PRAIA DA BOA VIAGEM - RECIFE |
Com
a filial de Recife funcionando, fiquei por lá mais uns 20 dias e num final de semana, o Antonino me convidou
para uma festa de aniversário em sua casa. Como a vida de viajante só tem
atividade de segunda a sexta no horário comercial e na maioria das vezes, os
finais de semana, ao contrario do que a maioria pensa, é uma solidão total.
Quem não viaja, tem a falsa idéia que a pessoa que trabalha viajando tem uma
vida de farra, o que não corresponde com a verdade, pois sempre você esta
sozinho e sempre numa cidade estranha. As amizades são comerciais. Não se cria
raízes. Isto só acontece com o passar dos tempos.
Neste
dia aceitei o convite. Ao chegar no local da festa fui muito bem recebido. Me
senti o Rei da Cocada Preta. Todos os presentes não pouparam esforços para que
eu ficasse completamente a vontade. Foram muito gentis.
Como
contei no capitulo anterior, as vezes o acaso participa de uma forma incrível
no destino de uma pessoa. Nesta festa, conheci 03 amigos do Antonino: Gustavo
Moraes, Stephenson Duarte Veras e um tenente da policia militar, cujo apelido
era Banana. A amizade entre nós foi instantânea.
Gustavo - Luis - Antonino e Stephenson em visita recente a minha casa |
O
Gustavo era o animador da festa. Tocava violão com maestria, contava piadas,
fazia todo mundo feliz. Estava passando por uma fase difícil financeiramente e
trabalhava com auto peças. O outro, Stephenson também vivia um momento igual.
Para sobreviver, vendia aparelhos de ginastica, Vi um grande talento nos dois,
mas naquele momento eu não podia fazer nada para ajuda-los.
No
outro lado do Brasil, especificamente em São Paulo, havia dois laboratórios que
agora atuavam também na área de apoio: o SAE e o Endocenter. Durante um
congresso que houvera acontecido no Maksoud Plaza, conheci uma estudante de
biomedicina, moradora do Rio de Janeiro, que trabalhava na área de corretagem
de imoveis. Ficamos amigos e certo dia ela me ligou dizendo que iria deixar a
imobiliária e se eu tinha alguma vaga para ela no LID. Como eu já tinha a
equipe do Rio funcionando, não tinha como aproveita-la. Então, apelei para uma
outra amiga minha que era diretora do SAE e pedi que a contratasse. Ela foi à
São Paulo, mas não houve acordo e não foi contratada. Ela me ligou chateada com
o que havia ocorrido. Pedi para aguardar um pouco que iria ver o que podia
fazer para ajudar.
Restaurante do Hotel Maksoud Plaza - São Paulo |
Liguei
para outra pessoa amiga, a Cida, gerente do Endocenter e disse que tinha uma
amiga do Rio de Janeiro que estava em São Paulo e que o SAE, embora tivesse
prometido contrata-la, não tinha cumprido a parte do acordo e pedi a ela que
desse uma oportunidade à minha indicação.
Ela aceitou e pediu para minha amiga ir estar com ela. Foi contratada
imediatamente e começou a divulgar o Endocenter no Rio de Janeiro, com muito
sucesso.
Neste
ínterim, a vida no Recife seguia como esperado. O nosso escritório estava com
boa produtividade e quando voltei lá para visitar mais alguns clientes,
encontrei novamente com os amigos do Antonino e nesta ocasião o Gustavo pediu
para eu arrumar um emprego para ele. Liguei novamente para o Endocenter e a
Cida, uma pessoa generosa, mais uma vez atendeu meu pedido e o contratou. Dois
amigos, dois laboratórios. Era uma briga sadia.
As amostras dos exames eram transportadas em tubos com esses. |
Agora,
vamos adiantar um pouco o relogio do tempo. Já no Pardini, o projeto que eu
havia aprovado com a diretoria era montar escritórios em todas as capitais do
Brasil e também nas principais cidades do interior. Assim foi feito. 09 anos
depois do inicio do projeto eu tinha escritórios em todas estas regiões.
Trabalhavam diretamente sob meu comando 06 supervisores de região, 65
vendedores, 30 motoqueiros e 25 secretárias. Eramos responsáveis por 80% da
produção de exames que o Laboratório Hermes Pardini realizava diariamente. O
faturamento mensal ultrapassava a casa dos R$ 14.000.000,00. O projeto que eu
havia criado tinha tido exito total e a equipe que eu havia formado, sempre com
pessoas que não tinham nenhum conhecimento da área, era a responsável por todo
sucesso do empreendimento.
Voltando
ao Recife, quando fui montar o escritório, conversei com o Stephenson e ofereci
a ele o cargo de vendedor. Ele aceitou imediatamente. A condição de trabalho
era aceitar o salario que a empresa
oferecia, alguma coisa na casa de 1,5 salario minimo, ter carro próprio e
disposição para trabalhar muito. Lembro que ele apareceu no primeiro dia de
trabalho com um automóvel Voyage, já bem judiado. Até brinquei com ele se o
carro iria aguentar as viagens, pois naquela epoca atendíamos também João
Pessoa por Recife.
Aguentou muitos quilômetros até ser trocado por um mais novo. |
Então,
voltando a ironia do destino, juntei 03 amigos de infância para trabalhar em 03
laboratórios diferentes na mesma região. Era uma guerra de foice no escuro, mas
entre mortos e feridos, sobreviveram todos. Com o passar do tempo, com a minha
saída do LID, o Antonino continuou trabalhando na empresa, fazendo um excelente
trabalho. O Gustavo estava também se esforçando na divulgação do Endocenter,
sem grandes avanços, parte por ser o Endocenter um laboratório desconhecido no
Nordeste e enquanto isso o avanço das negociações com o Laboratório Pardini só
crescia na região. Já eramos lideres de mercado. Estava na hora de partir para
outro destino: Salvador.
Para
despedir dos amigos, fizemos um churrasco numa sexta feira a noite, com muita
musica e cerveja e o Gustavo veio conversar comigo e pediu para eu dar a vaga
de Salvador para ele. Ponderei e achei a ideia arriscada. Estive prestes a
dizer não, mas alguma coisa mais forte me dizia para aceitar. Era um risco,
pois assim que o escritório estivesse montado, tinha que começar atender os
clientes da região e colocar um vendedor que não conhecia Salvador, tinha uma
grande chance de dar errado.
Salvador - Um grande desafio - Um grande vendedor |
Mesmo
em duvida, fiz um desafio para ele. Eu iria para Salvador na segunda feira.
Durante a semana iria alugar uma sala, comprar moveis e na segunda feira da
semana seguinte iria contratar a equipe. Se ele estivesse em Salvador até domingo,
eu daria a vaga a ele. Era um risco calculado. Ele não conhecia a cidade, mas
já tinha experiencia no trabalho. Minha aposta deu certo. Foi uma das melhores
contratações que fiz durante toda minha jornada. Deu tão certo, que muito tempo
depois ele deixou o Pardini e foi trabalhar em outro laboratório e continua na
área até hoje, ainda morando em Salvador, onde criou sua familia e goza de
grande prestigio na área laboratorial dos Estados da Bahia e Sergipe. Agora ele
é o gerente geral destes dois estados. Mas teve uma situação engraçada que vale
a pena ser lembrada: eu não poderia contratar o Gustavo logo em seguida a seu
pedido de demissão do Endocenter. O diretor da empresa não queria perde-lo de
forma alguma. Chegou até me ligar para que eu pudesse dissuadi-lo da idéia.
Então fiz uma pequena alteração no seu nome de guerra para não ficar mal com meu
concorrente. Em Salvador, seu nome para todo mundo, inclusive nos cartões de
visita passou a ser Moraes. O nome Gustavo foi abolido. E assim ele ficou
conhecido.
Com
o passar do tempo, o crescimento do Pardini foi estrondoso. Crescíamos em média
20 a 30% ao mês. O aumento da produção fez com que a equipe técnica da empresa
tivesse que reformar toda a estrutura interna, contratar novos funcionários,
comprar novos equipamentos, informatizar. Uma verdadeira revolução. Os números
da epoca quando comecei eram de 2500 a 3000 pacientes/dia. Quando deixei a
empresa a produção ultrapassava 30.000 pacientes/dia. Foi uma epoca gloriosa.
Elisangela Moes - Grande amiga - Excelente profissional |
Em
Recife, o Stephenson havia escolhida a Elizangela Moes para ser a nossa
secretária. Quando ela veio para a entrevista, recordo de uma brincadeira que
fizemos com ela, que rendeu muitas risadas. Depois de conversarmos muito, já
tinha decidido contrata-la, mas somente para sacanear um pouco, pedi para ela
digitar um texto no computador que estava desligado. Eu desliguei o disjuntor do computador e quando ela sentou para
digitar, bateu o desespero nela, pois o computador não ligava e ela, mostrando
profissionalismo, não queria dizer que não estava conseguindo ligar a maquina e
ficava tentando e cada vez mais nervosa. Esta cena durou uns 05 minutos, até
que ela capitulou.
Rimos
muito e eu disse para ela ligar o disjuntor, que ficava junto a tomada onde o
computador estava instalado. Ela, toda ruborizada, ligou a maquina e digitou o
texto que eu havia solicitado. Ela foi tão bem, que até hoje, quase 15 anos
depois, ainda continua fazendo sucesso na área, agora na condição de vendedora
em um outro laboratório, cujos gerentes, que cuidam de toda a região nordeste a
partir de Alagoas até Manaus, são o Antonino e o Stephenson.
Grandes
amigos! Grandes historias!
Quando
o destino conspira a favor, até o impoderavel acontece.
Continua
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