terça-feira, 26 de dezembro de 2017

QUANDO TUDO COMEÇA ACONTECER E A SE MISTURAR


PRAIA DA BOA VIAGEM - RECIFE
Com a filial de Recife funcionando, fiquei por lá mais uns 20 dias  e num final de semana, o Antonino me convidou para uma festa de aniversário em sua casa. Como a vida de viajante só tem atividade de segunda a sexta no horário comercial e na maioria das vezes, os finais de semana, ao contrario do que a maioria pensa, é uma solidão total. Quem não viaja, tem a falsa idéia que a pessoa que trabalha viajando tem uma vida de farra, o que não corresponde com a verdade, pois sempre você esta sozinho e sempre numa cidade estranha. As amizades são comerciais. Não se cria raízes. Isto só acontece com o passar dos tempos.

Neste dia aceitei o convite. Ao chegar no local da festa fui muito bem recebido. Me senti o Rei da Cocada Preta. Todos os presentes não pouparam esforços para que eu ficasse completamente a vontade. Foram muito gentis.

Como contei no capitulo anterior, as vezes o acaso participa de uma forma incrível no destino de uma pessoa. Nesta festa, conheci 03 amigos do Antonino: Gustavo Moraes, Stephenson Duarte Veras e um tenente da policia militar, cujo apelido era Banana. A amizade entre nós foi instantânea.

Gustavo - Luis - Antonino e Stephenson em visita recente a minha casa

O Gustavo era o animador da festa. Tocava violão com maestria, contava piadas, fazia todo mundo feliz. Estava passando por uma fase difícil financeiramente e trabalhava com auto peças. O outro, Stephenson também vivia um momento igual. Para sobreviver, vendia aparelhos de ginastica, Vi um grande talento nos dois, mas naquele momento eu não podia fazer nada para ajuda-los.

No outro lado do Brasil, especificamente em São Paulo, havia dois laboratórios que agora atuavam também na área de apoio: o SAE e o Endocenter. Durante um congresso que houvera acontecido no Maksoud Plaza, conheci uma estudante de biomedicina, moradora do Rio de Janeiro, que trabalhava na área de corretagem de imoveis. Ficamos amigos e certo dia ela me ligou dizendo que iria deixar a imobiliária e se eu tinha alguma vaga para ela no LID. Como eu já tinha a equipe do Rio funcionando, não tinha como aproveita-la. Então, apelei para uma outra amiga minha que era diretora do SAE e pedi que a contratasse. Ela foi à São Paulo, mas não houve acordo e não foi contratada. Ela me ligou chateada com o que havia ocorrido. Pedi para aguardar um pouco que iria ver o que podia fazer para ajudar.

Restaurante do Hotel Maksoud Plaza - São Paulo

Liguei para outra pessoa amiga, a Cida, gerente do Endocenter e disse que tinha uma amiga do Rio de Janeiro que estava em São Paulo e que o SAE, embora tivesse prometido contrata-la, não tinha cumprido a parte do acordo e pedi a ela que desse uma oportunidade à minha indicação.  Ela aceitou e pediu para minha amiga ir estar com ela. Foi contratada imediatamente e começou a divulgar o Endocenter no Rio de Janeiro, com muito sucesso.
Neste ínterim, a vida no Recife seguia como esperado. O nosso escritório estava com boa produtividade e quando voltei lá para visitar mais alguns clientes, encontrei novamente com os amigos do Antonino e nesta ocasião o Gustavo pediu para eu arrumar um emprego para ele. Liguei novamente para o Endocenter e a Cida, uma pessoa generosa, mais uma vez atendeu meu pedido e o contratou. Dois amigos, dois laboratórios. Era uma briga sadia.

As amostras dos exames eram transportadas em tubos com esses.

Agora, vamos adiantar um pouco o relogio do tempo. Já no Pardini, o projeto que eu havia aprovado com a diretoria era montar escritórios em todas as capitais do Brasil e também nas principais cidades do interior. Assim foi feito. 09 anos depois do inicio do projeto eu tinha escritórios em todas estas regiões. Trabalhavam diretamente sob meu comando 06 supervisores de região, 65 vendedores, 30 motoqueiros e 25 secretárias. Eramos responsáveis por 80% da produção de exames que o Laboratório Hermes Pardini realizava diariamente. O faturamento mensal ultrapassava a casa dos R$ 14.000.000,00. O projeto que eu havia criado tinha tido exito total e a equipe que eu havia formado, sempre com pessoas que não tinham nenhum conhecimento da área, era a responsável por todo sucesso do empreendimento.

Voltando ao Recife, quando fui montar o escritório, conversei com o Stephenson e ofereci a ele o cargo de vendedor. Ele aceitou imediatamente. A condição de trabalho era aceitar o salario que  a empresa oferecia, alguma coisa na casa de 1,5 salario minimo, ter carro próprio e disposição para trabalhar muito. Lembro que ele apareceu no primeiro dia de trabalho com um automóvel Voyage, já bem judiado. Até brinquei com ele se o carro iria aguentar as viagens, pois naquela epoca atendíamos também João Pessoa por Recife.

Aguentou muitos quilômetros até ser trocado por um mais novo.

Então, voltando a ironia do destino, juntei 03 amigos de infância para trabalhar em 03 laboratórios diferentes na mesma região. Era uma guerra de foice no escuro, mas entre mortos e feridos, sobreviveram todos. Com o passar do tempo, com a minha saída do LID, o Antonino continuou trabalhando na empresa, fazendo um excelente trabalho. O Gustavo estava também se esforçando na divulgação do Endocenter, sem grandes avanços, parte por ser o Endocenter um laboratório desconhecido no Nordeste e enquanto isso o avanço das negociações com o Laboratório Pardini só crescia na região. Já eramos lideres de mercado. Estava na hora de partir para outro destino: Salvador.

Para despedir dos amigos, fizemos um churrasco numa sexta feira a noite, com muita musica e cerveja e o Gustavo veio conversar comigo e pediu para eu dar a vaga de Salvador para ele. Ponderei e achei a ideia arriscada. Estive prestes a dizer não, mas alguma coisa mais forte me dizia para aceitar. Era um risco, pois assim que o escritório estivesse montado, tinha que começar atender os clientes da região e colocar um vendedor que não conhecia Salvador, tinha uma grande chance de dar errado.


Salvador -  Um grande desafio - Um grande vendedor 
Mesmo em duvida, fiz um desafio para ele. Eu iria para Salvador na segunda feira. Durante a semana iria alugar uma sala, comprar moveis e na segunda feira da semana seguinte iria contratar a equipe. Se ele estivesse em Salvador até domingo, eu daria a vaga a ele. Era um risco calculado. Ele não conhecia a cidade, mas já tinha experiencia no trabalho. Minha aposta deu certo. Foi uma das melhores contratações que fiz durante toda minha jornada. Deu tão certo, que muito tempo depois ele deixou o Pardini e foi trabalhar em outro laboratório e continua na área até hoje, ainda morando em Salvador, onde criou sua familia e goza de grande prestigio na área laboratorial dos Estados da Bahia e Sergipe. Agora ele é o gerente geral destes dois estados. Mas teve uma situação engraçada que vale a pena ser lembrada: eu não poderia contratar o Gustavo logo em seguida a seu pedido de demissão do Endocenter. O diretor da empresa não queria perde-lo de forma alguma. Chegou até me ligar para que eu pudesse dissuadi-lo da idéia. Então fiz uma pequena alteração no seu nome de guerra para não ficar mal com meu concorrente. Em Salvador, seu nome para todo mundo, inclusive nos cartões de visita passou a ser Moraes. O nome Gustavo foi abolido. E assim ele ficou conhecido.

Com o passar do tempo, o crescimento do Pardini foi estrondoso. Crescíamos em média 20 a 30% ao mês. O aumento da produção fez com que a equipe técnica da empresa tivesse que reformar toda a estrutura interna, contratar novos funcionários, comprar novos equipamentos, informatizar. Uma verdadeira revolução. Os números da epoca quando comecei eram de 2500 a 3000 pacientes/dia. Quando deixei a empresa a produção ultrapassava 30.000 pacientes/dia. Foi uma epoca gloriosa.

Elisangela Moes - Grande amiga - Excelente profissional

Em Recife, o Stephenson havia escolhida a Elizangela Moes para ser a nossa secretária. Quando ela veio para a entrevista, recordo de uma brincadeira que fizemos com ela, que rendeu muitas risadas. Depois de conversarmos muito, já tinha decidido contrata-la, mas somente para sacanear um pouco, pedi para ela digitar um texto no computador que estava desligado. Eu desliguei o disjuntor  do computador e quando ela sentou para digitar, bateu o desespero nela, pois o computador não ligava e ela, mostrando profissionalismo, não queria dizer que não estava conseguindo ligar a maquina e ficava tentando e cada vez mais nervosa. Esta cena durou uns 05 minutos, até que ela capitulou.

Rimos muito e eu disse para ela ligar o disjuntor, que ficava junto a tomada onde o computador estava instalado. Ela, toda ruborizada, ligou a maquina e digitou o texto que eu havia solicitado. Ela foi tão bem, que até hoje, quase 15 anos depois, ainda continua fazendo sucesso na área, agora na condição de vendedora em um outro laboratório, cujos gerentes, que cuidam de toda a região nordeste a partir de Alagoas até Manaus, são o Antonino e o Stephenson.

Grandes amigos! Grandes historias!

Quando o destino conspira a favor, até o impoderavel acontece.
Continua




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