terça-feira, 14 de novembro de 2017

RUMO A ITAJAÍ – SANTA CATARINA


ITAJAÍ - SANTA CATARINA

Com o passar do tempo, fui me adaptando ao mercado e recebi para trabalhar um veiculo Gol, 1989, já refrigerado a água e este carro foi meu companheiro por 02 anos.  As viagens eram constantes para diversas cidades e a assim como eu, a empresa também era nova no segmento de produtos para laboratórios. Havia sido fundado a menos de 02 anos, portanto era totalmente desconhecida do mercado.

Isto era um complicador. Muitas vezes você chegava num laboratório, tomava um tremendo chá de banco e era recebido, quando era, por uma pessoa que não tinha nenhum poder de decisão. Atendia por educação ou muitas vezes ninguém atendia. A própria secretária te dispensava já no atendimento. Fase difícil a de implantação de uma marca. Hoje, passados 25 anos de sua criação, a WAMA é conhecida em todo território nacional e seus produtos também são importados para diversos países da América do Sul, África e Oriente Médio.

O CARRO ERA BEM PARECIDO COM ESTE DA FOTO
Bem, voltando ao meu carro, eu utilizava um bagageiro, destes que se coloca e tira facilmente, para transportar um volume maior, pois o espaço interno do Gol era pequeno.  O mercado de analises clinica é muito concorrido, e a melhor opção para se mostrar ao publico é a participação em congressos. Eles acontecem com frequência e em diversos locais. É sempre uma ótima oportunidade de se apresentar aos possíveis compradores  e que seu produto é bom.

Num desses eventos, foi que aconteceu a minha primeira aventura digna de ser contada. Fizemos a inscrição para participar de um congresso regional que iria ser realizado na cidade de Itajaí, cidade próxima à Florianópolis. A promessa do organizador era a participação de 500 congressistas, sendo a maioria donos de laboratórios e estudantes já em fase de conclusão do curso de biomedicina, o que parecia ser ótimo para nós que estávamos começando.

Resolvermos apostar alto neste evento e para impressionar resolvemos levar 03 aparelhos diferentes, todos modernos e revolucionários para a época, como uma leitora de placa, um aparelho de VHS e um sistema de filtragem de água. Estes aparelhos valiam uns $50.000,00, quase 10 vezes mais que o valor do carro. Como não cabiam dentro do veiculo, a solução foi coloca-los no bagageiro, envolver com encerrado e amarrar da melhor maneira.  Estava tudo pronto para empreender a viagem de mais de 2000 quilômetros com ida e volta.











Embora não fossem pesados, os aparelhos deviam pesar no total uns 50 quilos, eram volumosos e sobre o carro ficou um pacote de uns 80 cm de altura por 1,00 m de extensão, todo envolvido em lona e bem amarrado e saímos para a viagem, logo pela manhã. O dia estava nublado e para cortar caminho, tomei o destino de Sorocaba e desci aquela serra estreita até Juquiá, onde peguei a BR 116 em direção a Curitiba. Até Piedade, antes da serra, estava indo tudo bem, mas ao entrar na cidade, passei um pouco rápido numa lombada e o bagageiro soltou. Sorte que estava devagar, pois o volume não chegou a cair, mas esteve por alguns centímetros de causar um baita prejuízo e uma provável demissão.

Cabeça da Anta - Ponto de Parada obrigatória na descida da Serra de Juquiá

Descemos do carro e com muito esforço, prendemos novamente o bagageiro e seguimos viagem com o maior cuidado na descida da serra.  Quando pegamos a BR-116, já na altura de Registro, começou a chover forte, mas era muita chuva mesmo, tanto que tivemos que parar num posto de gasolina e aproveitamos para verificar a amarração. As cordas tinham afrouxados e os aparelhos, agora também por conta da chuva, já tinha perdido a estabilidade.  Não dava mais para confiar na amarração e nas garras do bagageiro. Estávamos correndo o risco de deixar os aparelhos caírem pela estrada e então fizemos a única coisa possível.  Uma nova amarração, só que desta vez, passando a corda por dentro do carro, pelo vidro das portas. A amarração ficou firme, mas para entrar no carro, somente pela janela. Imaginem a cena: eu entrando num gol pela janela. Foi difícil fazer passar a barriga e dali até Itajaí, foi um desconforto para dirigir, pois a corda passava atrás do pescoço e o vidro não fechava totalmente e como chovia, entrava água no carro. Tivemos  que fazer mais duas paradas e nelas as cenas se repetiam: sair e entrar no carro pelas janelas.

Finalmente, sem mais incidentes, chegamos a Itajaí, molhados, com dores no corpo, mas estava tudo bem. Fomos para o hotel,  arrumamos nossas coisas, e depois fomos para o local do congresso para instalar os aparelhos e deixar tudo pronto para o dia seguinte, quando o evento iria começar. Ao chegar ao local, estranhamos, pois tratava de um colégio e os stands foram montados na área de recreio da escola. Uma coisa muito estranha, mas como os organizadores eram pessoas muito conceituadas no meio laboratorial, acreditamos que tudo estava dentro do previsto. Montamos os aparelhos, os panfletos, deixamos tudo em ordem e vimos que estávamos somente nós até aquele momento, embora houvesse alguns stands vazios, com nome de outras empresas, desconhecidas para nós.

À noite, saímos para jantar e resolvemos passar no local do congresso para ver como estava e vimos que haviam chegado mais algumas empresas, todas da área farmacêutica, com milhares de folders, amostra grátis de medicamentos. Nada a ver com o nosso mercado. Voltamos para o hotel  e no dia seguinte, todo paramentado com terno e gravata, chegamos um pouco mais cedo para dar um ultimo retoque no stand e aguardar os visitantes.  

Normalmente, congressos abrem por volta de 09h00min horas e quando este horário chegou, havia passado pelo stand apenas duas pessoas, sendo uma delas o organizador e outra o responsável pela locação do espaço. Nada de congressista. Nisso tocou a sirene do recreio e para nossa surpresa, o colégio, no período da manhã tinha somente alunos cursando o primário. Era criança pra todo lado, pegando panfletos, correndo de um lado para o outro, uma barulheira infernal. Até remédio de amostra grátis acabaram levando e nada de congressista.
A situação era parecida com a da foto, mas tinha crianças menores ainda

Quando as crianças voltaram para suas salas, o espaço dos stands estava uma verdadeira bagunça. Material de publicidade das empresas expositoras  estavam ali espalhados por todo lado, uma orgia. Ai, todos os expositores se reuniram e fomos conversar com o organizador, que disse que se sentia constrangido,  que sentia muito, mas somente 06 congressista confirmaram presença. O congresso que estava previsto para acontecer em 03 dias, acabou uma hora depois de ter começado. Um baita prejuízo.

Pensar que tínhamos passado tanto sacrifício na viagem para nada era frustrante. Tentamos marcar alguma visita a algum laboratório da região, mas não conseguimos e só restava voltar. Ai  fiz uma coisa que resolveu o nosso problema com a viagem. Fui numa oficina e pedi para o mecânico soldar o bagageiro no carro. Vai estragar a pintura, disse ele. Manda brasa. Depois mandamos repintar.  E assim foi feito. O bagageiro foi soldado, a pintura nunca foi feita e o carro foi vendido tempos depois do mesmo jeito que trabalhei com ele por quase dois anos.

Continua.



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