sábado, 25 de novembro de 2017

CAMARÃO PARA OS MORADORES DE RUA

O titulo deste episódio pode parecer estranho, mas foi um dos momentos mais engraçado do meu tempo de vendedor de produtos para laboratório,  ainda na Wama Diagnóstica.

Paella Vallenciana
Como disse antes, a Wama era uma empresa nova, embora tivesse surgido a partir do Laboratório Médico Dr. Maricondi, uma empresa já bem consolidada na cidade de São Carlos,  por iniciativa do seu Diretor Presidente e os produtos que vendíamos ainda não haviam emplacado no mercado, devido a concorrência, situação financeira do Brasil, que ainda estava se recuperando do dinheiro que o Governo do Presidente Collor havia confiscado no primeiro dia de governo. Tínhamos  um aparelho que fazia leitura de placas para analisar alguns exames de imunologia, dois modelos de aparelho para realização do exame VHS, que era novidade mundial, um sistema que prometia água pura e ultrapura para uso laboratorial e pipetas austríacas, que embora de excelente qualidade, eram mais caras que as concorrentes brasileiras.
Modelos de pipetas
O dia a dia era muito intenso, muitas visitas e pouquíssimas vendas. Já estava temendo que a qualquer momento a empresa pudesse encerrar suas atividades.  Reconheço que na época foram muito ousados e continuaram investindo na empresa, mesmo com as vendas em baixa e hoje a WAMA se transformou numa empresa de âmbito internacional.

Local onde foi realizado o Congresso da SBPC em 1993
Naquela época, iria acontecer um Congresso de Patologia Clinica na cidade de Santos e o local escolhido para o evento foi o Shopping Miramar. Este congresso é muito concorrido e é realizado anualmente sob a chancela SBPC – Sociedade Brasileira de Patologia Clinica e tem por característica a presença de muitos proprietários de laboratórios de toda parte do Brasil e é o local ideal para realização de novas vendas e apresentação dos aparelhos.

Para incentivar o nosso desempenho, a diretoria da empresa prometeu pagar a vista, no termino do congresso, a comissão de todas as vendas realizadas. Eu e o meu amigo de viagem não deixava passar um congressista sem que o chamasse para o nosso stand e conhecesse nossos produtos. No final do 4° dia de congresso, havíamos vendido o valor equivalente a 06 meses de trabalho, o que ajudou muito no orçamento da empresa e no meu, em particular.

Como nada ocorre por acaso, ao lado do nosso stand estava o montado o stand do Laboratório LID. No dia a dia acabei fazendo amizade com os diretores desta empresa e fiquei de visita-los depois do congresso para instalar um sistema de purificação de água. Isto acabou ocorrendo um mês depois. Foi muito bom, pois além de efetuar a venda do aparelho, consegui arrumar emprego para meu filho Evandro, que viria a ser o primeiro vendedor de serviços de apoio a laboratórios. Foi o pioneiro de um mercado que só cresce, mas isto vai ficar para outra historia.

Durante o congresso, um grupo de empresários estava no nosso stand e era horário de almoço, e me convidaram para juntar a eles. Além de mim, foi também meu diretor, um parente  dele e mais 05 ou 06 pessoas.

Para meu poder de compra, o meu limite era um PF, mas como estava com o chefe e o pessoal  que estavam juntos também gostavam de uma boa comida, resolveram ir ao Restaurante Vista do Mar, na Praia do Embaré, ao lado da Praia do Gonzaga.

Este restaurante, cujo slogan é Rei da Paella Valenciana, é um dos melhores do Brasil e um dos mais caros também. Chegamos ao restaurante por volta de 13h30min horas e a casa estava praticamente vazia. Ajeitamos-nos numa mesa grande e veio o maitre oferecer os serviços e eles pediram a Paella, com entrada de casquinha de siri. Quantas para todos nós? – perguntou alguém. Creio que 05 serão suficientes, respondeu o maitre. Fechado!


Logo depois chegaram as casquinhas de siri, o couvert, refrigerantes e o grupo ficou conversando sobre negócios, família e outras besteiras enquanto o prato principal não chegava.  Passado uns 30 minutos, eis que começa a chegar o prato principal, mas era tanta comida, mas tanta comida, que daria para alimentar umas 30 pessoas tranquilamente. Houve protesto junto ao maitre, mas a comida estava na mesa, então vamos a ela. Os camarões eram enormes e muito. Um verdadeiro banquete. Confesso que comi tudo que podia e mais um pouco, mas era muito comida. Quando havíamos terminado, parecia que nem tínhamos almoçado. Tinha tanta comida sobrando, que até hoje tenho aquela imagem gravada na mente.

O volume era maior que o da foto, colhida no Google.
Para sacanear o maitre que tinha empurrado aquela quantidade enorme de comida, foi pedido que o que sobrou fosse colocado em “quentinhas”, que iríamos levar. Acredito que eles não esperavam por isso! Recolheram a sobra da comida e trouxeram a conta. Posso garantir que hoje aquele almoço custaria algo em torno de R$ 2.000,00. Bem, diz o ditado que cabrito bom não berra. Pagaram a conta e ficamos esperando as quentinhas. Quando elas ficaram prontas, creio que tinha mais de 15 lotadas até a boca com aqueles camarões enormes em cada uma delas.

Aquele dia eles almoçaram muito bem.
Colocamos numa caixa e voltamos para o congresso via praia e deparamos com um monte de mendigos deitados num canto da Praia do Gonzaga. Vamos dar esta comida para eles – disse um do pessoal do grupo. Voltamos com o carro, paramos ao lado deles e perguntamos se alguém queria comida. Foi um tal de neguinho levantando correndo e vindo em nossa direção e começamos a distribuir as quentinhas. Teve até que pegasse duas. E era engraçado vê-los todos felizes, comendo aqueles camarões com as mãos.

Voltamos para o Congresso e este foi o assunto contado varias vezes em diversas oportunidades. Coisas do Brasil!

Continua


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