feito, com muito
jogo de cintura, muitos contratos eram cancelados naquele momento. O processo
parecia ser simples. O vendedor faz seu trabalho na rua, visita o cliente, faz
a venda e entrega o contrato para o supervisor, que por sua vez, tem que ligar
para o cliente e confirmar todo o trabalho realizado pelo vendedor. Ai, um
pequeno deslize, o contrato era cancelado.
O que tinha que ser
perguntado? Se o vendedor havia explicado que o cliente comprara um anuncio,
que o valor seria debitado na conta do telefone e na conta da Embratel e que o
valor combinado seria debitado durante 12 meses, conforme valor combinado e se
o vendedor havia deixado uma cópia do contrato.
Todo mundo jura que tudo era
feito de acordo com as normas estabelecidas, inclusive eu também juro, mas nem
sempre era assim. No atendimento a noite, como era individualizado, dependendo
do grau de amizade entre o vendedor e o supervisor, o vendedor contava como o
contrato havia sido feito e estas dicas eram valiosas na hora da checagem. Mas,
mesmo assim, era normal o cancelamento de muitos contratos durante a checagem.
Alguns contratos eram tão mal feitos, que houve diversas demissões em razão
disso.
Era normal encontrar
assinantes com promoção de cargos. Exemplo, o vendedor encontrava a secretaria,
conferia os dados da empresa, pedia para ela assinar e para não perder tempo,
uma vez que não havia alteração de dados, convenciam a escrever o cargo como
gerente ou outro cargo e nunca deixavam copias do contrato. Quando íamos fazer
a checagem, a verdade aparecia e o contrato era cancelado e dependendo da
gravidade do fato, o vendedor poderia ser advertido, suspenso ou demitido.
Mas, também não podíamos
destruir a campanha e nem acabar com as equipes. Formar vendedor era difícil e
o melhor que podíamos fazer, dentro do possível e da ética, era ajuda-los a
manter os contratos e fazer isto exigia muito jogo de cintura. Centenas de
contratos foram publicados graças ao apoio que os supervisores davam aos
vendedores das suas equipes, que faziam o melhor para não cancelar um contrato.
Era um novo agenciamento a cada ligação. Confesso que era extenuante o
trabalho, embora fisicamente não havia grande esforço, pois sempre estávamos em
ambientes de ar condicionado e muitas vezes, bem à vontade, quando em hotéis,
checando os contratos com a televisão ligada.
O programa favorito todas as manhãs, quando estávamos em hotéis. |
Era praxe, quando em São
Paulo, chegar na empresa de paletó e gravata, já de café tomado, uns 20 minutos
antes dos vendedores, mas quando em viagem, fazíamos o atendimento primeiro e
depois íamos tomar o café da manhã, colocar as conversas em dias e depois cada
um seguia para seu apartamento para suas obrigações. Também era comum irmos
almoçar juntos, sempre que possível e quando isto acontecia, era sempre em bons
restaurantes. Quando sozinhos,
principalmente no meu caso, almoçava no próprio hotel ou saia para um
restaurante mais em conta. O que sempre assustava era o Frigobar, pois
ficávamos o dia todo dentro do apartamento e as vezes fazíamos compras em
supermercados para repor as despesas, que feitas no hotel, era extremamente
cara, visto que, por regra, ficávamos sempre em hotéis de categoria 05
estrelas.
O ambiente de trabalho, quando
as equipes estavam juntas eram calmos, mas vez por outra, alguma discussão
havia, mas dava-se um jeito de acalmar tudo rapidamente, pois tínhamos que
viver em grupo e não havia lugar para rusca ou mau humor entre a gente. Por procedimento operacional,
quando em viagem, se a permuta permitisse, os supervisores ficavam em
apartamentos individuais e os vendedores em apartamento duplos, mas muitas
vezes também ficávamos em apartamento duplo.
Catedral de Brasilia |
Em 1988, estávamos trabalhando
em Brasília, quando o barco do GBT começava a fazer água, e o Falco nos chamou
para uma reunião e nela foi informado que os supervisores iriam fazer a
renovação automática de rendas prêmios e especiais, ou seja, elas não seriam
atribuídas aos vendedores, que trabalhariam somente fichas de valor pequeno. Aí
foi talvez o pior episódio que passamos, pois, nós que sempre primamos pela
excelência do serviço, tendo o cuidado na checagem dos contratos, fomos
autorizados a fazer os contratos internamente, sem autorização do cliente,
baseados numa cláusula do contrato, que previa renovação automática. Foram vários dias fazendo estes contratos e aguentando a revolta dos
vendedores, que entravam nos índices e não tinham atribuição. Era somente
atribuída fichas de novos, B e A. O resto ficou para renovação automática feita
pelos supervisores.
Este foi o último GBT que
trabalhei. Depois dele, até a minha saída da empresa, trabalhei somente as
listas telefônicas, mas deste veículo guardo uma grande recordação, quando em
1987, numa disputa disputada dia a dia, com os supervisores Silvio, Alexandre e
Meneghetti, minha equipe venceu a campanha. Como prêmio, ganhei um freezer
Frost Free, que era a grande novidade da época.
O troféu ganho pela vitoria da equipe no GBT de 1988 |
Minha equipe era formada por
Dimitrios, C. Dourado, Oswaldo, Aílton, Azael, Braw e eles foram valentes e
lutaram muito para conseguirmos a vitória. Lembro de uma ocasião, que o Aílton,
ainda podia ser considerado um pezinho, começou a ter bons resultados nas suas
vendas e eu disse para ele uma frase que rimos muito: Criei um monstro! Foi
motivador para ele, pois ele se tornou durante a campanha num dos melhores
vendedores da empresa.
Teve outro, que foi uma das maiores surpresas: o Braw.
Ele, uma pessoa humilde, oriundo da cidade de José Bonifácio, era trabalhador
rural e teve na LTN seu primeiro trabalho na área de vendas. Tive o prazer de
trabalhar com ele duas vezes, na minha primeira campanha como supervisor e na
campanha que vencemos o GBT. Ele foi genial. Fez grandes contratos e colaborou
muito na nossa vitória.
Nesta foto, Dimitrios, Euzébio, Azael, Claudete, Prado, Paulo e dois que não recordo. |
O que dizer da Claudete, uma lutadora. Era uma segunda
supervisora, pois ajudava os vendedores no campo, dando força para aqueles que
não estavam bem, fazia TJ para ajudar na resolução de fichas mais complicadas.
O grande campeão individual daquela campanha foi o meu faixa A, o Dimitrios.
Ele sempre foi um vendedor muito articulado e era muito convincente. Difícil
cancelar um contrato feito por ele. Teve uma situação que ele pegou uma
atribuição de novo do Governo de Rondônia. Era uns 200 telex. Ele ficou
insistindo neste cliente durante a campanha toda e no último dia, ele deu entrada no
contrato, com umas 05 assinaturas, mas o valor era tão grande, que o contrato
foi encaminhado para análise da diretoria da LTN e o Sr. Josias, foi quem
conversou com as pessoas que assinaram o contrato e o mesmo foi publicado, numa
publicidade mais reduzida, mas para terem ideia da dimensão do valor, este
contrato sozinho representava mais de 40% de todo o valor vendido por todos os
vendedores da minha equipe.
Outro vendedor inesquecível foi o Oswaldo, também
conhecido como Mineirinho ou Mineiro. Era natural de Uberaba e era uma
tranquilidade em pessoa. Fala mansa, sempre na paz, fazia bem seu trabalho. Tenho muita gratidão ao Paulo Cesar Maneta, um ex
bancário, tinha um trabalho de ótima qualidade. Era um vendedor extremamente
correto, que o levou posteriormente ocupar um cargo de supervisor e o Azael, conhecido como Maizena, era ainda um vendedor novato, mas durante o desenvolvimento da campanha, foi
adquirindo experiência e jogo de cintura e o levou a ficar entre os primeiros
da campanha. Grande vendedor!
Teve uma situação inusitada
nesta campanha. Tinha uma ficha especial da empresa, creio que a Atlas
Transporte, que era resolvida pelo pai do Inocêncio (Nonô), que na campanha
trabalhava na equipe do Meneghetti e ficou combinado que a ficha seria
resolvida por ele, mas o resultado financeiro deste trabalho seria sorteado
entre as quatro equipes. Eu ganhei o sorteio e fiquei com a renda, que
praticamente desempatou a meu favor, a disputa que estava tendo com a equipe do
Meneghetti.
No dia da premiação, houve uma
cerimônia onde foram reunidos todos os vendedores, supervisores e pessoal
administrativo e após discursar o Thomaz, Sr. Josias, fui chamado para receber
o troféu e fazer o agradecimento, mas quem disse que a voz saia. A emoção era tanta,
que estava prestes a chorar. Eu segurei o troféu e acenei a todos, dizendo
muito obrigado e sai dali rapidinho. Depois fui comemorar com a equipe.
Situações engraçadas acontecia
entre os supervisores, algumas já contadas, mas recordo certa ocasião, num
hotel no Rio de Janeiro, eu usando binóculos de um supervisor, estava espiando
pela janela o que parecia ser uma mulher nua, mas depois da cena ser analisada
pelos outros supervisores, chegaram à conclusão que a mulher nua era na
realidade um abajur. Imaginem a gozação!
Até a proxima semana.
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