ITAJAÍ - SANTA CATARINA |
Com o passar do tempo, fui me
adaptando ao mercado e recebi para trabalhar um veiculo Gol, 1989, já
refrigerado a água e este carro foi meu companheiro por 02 anos. As viagens eram constantes para diversas
cidades e a assim como eu, a empresa também era nova no segmento de produtos
para laboratórios. Havia sido fundado a menos de 02 anos, portanto era
totalmente desconhecida do mercado.
Isto era um complicador. Muitas
vezes você chegava num laboratório, tomava um tremendo chá de banco e era
recebido, quando era, por uma pessoa que não tinha nenhum poder de decisão.
Atendia por educação ou muitas vezes ninguém atendia. A própria secretária te
dispensava já no atendimento. Fase difícil a de implantação de uma marca. Hoje,
passados 25 anos de sua criação, a WAMA é conhecida em todo território nacional
e seus produtos também são importados para diversos países da América do Sul, África
e Oriente Médio.
O CARRO ERA BEM PARECIDO COM ESTE DA FOTO |
Bem, voltando ao meu carro, eu
utilizava um bagageiro, destes que se coloca e tira facilmente, para
transportar um volume maior, pois o espaço interno do Gol era pequeno. O mercado de analises clinica é muito concorrido,
e a melhor opção para se mostrar ao publico é a participação em congressos.
Eles acontecem com frequência e em diversos locais. É sempre uma ótima oportunidade
de se apresentar aos possíveis compradores e que seu produto é bom.
Num desses eventos, foi que
aconteceu a minha primeira aventura digna de ser contada. Fizemos a inscrição
para participar de um congresso regional que iria ser realizado na cidade de Itajaí,
cidade próxima à Florianópolis. A promessa do organizador era a participação de
500 congressistas, sendo a maioria donos de laboratórios e estudantes já em
fase de conclusão do curso de biomedicina, o que parecia ser ótimo para nós que
estávamos começando.
Resolvermos apostar alto neste
evento e para impressionar resolvemos levar 03 aparelhos diferentes, todos
modernos e revolucionários para a época, como uma leitora de placa, um aparelho
de VHS e um sistema de filtragem de água. Estes aparelhos valiam uns
$50.000,00, quase 10 vezes mais que o valor do carro. Como não cabiam dentro do
veiculo, a solução foi coloca-los no bagageiro, envolver com encerrado e
amarrar da melhor maneira. Estava tudo
pronto para empreender a viagem de mais de 2000 quilômetros com ida e volta.
Embora não fossem pesados, os
aparelhos deviam pesar no total uns 50 quilos, eram volumosos e sobre o carro
ficou um pacote de uns 80 cm de altura por 1,00 m de extensão, todo envolvido
em lona e bem amarrado e saímos para a viagem, logo pela manhã. O dia estava
nublado e para cortar caminho, tomei o destino de Sorocaba e desci aquela serra
estreita até Juquiá, onde peguei a BR 116 em direção a Curitiba. Até Piedade,
antes da serra, estava indo tudo bem, mas ao entrar na cidade, passei um pouco rápido
numa lombada e o bagageiro soltou. Sorte que estava devagar, pois o volume não
chegou a cair, mas esteve por alguns centímetros de causar um baita prejuízo e
uma provável demissão.
Cabeça da Anta - Ponto de Parada obrigatória na descida da Serra de Juquiá |
Descemos do carro e com muito esforço, prendemos
novamente o bagageiro e seguimos viagem com o maior cuidado na descida da
serra. Quando pegamos a BR-116, já na
altura de Registro, começou a chover forte, mas era muita chuva mesmo, tanto
que tivemos que parar num posto de gasolina e aproveitamos para verificar a
amarração. As cordas tinham afrouxados e os aparelhos, agora também por conta
da chuva, já tinha perdido a estabilidade.
Não dava mais para confiar na amarração e nas garras do bagageiro. Estávamos
correndo o risco de deixar os aparelhos caírem pela estrada e então fizemos a única
coisa possível. Uma nova amarração, só
que desta vez, passando a corda por dentro do carro, pelo vidro das portas. A
amarração ficou firme, mas para entrar no carro, somente pela janela. Imaginem
a cena: eu entrando num gol pela janela. Foi difícil fazer passar a barriga e
dali até Itajaí, foi um desconforto para dirigir, pois a corda passava atrás do
pescoço e o vidro não fechava totalmente e como chovia, entrava água no carro. Tivemos que fazer mais duas paradas e nelas as cenas
se repetiam: sair e entrar no carro pelas janelas.
Finalmente, sem mais incidentes,
chegamos a Itajaí, molhados, com dores no corpo, mas estava tudo bem. Fomos
para o hotel, arrumamos nossas coisas, e
depois fomos para o local do congresso para instalar os aparelhos e deixar tudo
pronto para o dia seguinte, quando o evento iria começar. Ao chegar ao local, estranhamos,
pois tratava de um colégio e os stands foram montados na área de recreio da
escola. Uma coisa muito estranha, mas como os organizadores eram pessoas muito
conceituadas no meio laboratorial, acreditamos que tudo estava dentro do
previsto. Montamos os aparelhos, os panfletos, deixamos tudo em ordem e vimos
que estávamos somente nós até aquele momento, embora houvesse alguns stands
vazios, com nome de outras empresas, desconhecidas para nós.
À noite, saímos para jantar e
resolvemos passar no local do congresso para ver como estava e vimos que haviam
chegado mais algumas empresas, todas da área farmacêutica, com milhares de
folders, amostra grátis de medicamentos. Nada a ver com o nosso mercado.
Voltamos para o hotel e no dia seguinte,
todo paramentado com terno e gravata, chegamos um pouco mais cedo para dar um
ultimo retoque no stand e aguardar os visitantes.
Normalmente, congressos abrem por volta de 09h00min
horas e quando este horário chegou, havia passado pelo stand apenas duas
pessoas, sendo uma delas o organizador e outra o responsável pela locação do
espaço. Nada de congressista. Nisso tocou a sirene do recreio e para nossa
surpresa, o colégio, no período da manhã tinha somente alunos cursando o
primário. Era criança pra todo lado, pegando panfletos, correndo de um lado
para o outro, uma barulheira infernal. Até remédio de amostra grátis acabaram
levando e nada de congressista.
A situação era parecida com a da foto, mas tinha crianças menores ainda |
Quando as crianças voltaram para
suas salas, o espaço dos stands estava uma verdadeira bagunça. Material de
publicidade das empresas expositoras estavam ali espalhados por todo lado, uma
orgia. Ai, todos os expositores se reuniram e fomos conversar com o
organizador, que disse que se sentia constrangido, que sentia muito, mas somente 06 congressista
confirmaram presença. O congresso que estava previsto para acontecer em 03
dias, acabou uma hora depois de ter começado. Um baita prejuízo.
Pensar que tínhamos passado tanto
sacrifício na viagem para nada era frustrante. Tentamos marcar alguma visita a
algum laboratório da região, mas não conseguimos e só restava voltar. Ai fiz uma coisa que resolveu o nosso problema
com a viagem. Fui numa oficina e pedi para o mecânico soldar o bagageiro no
carro. Vai estragar a pintura, disse ele. Manda brasa. Depois mandamos
repintar. E assim foi feito. O bagageiro
foi soldado, a pintura nunca foi feita e o carro foi vendido tempos depois do
mesmo jeito que trabalhei com ele por quase dois anos.
Continua.
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