terça-feira, 21 de novembro de 2017

A MORTE PEDIU CARONA E EU QUASE PAREI PARA ELA

Fortaleza - todos merecem conhece-la
De volta à São Carlos, a vida voltou a rotina de vendas. Algumas viagens até São Paulo, outras nas cidades circunvizinhas, cada dia aprendendo alguma coisa nova, até que num determinado dia, lendo o Diário Oficial, notei que haveria uma concorrência publica em Fortaleza para compra dos aparelhos que vendíamos. Concorrência publica, para quem nunca participou é a venda mais tranquila e a mais complicada que existe. Você não tem que dialogar com ninguém, apresentar vantagens comerciais ou técnicas, você tem apenas que estar apto para participar do embate e para isso são exigidos muitos documentos e declarações. Você tem que apresentar certificados de  pagamentos de INPS, FGTS, PIS, Confins, Contrato social, numero de funcionários da empresa, currículos dos funcionários responsáveis por setor e montar um planilha técnica do produto e outra planilha de preço. De verdade, isto leva em média 03 dias bem trabalhado para estar tudo em ordem.

Ao chegar no local da concorrência, o pregoeiro recebe as propostas das empresas, todas em 02 envelopes lacrados, num constando os documentos e no outro a proposta de preço. Aberto o pregão, todos os participantes começam a conferir a documentação do concorrente e se estiver faltando um documento, você é eliminado sumariamente. Quando tudo esta conferido, as empresas consideradas aptas começam a participar de um leilão, onde a ganhadora será aquela que oferecer o melhor preço. Simples assim.

Bem, esta introdução é apenas para dar inicio a um dos momentos mais tensos e que senti mais medo em toda minha vida de viajante.  Fui chamado na diretoria da empresa e perguntaram se eu poderia ir de carro a Fortaleza participar da concorrência e eu prontamente aceitei. Ainda faltavam 15 dias para a data de abertura dos envelopes, mas por algum motivo que não consigo explicar, disse aos meus chefes que viajaria no dia seguinte e iria aproveitar para divulgar a empresa visitando alguns laboratórios no caminho. Na realidade, estava querendo chegar logo em Fortaleza, onde o Manoel morava e ficar uns dias de folga.  Tudo acertado me adiantaram um pouco de dinheiro e a promessa de depositar em minha conta valores, na medida em que eu fosse precisando para gasolina, hotel e refeição.

No dia da partida, sai cedo e pretendia dormir em João Monlevade, pra que não conhece, fica uns 80 quilômetros depois de Belo Horizonte. A viagem foi tranquila, embora já chegando a João Monlevade, tive que enfrentar, sob muita chuva, um longo trecho de estrada muito sinuosa, mas cheguei sem nenhum problema no hotel.  Minha meta para o dia seguinte era chegar a Vitoria da Conquista e dependendo do estado da estrada, talvez a Jequié, ambas as cidades já na Bahia.


A curva que me acidentei pode ter sido esta, segundo o Google
Tomei um café reforçado e comecei minha viagem em direção a Vitoria da Conquista. A primeira cidade, saindo de João Monlevade, pela Rodovia MG 381 é Bela Vista de Minas, um lugar pequeno, localizado no pé de um grande morro. Bem, eu estava viajando tranquilo, embora com chuva, subindo uma grande ladeira e bem no alto desta ladeira, a pista tem uma curva fechada, que de um lado tem as paredes do morro e do outro um precipício . Não sei como esta aquela estrada hoje, mas naquele dia que eu passei por lá, não havia nenhuma proteção.  A curva, não era difícil de ser feita, creio que com o tempo seco, poderia ser contornada, sem dificuldades com velocidade de 80 km por hora, mas no momento que eu estava passando por ela meu carro derrapou no óleo deixado pelos caminhões e o carro saiu girando em direção ao abismo e como ainda não era minha hora, o carro caiu com a roda esquerda traseira num buraco e parou.


 Embora tenha parado, o carro ficou atravessado na pista contrária e eu estava desesperado, querendo tirar o carro daquela posição e nem estava imaginando o perigo que havia corrido. Só queria tirar o carro daquele local,  pois tinha medo que algum outro veiculo viesse de encontro. Com muito esforço, consegui endireitar um pouco o carro, deixando-o alinhado com a pista contrária, mas já não conseguia rodar mais, pois o eixo traseiro havia quebrado com a pancada. Demorou uns 30 minutos para chegar um carro guincho da cidade de Bela Vista de Minas. Com meu carro guinchado e começar a seguir em direção a cidade, não tinha ainda percorrido nem uns 100 metros, um carro derrapa na mesma curva e passam reto em direção ao abismo. Se eu tivesse ficado ali mais uns minutos, este veiculo iria se chocar diretamente  com o meu e ai o resultado poderia ter sido outro. Neste acidente, no carro que caiu no abismo tinha 03 pessoas todas morreram.




Meu deu uma crise de nervo, de medo, uma coisa muito estranha. Nunca senti nada deste jeito. A impressão é que eu tinha alguma coisa muito forte ao meu lado, me protegendo. Meu anjo da guarda me afastou da morte aquele dia.
Fiquei parado em Bela Vista de Minas por 04 dias esperando chegar um novo eixo e neste tempo acompanhei a angustia das famílias das pessoas que haviam morrido. Eram todos moradores da cidade e a consternação era geral. Fiquei sabendo depois que já tinham acontecido muitos acidentes naquela curva, alguns com vitimas fatais.



Tradicional feirinha de artesanato de Fortaleza - Imperdivel

Quando o carro ficou pronto, segui viagem para Fortaleza e o resto da viagem foi tudo tranquilo, mas posso dizer que a morte me pediu carona e eu quase parei para ela montar.


Continua 

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