Quando resolvi deixar a LTN e partir para uma aventura
empresarial, hoje posso dizer suicida, não imaginava o quanto difícil iria
ficar minha vida no aspecto financeiro.
Eu não tinha um super salário, mas o que ganhava era um valor muito maior
que eu poderia almejar no mercado, pois ele me proporcionava uma boa vida, bem
como a toda minha família.
Com o passar dos dias, o barco dava mostra de afundar. A
editora que havíamos montado, parte pela situação econômica do Brasil na época
e parte pelo desentendimento entre os sócios, já não estava produzindo o
suficiente nem para pagar as despesas mínimas necessárias, e com isso, passamos
a ficar sem salário, o que nos obrigou a passar usar a poupança para as nossas
despesas pessoais. A duras penas, conseguimos sobreviver neste estado mais uns
06 meses e ai começou a debandada.
A Editora Paulista, que originalmente era composta de 11
sócios, passou para o comando de apenas 03 e acabou encerrando as atividades
meses depois. Era o fim de um sonho e o
inicio de um pesadelo. O que fazer para manter a família? Acostumado com uma
vida fácil, boa comida, hotéis de primeira qualidade, viagens constantes, de
uma hora para outra, estava do outro lado, sem dinheiro, com cartões de créditos estourados e bloqueados, nome do SPC, cheques devolvidos e o pior,
desempregado.
Dava impressão que o mundo havia parado. Todas as portas que
conhecia estavam fechadas e o que eu sabia fazer? Ajudante de carpinteiro com
meu pai ou vendedor. Mas vender o que? Tentei planos de saúde, rifas, carnê de
sorteio de automóveis para um clube, mas nada dava certo. O que conseguia
ganhar, mal dava para comprar comida para a família. Foi um período agonizante.
Diz um ditado popular “que não tem mal que não acabe e bem que sempre dure”. E
um dia, por acaso, somente por acaso, este período, que parecia uma tempestade
tropical, cessou.
Voltando para casa, depois de uma semana trabalhando com
plano de saúde da Blue Life em Ribeirão Preto, passei por uma festa tradicional
na minha cidade e encontro um colega, que havia conhecido numa entrevista de
emprego e conversamos alguns momentos e ele deixou escapar que estava a procura
de um novo emprego, pois não suportava a ideia de viajar quase que diariamente
para um laboratório de analises clinicas da cidade, onde exercia a função de
vendedor de produtos para realização de exames. Quando disse isso, me empolguei
e disse que este emprego me interessava. Será que ele podia me apresentar aos proprietários
para uma entrevista? Claro, com todo prazer, respondeu.
No dia seguinte, ele agendou uma entrevista com a
coordenadora do laboratório e no dia marcado, vesti um terno e fui todo
alinhado conversar sobre o emprego que meu colega já não se interessava mais.
Confesso que diante da necessidade, esta foi talvez a entrevista mais tensa que
fiz em toda minha vida. A pessoa que me entrevistou era uma japonesa, que media
no máximo 1,50m e pesava, com muito esforço, uns 45 quilos e eu com 1,92 m e
120 quilos, causava um contraste estranho e ficamos conversando em pé uns 10
minutos. Eu suava, não tanto pelo calor, mas pela preocupação de não agradar a
entrevistadora, quando ela finalmente começou a conversar. O povo japonês, via
de regra, não são de falar muito no inicio de uma conversa com estranho. Depois que pegam confiança, ai fica mais
fácil e o dialogo flui.
Ela gostou de mim! Incrível, mas ela ficou encantada com
minhas palavras, com minha disposição e disse uma frase que soou como musica:
“gostei de você, vou te dar uma oportunidade”. Faltou pouco para eu dar um
beijo naquele pedacinho de gente. Com o passar do tempo ficamos amigos e hoje
sei que ela mora no Japão, mas foi, com toda certeza a pessoa mais importante
na minha carreira que eu iniciava, sem saber nada de laboratório de analises
clinicas. Se não fosse aquele encontro casual com meu colega, que nunca mais vi
e a entrevista com esta japonesinha as historias que irei contar daqui para
frente jamais existiriam.
A partir da minha contratação pela empresa Wama Diagnóstica,
da área de laboratórios de analises clinicas, perdi contato com o pessoal da
LTN e dos meus sócios, que acho justo citar, como forma de homenagem a coragem
de empreender num projeto que tinha tudo para dar certo, mas por uma mudança na
política brasileira (mais uma) tudo ficou inviabilizado. São eles: Dimitrios,
A.Guerreiro. Pinatti, Aílton, Marco Antonio, Silva, Manoel, Prado, Paolo. Braw
e eu. A expressão, trocar o certo pelo duvidoso nunca serviu tão bem, como no
caso da Editora Paulista.
Vida de vendedor, agora de serviços
laboratoriais.
Depois de superadas as normas burocráticas da admissão, fiquei
a disposição da empresa, para fazer um curso básico de analises clinicas, para
entender o que eu iria vender. Tratava-se de Kit para realização de exames de Rubéola,
Toxoplasmose, HIV, e outros e começaram a aparecer palavras que nunca havia
tido contato, como anticorpos, antígenos, reagentes, EDTA, citrato de sódio,
plaquetas, hormônios, TGO, TGP, imunofluorescência e outras infinidades de
nomes técnicos que desconhecia completamente.
A pessoa que foi indicada para me ensinar, um engenheiro químico,
que estava com sua agenda lotada e não tinha tempo para ficar me ensinado, me dava um monte de revistas técnicas para eu ler
e prometia voltar em breve para tirar algumas duvidas. E eu ficava o dia todo
lendo, lendo e entendendo muito pouco. Fiquei nesta situação uns 10 dias.
Passado este tempo, surgiu à necessidade de fazer uma viagem
até Curitiba e o motorista da empresa que iria levar um biomédico para fazer a
apresentação de um aparelho ficou doente e perguntaram se eu poderia fazer a
viagem, visto que o técnico não sabia dirigir. Aceitei prontamente.
Durante a viagem, o biomédico não conversava muito, pois
ainda não me conhecia, tinha que estudar o aparelho que iria fazer a
apresentação e sofria do mal do sono do passageiro. Lia um pouco e dormia. É horrível
dirigir com alguém dormindo ao seu lado, pois o sono contagia, mas era minha
primeira viagem e precisava do emprego, fiquei na minha e chegamos a Curitiba,
depois de 10 horas de viagem, sem nenhum incidente.
Quando nos hospedamos, eu entrei no meu quarto, quase tive
uma crise de choro, pois o hotel era 04 estrelas e eu tinha passado os últimos dois
anos dormindo até no chão ou no banco de trás do meu Chevette. Ali, sozinho,
disse pra mim mesmo: vou mudar minha vida a partir de agora. Vou fazer desta
área de laboratório a razão da minha vida e vou vencer.
No dia seguinte, fomos até um grande laboratório para fazer a
apresentação e montamos o aparelho num pequeno auditório e quando tudo estava
pronto, chegaram cerca de 20 pessoas para ver a demonstração da maquina, que
era um lançamento mundial e iria revolucionar diversas técnicas de fazer alguns
exames, tanto em tempo como em qualidade de resultado. Meu colega nunca havia
feito nenhuma apresentação para uma plateia e começou a mostrar insegurança ao
falar. Percebendo isso, eu, que nada sabia do uso do aparelho, mas sabia como
entreter o publico, entrei na conversa e comecei a desviar um pouco o foco do publico,
permitindo que ele readquirisse a confiança para seguir com o curso.
Aquilo deu
tão certo, que mantivemos esta parceria por mais de 01 ano e vendemos muitos
aparelhos. No final deste tempo, eu já dominava bem a matéria e cheguei a
realizar algumas vendas sozinho.
Continua...
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