sexta-feira, 10 de novembro de 2017

UMA NOVA ERA


Quando resolvi deixar a LTN e partir para uma aventura empresarial, hoje posso dizer suicida, não imaginava o quanto difícil iria ficar minha vida no aspecto financeiro.  Eu não tinha um super salário, mas o que ganhava era um valor muito maior que eu poderia almejar no mercado, pois ele me proporcionava uma boa vida, bem como a toda minha família.

Com o passar dos dias, o barco dava mostra de afundar. A editora que havíamos montado, parte pela situação econômica do Brasil na época e parte pelo desentendimento entre os sócios, já não estava produzindo o suficiente nem para pagar as despesas mínimas necessárias, e com isso, passamos a ficar sem salário, o que nos obrigou a passar usar a poupança para as nossas despesas pessoais. A duras penas, conseguimos sobreviver neste estado mais uns 06 meses e ai começou a debandada.


A Editora Paulista, que originalmente era composta de 11 sócios, passou para o comando de apenas 03 e acabou encerrando as atividades meses depois. Era o fim de um sonho  e o inicio de um pesadelo. O que fazer para manter a família? Acostumado com uma vida fácil, boa comida, hotéis de primeira qualidade, viagens constantes, de uma hora para outra, estava do outro lado, sem dinheiro, com cartões de créditos estourados e bloqueados, nome do SPC, cheques devolvidos e o pior, desempregado.

Dava impressão que o mundo havia parado. Todas as portas que conhecia estavam fechadas e o que eu sabia fazer? Ajudante de carpinteiro com meu pai ou vendedor. Mas vender o que? Tentei planos de saúde, rifas, carnê de sorteio de automóveis para um clube, mas nada dava certo. O que conseguia ganhar, mal dava para comprar comida para a família. Foi um período agonizante. Diz um ditado popular “que não tem mal que não acabe e bem que sempre dure”. E um dia, por acaso, somente por acaso, este período, que parecia uma tempestade tropical, cessou.

Voltando para casa, depois de uma semana trabalhando com plano de saúde da Blue Life em Ribeirão Preto, passei por uma festa tradicional na minha cidade e encontro um colega, que havia conhecido numa entrevista de emprego e conversamos alguns momentos e ele deixou escapar que estava a procura de um novo emprego, pois não suportava a ideia de viajar quase que diariamente para um laboratório de analises clinicas da cidade, onde exercia a função de vendedor de produtos para realização de exames. Quando disse isso, me empolguei e disse que este emprego me interessava. Será que ele podia me apresentar aos proprietários para uma entrevista? Claro, com todo prazer, respondeu.


No dia seguinte, ele agendou uma entrevista com a coordenadora do laboratório e no dia marcado, vesti um terno e fui todo alinhado conversar sobre o emprego que meu colega já não se interessava mais. Confesso que diante da necessidade, esta foi talvez a entrevista mais tensa que fiz em toda minha vida. A pessoa que me entrevistou era uma japonesa, que media no máximo 1,50m e pesava, com muito esforço, uns 45 quilos e eu com 1,92 m e 120 quilos, causava um contraste estranho e ficamos conversando em pé uns 10 minutos. Eu suava, não tanto pelo calor, mas pela preocupação de não agradar a entrevistadora, quando ela finalmente começou a conversar. O povo japonês, via de regra, não são de falar muito no inicio de uma conversa com estranho.  Depois que pegam confiança, ai fica mais fácil e o dialogo flui.

Ela gostou de mim! Incrível, mas ela ficou encantada com minhas palavras, com minha disposição e disse uma frase que soou como musica: “gostei de você, vou te dar uma oportunidade”. Faltou pouco para eu dar um beijo naquele pedacinho de gente. Com o passar do tempo ficamos amigos e hoje sei que ela mora no Japão, mas foi, com toda certeza a pessoa mais importante na minha carreira que eu iniciava, sem saber nada de laboratório de analises clinicas. Se não fosse aquele encontro casual com meu colega, que nunca mais vi e a entrevista com esta japonesinha as historias que irei contar daqui para frente jamais existiriam.


A partir da minha contratação pela empresa Wama Diagnóstica, da área de laboratórios de analises clinicas, perdi contato com o pessoal da LTN e dos meus sócios, que acho justo citar, como forma de homenagem a coragem de empreender num projeto que tinha tudo para dar certo, mas por uma mudança na política brasileira (mais uma) tudo ficou inviabilizado. São eles: Dimitrios, A.Guerreiro. Pinatti, Aílton, Marco Antonio, Silva, Manoel, Prado, Paolo. Braw e eu. A expressão, trocar o certo pelo duvidoso nunca serviu tão bem, como no caso da Editora Paulista.

Vida de vendedor, agora de serviços laboratoriais.

Depois de superadas as normas burocráticas da admissão, fiquei a disposição da empresa, para fazer um curso básico de analises clinicas, para entender o que eu iria vender. Tratava-se de Kit para realização de exames de Rubéola, Toxoplasmose, HIV, e outros e começaram a aparecer palavras que nunca havia tido contato, como anticorpos, antígenos, reagentes, EDTA, citrato de sódio, plaquetas, hormônios, TGO, TGP, imunofluorescência e outras infinidades de nomes técnicos que desconhecia completamente.

A pessoa que foi indicada para me ensinar, um engenheiro químico, que estava com sua agenda lotada e não tinha tempo para ficar me ensinado, me  dava um monte de revistas técnicas para eu ler e prometia voltar em breve para tirar algumas duvidas. E eu ficava o dia todo lendo, lendo e entendendo muito pouco. Fiquei nesta situação uns 10 dias.

Passado este tempo, surgiu à necessidade de fazer uma viagem até Curitiba e o motorista da empresa que iria levar um biomédico para fazer a apresentação de um aparelho ficou doente e perguntaram se eu poderia fazer a viagem, visto que o técnico não sabia dirigir. Aceitei prontamente.

Durante a viagem, o biomédico não conversava muito, pois ainda não me conhecia, tinha que estudar o aparelho que iria fazer a apresentação e sofria do mal do sono do passageiro. Lia um pouco e dormia. É horrível dirigir com alguém dormindo ao seu lado, pois o sono contagia, mas era minha primeira viagem e precisava do emprego, fiquei na minha e chegamos a Curitiba, depois de 10 horas de viagem, sem nenhum incidente.


Quando nos hospedamos, eu entrei no meu quarto, quase tive uma crise de choro, pois o hotel era 04 estrelas e eu tinha passado os últimos dois anos dormindo até no chão ou no banco de trás do meu Chevette. Ali, sozinho, disse pra mim mesmo: vou mudar minha vida a partir de agora. Vou fazer desta área de laboratório a razão da minha vida e vou vencer.

No dia seguinte, fomos até um grande laboratório para fazer a apresentação e montamos o aparelho num pequeno auditório e quando tudo estava pronto, chegaram cerca de 20 pessoas para ver a demonstração da maquina, que era um lançamento mundial e iria revolucionar diversas técnicas de fazer alguns exames, tanto em tempo como em qualidade de resultado. Meu colega nunca havia feito nenhuma apresentação para uma plateia e começou a mostrar insegurança ao falar. Percebendo isso, eu, que nada sabia do uso do aparelho, mas sabia como entreter o publico, entrei na conversa e comecei a desviar um pouco o foco do publico, permitindo que ele readquirisse a confiança para seguir com o curso. 

Aquilo deu tão certo, que mantivemos esta parceria por mais de 01 ano e vendemos muitos aparelhos. No final deste tempo, eu já dominava bem a matéria e cheguei a realizar algumas vendas sozinho.

Continua...





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