terça-feira, 26 de dezembro de 2017

QUANDO TUDO COMEÇA ACONTECER E A SE MISTURAR


PRAIA DA BOA VIAGEM - RECIFE
Com a filial de Recife funcionando, fiquei por lá mais uns 20 dias  e num final de semana, o Antonino me convidou para uma festa de aniversário em sua casa. Como a vida de viajante só tem atividade de segunda a sexta no horário comercial e na maioria das vezes, os finais de semana, ao contrario do que a maioria pensa, é uma solidão total. Quem não viaja, tem a falsa idéia que a pessoa que trabalha viajando tem uma vida de farra, o que não corresponde com a verdade, pois sempre você esta sozinho e sempre numa cidade estranha. As amizades são comerciais. Não se cria raízes. Isto só acontece com o passar dos tempos.

Neste dia aceitei o convite. Ao chegar no local da festa fui muito bem recebido. Me senti o Rei da Cocada Preta. Todos os presentes não pouparam esforços para que eu ficasse completamente a vontade. Foram muito gentis.

Como contei no capitulo anterior, as vezes o acaso participa de uma forma incrível no destino de uma pessoa. Nesta festa, conheci 03 amigos do Antonino: Gustavo Moraes, Stephenson Duarte Veras e um tenente da policia militar, cujo apelido era Banana. A amizade entre nós foi instantânea.

Gustavo - Luis - Antonino e Stephenson em visita recente a minha casa

O Gustavo era o animador da festa. Tocava violão com maestria, contava piadas, fazia todo mundo feliz. Estava passando por uma fase difícil financeiramente e trabalhava com auto peças. O outro, Stephenson também vivia um momento igual. Para sobreviver, vendia aparelhos de ginastica, Vi um grande talento nos dois, mas naquele momento eu não podia fazer nada para ajuda-los.

No outro lado do Brasil, especificamente em São Paulo, havia dois laboratórios que agora atuavam também na área de apoio: o SAE e o Endocenter. Durante um congresso que houvera acontecido no Maksoud Plaza, conheci uma estudante de biomedicina, moradora do Rio de Janeiro, que trabalhava na área de corretagem de imoveis. Ficamos amigos e certo dia ela me ligou dizendo que iria deixar a imobiliária e se eu tinha alguma vaga para ela no LID. Como eu já tinha a equipe do Rio funcionando, não tinha como aproveita-la. Então, apelei para uma outra amiga minha que era diretora do SAE e pedi que a contratasse. Ela foi à São Paulo, mas não houve acordo e não foi contratada. Ela me ligou chateada com o que havia ocorrido. Pedi para aguardar um pouco que iria ver o que podia fazer para ajudar.

Restaurante do Hotel Maksoud Plaza - São Paulo

Liguei para outra pessoa amiga, a Cida, gerente do Endocenter e disse que tinha uma amiga do Rio de Janeiro que estava em São Paulo e que o SAE, embora tivesse prometido contrata-la, não tinha cumprido a parte do acordo e pedi a ela que desse uma oportunidade à minha indicação.  Ela aceitou e pediu para minha amiga ir estar com ela. Foi contratada imediatamente e começou a divulgar o Endocenter no Rio de Janeiro, com muito sucesso.
Neste ínterim, a vida no Recife seguia como esperado. O nosso escritório estava com boa produtividade e quando voltei lá para visitar mais alguns clientes, encontrei novamente com os amigos do Antonino e nesta ocasião o Gustavo pediu para eu arrumar um emprego para ele. Liguei novamente para o Endocenter e a Cida, uma pessoa generosa, mais uma vez atendeu meu pedido e o contratou. Dois amigos, dois laboratórios. Era uma briga sadia.

As amostras dos exames eram transportadas em tubos com esses.

Agora, vamos adiantar um pouco o relogio do tempo. Já no Pardini, o projeto que eu havia aprovado com a diretoria era montar escritórios em todas as capitais do Brasil e também nas principais cidades do interior. Assim foi feito. 09 anos depois do inicio do projeto eu tinha escritórios em todas estas regiões. Trabalhavam diretamente sob meu comando 06 supervisores de região, 65 vendedores, 30 motoqueiros e 25 secretárias. Eramos responsáveis por 80% da produção de exames que o Laboratório Hermes Pardini realizava diariamente. O faturamento mensal ultrapassava a casa dos R$ 14.000.000,00. O projeto que eu havia criado tinha tido exito total e a equipe que eu havia formado, sempre com pessoas que não tinham nenhum conhecimento da área, era a responsável por todo sucesso do empreendimento.

Voltando ao Recife, quando fui montar o escritório, conversei com o Stephenson e ofereci a ele o cargo de vendedor. Ele aceitou imediatamente. A condição de trabalho era aceitar o salario que  a empresa oferecia, alguma coisa na casa de 1,5 salario minimo, ter carro próprio e disposição para trabalhar muito. Lembro que ele apareceu no primeiro dia de trabalho com um automóvel Voyage, já bem judiado. Até brinquei com ele se o carro iria aguentar as viagens, pois naquela epoca atendíamos também João Pessoa por Recife.

Aguentou muitos quilômetros até ser trocado por um mais novo.

Então, voltando a ironia do destino, juntei 03 amigos de infância para trabalhar em 03 laboratórios diferentes na mesma região. Era uma guerra de foice no escuro, mas entre mortos e feridos, sobreviveram todos. Com o passar do tempo, com a minha saída do LID, o Antonino continuou trabalhando na empresa, fazendo um excelente trabalho. O Gustavo estava também se esforçando na divulgação do Endocenter, sem grandes avanços, parte por ser o Endocenter um laboratório desconhecido no Nordeste e enquanto isso o avanço das negociações com o Laboratório Pardini só crescia na região. Já eramos lideres de mercado. Estava na hora de partir para outro destino: Salvador.

Para despedir dos amigos, fizemos um churrasco numa sexta feira a noite, com muita musica e cerveja e o Gustavo veio conversar comigo e pediu para eu dar a vaga de Salvador para ele. Ponderei e achei a ideia arriscada. Estive prestes a dizer não, mas alguma coisa mais forte me dizia para aceitar. Era um risco, pois assim que o escritório estivesse montado, tinha que começar atender os clientes da região e colocar um vendedor que não conhecia Salvador, tinha uma grande chance de dar errado.


Salvador -  Um grande desafio - Um grande vendedor 
Mesmo em duvida, fiz um desafio para ele. Eu iria para Salvador na segunda feira. Durante a semana iria alugar uma sala, comprar moveis e na segunda feira da semana seguinte iria contratar a equipe. Se ele estivesse em Salvador até domingo, eu daria a vaga a ele. Era um risco calculado. Ele não conhecia a cidade, mas já tinha experiencia no trabalho. Minha aposta deu certo. Foi uma das melhores contratações que fiz durante toda minha jornada. Deu tão certo, que muito tempo depois ele deixou o Pardini e foi trabalhar em outro laboratório e continua na área até hoje, ainda morando em Salvador, onde criou sua familia e goza de grande prestigio na área laboratorial dos Estados da Bahia e Sergipe. Agora ele é o gerente geral destes dois estados. Mas teve uma situação engraçada que vale a pena ser lembrada: eu não poderia contratar o Gustavo logo em seguida a seu pedido de demissão do Endocenter. O diretor da empresa não queria perde-lo de forma alguma. Chegou até me ligar para que eu pudesse dissuadi-lo da idéia. Então fiz uma pequena alteração no seu nome de guerra para não ficar mal com meu concorrente. Em Salvador, seu nome para todo mundo, inclusive nos cartões de visita passou a ser Moraes. O nome Gustavo foi abolido. E assim ele ficou conhecido.

Com o passar do tempo, o crescimento do Pardini foi estrondoso. Crescíamos em média 20 a 30% ao mês. O aumento da produção fez com que a equipe técnica da empresa tivesse que reformar toda a estrutura interna, contratar novos funcionários, comprar novos equipamentos, informatizar. Uma verdadeira revolução. Os números da epoca quando comecei eram de 2500 a 3000 pacientes/dia. Quando deixei a empresa a produção ultrapassava 30.000 pacientes/dia. Foi uma epoca gloriosa.

Elisangela Moes - Grande amiga - Excelente profissional

Em Recife, o Stephenson havia escolhida a Elizangela Moes para ser a nossa secretária. Quando ela veio para a entrevista, recordo de uma brincadeira que fizemos com ela, que rendeu muitas risadas. Depois de conversarmos muito, já tinha decidido contrata-la, mas somente para sacanear um pouco, pedi para ela digitar um texto no computador que estava desligado. Eu desliguei o disjuntor  do computador e quando ela sentou para digitar, bateu o desespero nela, pois o computador não ligava e ela, mostrando profissionalismo, não queria dizer que não estava conseguindo ligar a maquina e ficava tentando e cada vez mais nervosa. Esta cena durou uns 05 minutos, até que ela capitulou.

Rimos muito e eu disse para ela ligar o disjuntor, que ficava junto a tomada onde o computador estava instalado. Ela, toda ruborizada, ligou a maquina e digitou o texto que eu havia solicitado. Ela foi tão bem, que até hoje, quase 15 anos depois, ainda continua fazendo sucesso na área, agora na condição de vendedora em um outro laboratório, cujos gerentes, que cuidam de toda a região nordeste a partir de Alagoas até Manaus, são o Antonino e o Stephenson.

Grandes amigos! Grandes historias!

Quando o destino conspira a favor, até o impoderavel acontece.
Continua




sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

QUANDO O ACASO CONSPIRA A FAVOR

Fernando - Antoninio - Luis e Gustavo

Muitas vezes as historias de vida se entrelaçam de uma maneira tão intensa que a explicação para quando isso acontece podemos dizer que o acaso esta conspirando.

Ainda estava trabalhando no LID, quando fui designado a montar uma filial na cidade de Recife. A decisão de optar por aquela capital se deu em virtude do grande sucesso que obtivemos num Congresso de Analises Clinicas realizado no Centro de Convenções de Olinda.

Conquistamos neste congresso um numero tão grande de clientes que fomos obrigado a quebrar o planejamento e montar uma equipe de apoio imediatamente. A diretora da empresa retornou à São Paulo e eu fiquei sozinho para organizar, alugar um imovel, comprar moveis, selecionar e treinar o pessoal, que seria um motorista, que teria também a função de vendedor e uma secretaria.
Comecei a procura pelo imóvel e acabei encontrando uma sala num predio recém inaugurado na Avenida Domingos Ferreira, 670. Era um predio todo voltado para a área médica, Clinical Center, portanto, um ótimo lugar para ficarmos instalados.
Clinical Center de Recife - O primeiro escritorio do LID


Depois de resolvido os problemas burocráticos para locação da sala, a próxima etapa seria selecionar os funcionários. Como não tinha nenhuma indicação de candidatos, resolvi colocar um anuncio de bom tamanho no Diário do Commercio, pedindo aos eventuais interessados, comparecerem para entrevista no predio onde a sala estava alugada, pois lá também havia um auditório.

Segunda feira, pela manhã, quando cheguei no predio para iniciar meu trabalho e entrevistar alguns candidatos – esperava que tivesse uns 10 – notei uma fila enorme na frente do edificio. Era muita gente. Nem imaginava do que se tratava. Guardei o carro e quando cheguei na recepção do predio, o zelador disse que o pessoal  que estavam na fila do lado de fora do predio, estavam me aguardando.
Não pude acreditar! Como atender toda aquela multidão? Só tinha um jeito. Chamar em grupos de 50, que era a capacidade do auditório, explicar o projeto, quem poderia se candidatar ao cargo e que todos deixassem seus currículos, com telefone e salario, que eu ligaria marcando uma entrevista individual. Mas frisei que os currículos que não tivessem a pretensão salarial anotada, seriam sumariamente eliminados.


A fila se parecia muito com essa. Era muita gente.

Assim foi feito. Passei praticamente o dia todo atendendo os candidatos. Foram, no total, 420, sendo a proporção de 60% para o cargo de motorista e 40% para o cargo de secretária. Como não tinha um critério pré estabelecido, fiz a primeira seleção baseando no salario que eu pretendia pagar. Todos os candidatos que pediam salários acima do que estava previsto, já eram cortados.

No final da seleção, eu fiquei com quase 50 possíveis candidatos, que era ainda um numero muito alto e marquei para iniciar as entrevistas para segunda feira da semana seguinte. No sábado, antes das entrevistas, passei a manhã na Praia de Boa Viagem, curtindo um pouco de mar e sol e depois do almoço, resolvi passar no predio onde iria funcionar o escritório regional do LID. Não tinha nada para fazer lá. Apenas parei lá de bobeira. Estava conversando com o zelador, quando entrou um rapaz magrinho, que havia participado do primeiro processo de seleção.

- Boa tarde – disse ele. O senhor já fez a seleção? Estou muito precisando deste emprego.

- Boa tarde, respondi. Qual o seu nome?

- Antonino

Procurei a ficha dele e ela estava no grupo dos que eu havia descartado por conta do valor do salario pretendido. Ele se mostrava tão ansioso que fiquei com pena de dizer a ele estava fora do processo de seleção e pedi para voltar na segunda feira para a entrevista.


A foto mostra uma ideia de como era o ambiente

Segunda feira com o auditório lotado, comecei as entrevistas. Chamava à frente e numa mesa colocada na parte alta do auditório, o candidato subia uma escada, sentava numa cadeira de frente para mim e de costa para o publico e ali conversávamos por alguns minutos. Qualquer detalhes era o suficiente para desclassificar. O jeito de sentar, a forma de falar, de olhar etc..
.
Ao final do dia, havia selecionado 12 homens para o cargo de motorista e 08 mulheres para o cargo de secretária e entre eles estava o Antonino.  Pedi aos selecionados para voltarem no dia seguinte, que eu iria fazer uma redação para avaliar o conhecimento de cada um.

Um parenteses. A sala, por conta do predio estar recém construído, era a primeira locação. Ainda faltava conclui-la. Acertar detalhes nos banheiros, nas cortinas, ar condicionado. Tarefas que pretendia fazer tão logo estivesse com a equipe escolhida. Eu não tinha um tema definido para a redação e tive a ideia então de separar 2 grupos de 10 pessoas e pedi para eles irem visitar a sala  e escrever uma redação sobre o que viam nela.


A sala era totalmente vazia.

Como a sala estava vazia e suja, não havia o que ver. Eu esperava que eles vissem naquela sala a esperança de um novo emprego, de melhorar suas vidas, de dar conforto para suas famílias. Quando todos entregaram a redação, prometi ligar para os selecionados para uma ultima entrevista, que teria a presença da Diretoria do LID e do Manoel, que gentilmente se deslocou de Fortaleza para Recife, para dar também sua opinião sobre os melhores candidatos.

O engraçado é recordar as redações que foram apresentadas. Tinham contando o numero de azulejos no banheiro, riscos nas paredes, fios do ar condicionado, enfim, um relatório completo de tudo que havia na sala, mas somente duas pessoas captaram o espirito da redação, conforme eu havia imaginado: o Antonino e uma moça chamada Wania.


Meu grande amigo Manoel. Me ajudou muito na seleção 

Para a seleção final, convoquei 06 candidatos que haviam se saído melhor nas entrevistas, mas eu já tinha os meus eleitos, que eram o Antonino e a Wania, mas a palavra final seria dada pela Diretora e também pelo Manoel. Eles fizeram as entrevistas, fizeram muitas perguntas e no final deu a logica: os que eu havia escolhido foram os contratados.

Puro acaso. A contratação do Antonino deu inicio a uma cadeia de acontecimentos que até hoje a historia não acabou, mas isto vai ficar para uma próxima vez.

Desejo a todos que me acompanham um Feliz Natal e um 2018 com muita prosperidade.




quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

UM GOLPE DE SORTE

Com a contratação da Cleide em Fortaleza e o Manoel como agente de publicidade numa radio FM de Fortaleza, meu trabalho naquela cidade ficou fácil e depois de uns dias por lá, parti para novos horizontes. O foco era melhorar a rentabilidade do Rio de Janeiro, que tinha um grande potencial a ser explorado.
Apolo - Era um carrão na epoca.

Eu precisava de um carro para trabalhar e o LID, embora já tivesse comprado um carro para Fortaleza, ainda não tinha o meu. Fazia as viagens com o carro que tivesse a disposição, as vezes era um bom carro, as vezes uma sucata. Certo dia, me chamaram para conversar a respeito e disseram que iriam me fornecer um carro quando retornasse de uma viagem aos Estados Unidos e neste período eu poderia utilizar o carro da filha deles, um automóvel Apolo, semi novo. Mas antes de pegar o veiculo, o famoso sermão: todo cuidado do mundo, pois minha filha não sabe que o carro vai ser usado, etc...

Como havia dito na capitulo anterior, eu tinha arrumado emprego para meu filho Evandro para trabalhar no interior de São Paulo e quebrando uma regra de não contratar parente, o LID me contratou também. Eramos os únicos parentes na empresa.

Terminada a semana, eu pego o automóvel  Apolo da filha do dono da empresa, que já estava meio derrubadinho, mas era muito melhor que os Gols que a empresa as vezes me emprestava e fui para casa. Cheguei  a noite e todos ficaram curiosos em ver o carro, o que era perfeitamente normal, afinal, depois de quase 04 meses, era a primeira vez que eu  ia para casa com o carro da empresa. Antes era ônibus na sexta e na segunda para voltar.

No final de semana, a família estava toda reunida na minha casa. Havia nascido minha segunda neta, filha do Evandro. Num determinado momento, ele precisou ir a casa dele, que ficava cerca de 10 quilômetros da minha e pediu para ir com o carro Apolo. Meio ressabiado, concordei e ele foi com sua esposa e deixaram a netinha que havia nascido a poucos dia conosco. Era para eles voltarem no máximo em meia hora, mas começou a demorar o retorno, quando batem palma no portão de casa.
- Seu filho bateu o carro na marginal e esta preso nas ferragens.

Panico total! Fomos correndo para o local do acidente e lá chegando eles já haviam sidos retirados do carro e estavam com ferimentos leves, mas o carro estava destruído. Olha como foi: A marginal tem diversas curvas, sendo uma delas bem fechada e ao se aproximar dela ou o freio falhou ou meu filho teve algum mal súbito,  chocando o carro violentamente na traseira de um carro da policia civil, com 04 ocupantes e jogando o carro da policia dentro do riozinho  que corta a marginal. Foi uma queda de uns dois metros.Ainda com carro descontrolado, o Apolo foi de encontro de um muro de uns 4 metros de altura, que com o impacto, caiu parte dele sobre o veiculo, afundando o  capô e o teto do veiculo. Perda total.
O carro era outro, mas o estrago foi igual

Os policiais queria prender meu filho por achar que ele estava embriagado e tive que entrar no meio, me comprometer a ressarcir as despesas e tive sorte que um dos policiais conhecia minha família e ajudou a apaziguar o ambiente.  Minha nora ficou tão abalada, que teve que fazer um tratamento para não perder o leite para amamentar a minha neta recém nascida.

Bem, passado o susto, o carro foi guinchado para uma concessionaria e eu voltei a ficar a pé e de repente, o que estava  se mostrando ser um caminho de prosperidade, num momento, virou um pesadelo. Precisava contar para a empresa o que havia acontecido e com isso eu e meu filho poderíamos ser demitidos, mas quando relatei o ocorrido, eles ficaram bravos, mas entenderam e continuamos trabalhando. Para meu filho compraram um Fiat Uno zero e eu ganhei de presente para trabalhar, um automóvel Lada, semi novo.
Meu carro, Lada. Quebrava e faltava peças

Trabalhei com este carro um bom tempo. Quando quebrava, faltava peças de reposição e então tinha que fazer gambiarras para o carro continuar rodando. Um dia, no Rio de Janeiro, emprestei o carro para o vendedor ir ao aeroporto Santos Dumont buscar uma mercadoria. No caminho, ele perdeu o controle do veiculo e se chocou contra um poste de iluminação e a luminária, que parece pequena vista de baixo, caiu sobre o capô do veiculo, atingindo até a parte de cima do motor. Perda total. Mais uma vez eu estava sem carro.Me arrumaram, tempos depois um gol, aquele com a frente quadrada, e este carro foi meu companheiro por muito tempo e viajei milhares de quilometros sem nenhum problema.
Goiânia - Uma linda cidade

Estava na epoca do congresso anual da SBAC – Sociedade Brasileira de Analises Clinicas e desta vez, na cidade de Goiânia e o LID iria participar. Eu lá chegando, notei que nosso stand ficava ao lado do stand do Instituto Medico Hermes Pardini e lá eles estavam sendo representados por  duas biomédicas,  que acabei ficando  amigo de ambas e sugeri a elas a possibilidade de contratar meu outro filho, o Fernando para fazer o serviço  de coleta, como meu filho Evandro fazia pelo LID. Percebi que haviam gostado da ideia, e a partir deste momento fui o maior cavalheiro  da historia: durante o tempo do congresso, eu as pegava no hotel pela manhã, levava-as para almoçar, para jantar, para sair a noite. Não desgrudei um minuto delas. Fui, na verdade, um guia turístico. Onde elas quisessem ir, lá estava eu para ajuda-las.

Terminado o congresso, voltei para a rotina , mas não deixei de pertuba-las com a idéia de contratar meu filho. Mandava para elas roteiros, listagem de possíveis clientes, quanto custaria o projeto, enfim, dava toda  consultoria para fazerem no Pardini o que eu tinha começado a fazer no LID. Já se aproximava o final do ano de 1995, quando recebi um telefonema do Pardini, pedindo para meu filho ir até Belo Horizonte para fazer entrevista, treinamento e contratação.  Fiquei extasiado de alegria, mas preocupado, pois o Fernando era ainda motorista inexperiente. Tinha pouco tempo de carteira e nunca havia dirigido em estradas.


Chegando em Belo Horizonte, foi muito bem recebido e ficou uns 03 dias fazendo um treinamento e finalmente decidiram que ele iria trabalhar na Região de Pouso Alegre e deram a  ele um carro, dinheiro para a viagem e reservaram um hotel na cidade para ele morar até conseguir mudar para a região, o que aconteceu meses depois, quando mudou para a cidade de  Mogi Mirim.
A vida seguiu, as festas natalinas de 1995 foram perfeitas. Eu e meus filhos estávamos trabalhando e tínhamos muito o que comemorar.  E foi realmente um final de ano muito feliz.

Logo no inicio de 1996, iria acontecer um Congresso Brasileiro de Endocrinologia, no Centro de Exposição de Salvador,  congresso que normalmente os laboratórios não participavam, mas como estava em alta pedir exames hormonais pelos médicos endocrinologistas, o LID resolveu montar um stand neste evento. O mesmo aconteceu com um grande laboratório de São Paulo, que era líder de mercado na época, a CRIESP, além do Instituto Hermes Pardini, que mais uma vez ficamos próximos e foi lá que tudo mudou.
Centro de Convenção de Salvador

Meu filho já estava trabalhando a cerca de 02 meses e estava indo bem. Eu não conhecia o Dr. Hermes Pardini, mas ele, através das bioquímicas que trabalharam em Goiânia e ter conhecido meu filho, veio numa tarde no stand do LID, quando eu estava sozinho e me fez uma proposta de emprego. Ele queria que eu fosse para o Pardini mais rápido possível e ofereceu um ótimo salario e todas as garantias trabalhistas, carro, hospedagem e comissão sobre o resultado alcançado. Aceitei de imediato.

Terminado o congresso, retornei a São Paulo e fui falar com a Diretoria do LID sobre a proposta que havia recebido e aceitado do Laboratório Hermes Pardini. Não deu outra. Virei inimigo no minuto seguinte. Foi um sufoco receber o salario do mês, mas mesmo assim, deixei a empresa e nunca mais, mesmo se encontrando em congressos, eles conversaram comigo. Quando havia a coincidência de estarmos na mesma hora , no mesmo ambiente, eles viravam as costas. Enfim, nunca mais conversarmos e a carreira do meu outro filho ainda sobreviveu por mais uns meses, mas ele também acabou saindo.
Unidade Aymores - Era a central do Pardini em 1995

Quando cheguei no Pardini, fiquei encantado com o tamanho da empresa. Trabalhava muita gente e o movimento era infinitamente maior que o do LID, mas era muito desorganizado, com rotinas ultrapassadas e o setor que eu fui contratado para gerenciar, tinha apenas 06 pessoas e ficava embaixo de uma escada. Cheguei a me perguntar se havia feito a escolha certa, pois mesmo sendo grandioso, a estrutura, no todo, era muito bagunçada.

No dia seguinte, fui chamado ao Departamento Pessoal, onde conheci uma pessoa que se tornou um grande amigo, dentro e fora da empresa, Jorge Goston. Ele, na época, era o responsável pelo Recursos Humanos da empresa e me explicou o funcionamento da empresa , as regras, os objetivos e principalmente o que a empresa esperava de mim. Foi tudo legal até que apresentou um contrato de trabalho com prazo de validade de 45 dias, renováveis por mais 45 dias. Confesso que gelei ao ver aquilo. Havia deixado um emprego onde eu era o manda chuva e estava assinando um contrato, que se algo desse errado, estaria desempregado  45  dias depois.
Dr. Hermes Pardini - Um dos maiores empresarios do Brasil.

Estes primeiros 90 dias foram os mais tensos da minha vida, pois, mesmo querendo fazer, faltava estrutura na empresa. Não havia comando. Não tinha a quem se reportar e ainda não tinha carta branca para realizar o meu trabalho. Neste ínterim, houve um acontecimento que contribuiu muito, vejo isso agora, para o meu  e para o sucesso da empresa. Uma das bioquímicas que eu havia conhecido em Goiânia, que também trabalhou para eu ser contratado, foi sumariamente demitida. Ai, eu perdi todo meu ponto de apoio. Agora estava literalmente sozinho, numa empresa que tinha mais de 800 funcionários.

Mas diz o ditado, que Deus escreve certo em linhas tortas. A partir daí passei a ter contato direto com o Dr. Hermes, que designou o Jorge para ser meu parceiro no projeto e ai as coisas começaram acontecer, mas isto é assunto para outras historias.




quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

O VENDEDOR DE LINGUIÇAS

Meu primeiro grande desafio na área de apoio

Quando estava por completar dois anos de empresa, houve uma sensível queda nas vendas, parte pelo mercado, parte pelos produtos, que embora fossem de boa qualidade, não tinham competitividade em comparação com produtos similares nacionais. Houve por bem então a empresa optar por deixar os equipamentos em segundo plano e partir para vendas de reagentes para realização de exames laboratoriais. No inicio, eu visitava inúmeros laboratórios, mas as vendas eram pequenas. Surgiu então a possibilidade de nomearmos empresas distribuidoras, que já tinham mercado formado.

Ideia aprovada sai a campo para procurar empresas que se adequasse as necessidades da Wama. Minha primeira parada foi em Curitiba e depois de uma semana naquela capital e ter visitado diversas empresas, finalmente encontrei uma e celebramos um acordo de representação exclusiva para o Estado do Paraná. Em seguida, aproveitando a indicação do representante da capital paranaense, fui visitar uma empresa em Florianópolis e também o nomeamos representante para aquele estado.

Minha missão terminava ali. Eu devia voltar para São Carlos, mas resolvi ligar para a Diretoria da Empresa e pedir permissão para ir até Porto Alegre, procurar outro representante. Devidamente autorizado, cheguei a Porto Alegre com uma lista de 30 empresas que atuavam no ramo. Se eu fosse visitar todas, talvez gastasse uns 10 dias. Resolvi então selecionar as 03 maiores e ver no que dava. Mas, tentando ganhar tempo, tentei agendar um encontro com os diretores das mesmas, mas nada de conseguir. Resolvi então ir direto ao maior deles e ver o que acontecia.

Cheguei nesta empresa por volta de 16:00 horas, já meio derrubado, cabelos despenteados, suado, pois o carro não tinha ar condicionado e estava começando a chover. Fechei o carro e corri rapidamente até a recepção da empresa e pedi  para conversar com um dos responsáveis da empresa. A secretaria olhou pra mim, pro meu estado e quase mandou chamar um segurança, mas por aquele acaso do destino, naquele momento, um dos assessores daquela empresa, que eu por acaso havia conhecido no Congresso de Santos, veio até a mim e perguntou o que eu estava fazendo perdido por lá. Expliquei o motivo da visita e ele prontamente me levou para conversar com o presidente da empresa. Foi o melhor negocio que fiz. Eles se tornaram os melhores representantes da empresa  em todo o Brasil e até hoje, 25 anos depois, ainda são os lideres de vendas de todos os distribuidores do Brasil.
Muito trabalho e muito calor em Cuiabá

Depois desta etapa, praticamente eu não tinha o que fazer na empresa. De quando em quando uma viagem e passava a maior parte parado no escritório e eu sabia que meu tempo na empresa estava acabando. Como disse antes, numa venda que fiz ao Laboratório LID, eu havia conseguido um emprego para meu filho e vi neste laboratório uma oportunidade de criar um serviço similar ao que meu filho vinha fazendo na região de São Carlos em todo o Brasil. Fui até eles e apresentei a ideia. Montaríamos um serviço de coleta de material nas principais capitais do Brasil. Ficaram de pensar. Minha condição era ter um salário fixo, carro e dinheiro para despesas de viagens e hospedagem.
O que estava prevendo acabou acontecendo. Certo dia, o diretor da empresa me chamou em sua sala e disse que o momento não estava bom para a empresa e que teria que me demitir, mas que as portas estavam abertas para eu voltar no futuro, caso quisesse, o que de certa forma acabou acontecendo 15 anos mais tarde
.
Sem emprego e sem nada em vista, resolvi investir na única chance que eu tinha de continuar trabalhando que era o Laboratório LID. Liguei para eles e depois de 02 semanas, finalmente marcaram uma reunião em São Paulo para discutirmos como seria o projeto. Neste tempo que fiquei em casa fiz um planejamento bem detalhado do que pretendia fazer, quem contratar, o custo do projeto e o possível resultado. A reunião estava marcada para acontecer às 14 horas e começou por volta de 19:00 horas. Fiquei sentado na sala de espera da diretoria por 05 longas horas, até que finalmente fui chamado e depois de um longo debate, consegui aprovar a ideia, mas eu não seria registrado pela CLT e teria 03 meses para fazer o projeto acontecer.

Voltando a Salvador pela primeira vez sem estar na LTN

Fechamos o acordo e da parte deles, além de um salário, ficou estabelecido que eu teria direito a um carro, despesas de viagens e hotelaria. O primeiro desafio foi o Rio de Janeiro. Lá tinha um laboratório que se considerava filial do LID, mas na pratica, não tinha nenhuma atuação junto a outros laboratórios.  Depois de 20 dias trabalhando no Rio de Janeiro, tomei a primeira decisão que mudou  o rumo do mercado de apoio a laboratório. Descredenciei  a empresa que representava o LID e contratei um motorista vendedor para visitar e fazer coletas nos laboratórios, a medida que fossem sendo cadastrados.

Trabalhei direto no Rio de Janeiro por cerca de dois meses e ao final deste tempo já tinha feito contrato com mais de 50 laboratórios e estávamos mandando diariamente para São Paulo uma caixa de isopor cada vez maior com as amostras  coletadas. Passei a partir daí a ter o apoio total da diretoria.

Dali, fui para Cuiabá, onde tinha uma situação similar ao Rio de Janeiro e fiz a mesma coisa. Mandei a empresa para e contratei uma vendedora da cidade e o resultado apareceu rapidamente. Tendo o Rio e Cuiabá produzindo muito bem, voltei minha atenção para o interior de São Paulo, onde trabalhei um tempo com meu filho e reestruturamos o sistema de coleta de exames para os moldes que existe hoje. Explicando: no inicio as coletas eram feitas semanalmente. O mesmo motorista visitava 05 rotas diferentes, sendo um por dia. Em São Carlos, com meu filho, resolvemos mudar o sistema e modificamos as rotas para as coletas serem feitas diariamente. A produção triplicou em menos de um mês. Foi um golpe de mestre.

Com tudo funcionando, agora o projeto previa expandir os negócios para outros horizontes, mas antes tinha que fazer um trabalho em Salvador, onde existia uma filial do LID, tocada por um médico  que era sócio da empresa. Ali trabalhei sozinho 15 dias, visitando laboratórios no interior da Bahia. Andei por dezenas de cidades, de Vitória da Conquista a Juazeiro e de Ilhéus a Feira de Santana. Era uma visita atrás de outra e no final consegui cadastrar umas 30 empresas, que passaram a enviar seus exames para o LID via correio.

O carro da linguiça era parecido com o da foto.

Mas meu projeto de expansão ainda não havia começado. Queria criar frentes de trabalhos novas e ai que começa uma nova historia envolvendo a LTN.

Volta à cena o meu amigo Manoel Santander. Nesta época, a LTN já tinha mudado sua forma de atuar e o escritório que eles tinham em Fortaleza havia sido fechado e o Mané ficou desempregado. Morando numa casa maravilhosa no Bairro Água Fria, pegado a Aldeota, bem próximo das praias, ele levava uma vida muito boa.  Ficando desempregado, ele e a Cleide, tiveram a ideia de produzir linguiça caseira e vende-la para o comercio em geral. Ele tinha comprado uma caminhonete com  carroceria de madeira e com cobertura de encerado.

A linguiça era produzida nos fundos de sua casa e havia até um quartinho feito especialmente para defumar a linguiça calabresa. Era uma vida muito sofrida. Semanalmente tinha que ir ao frigorífico comprar carne para o preparo e a carne para este tipo de embutido é a que fica grudada na  parte interna do couro do boi após o mesmo ser abatido. Fui com ele certa vez comprar esta carne e era um espetáculo muito triste, pois o carro ficava estacionado bem próximo de onde os bois eram mortos. Sentia o cheiro da morte no ar.

Frigorifico FriFor 

O Manoel saia para viajar pelo interior do Ceará nas segundas feiras e voltava somente quando havia vendido todo o estoque. Ele odiava aquele trabalho e a Cleide o dela, que era literalmente fazer e defumar a linguiça. Eu mantinha sempre contato por telefone com o Manoel e numa das conversas disse a ele que estava num novo projeto e gostaria de oferecer a ele a oportunidade de representar o LID em Fortaleza.

Ele ficou muito feliz com a ideia e eu marquei de visita-lo algum tempo depois. Quando cheguei a Fortaleza, o Manoel já estava desistindo do projeto de vendedor de linguiça e estava sendo contratado para ser representante comercial de uma Radio FM local. Iria vender anúncios para a emissora. Ele pediu que eu passasse o serviço do LID para a Cleide, que embora não tivesse por ela ainda uma grande amizade, reconhecia nela um grande talento para vendas e fechamos negócio.

Defumador de linguiça

Trabalhei uns dias com ela visitando alguns laboratórios de Fortaleza e prometi arrumar um carro para ela poder desempenhar suas funções, visto que ela utilizava para trabalhar um Fiat 147, importado de Ribeirão Preto, que já estava pra lá do fim de sua vida útil. Era uma sucata mesmo. Tempos depois consegui convencer a diretoria do LID e eles autorizaram a compra de um Gol 1996, tirado zero na agencia de Fortaleza. Ela trabalhou com este carro por muitos anos e quando saiu da empresa, ficou com o carro por conta de indenização.

A caranga na epoca foi tirada zerada na agencia


Muito tempo depois, a Cleide já dominava todo o mercado de Fortaleza e de varias cidades na região e tinha uma carteira de cliente muito forte. Com esta experiência, ela foi convidada a trabalhar num outro laboratório, chamado Álvaro, onde continuou fazendo sucesso. Um dia o Manoel a acompanhou, mas isto é outra historia.