quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

O VENDEDOR DE LINGUIÇAS

Meu primeiro grande desafio na área de apoio

Quando estava por completar dois anos de empresa, houve uma sensível queda nas vendas, parte pelo mercado, parte pelos produtos, que embora fossem de boa qualidade, não tinham competitividade em comparação com produtos similares nacionais. Houve por bem então a empresa optar por deixar os equipamentos em segundo plano e partir para vendas de reagentes para realização de exames laboratoriais. No inicio, eu visitava inúmeros laboratórios, mas as vendas eram pequenas. Surgiu então a possibilidade de nomearmos empresas distribuidoras, que já tinham mercado formado.

Ideia aprovada sai a campo para procurar empresas que se adequasse as necessidades da Wama. Minha primeira parada foi em Curitiba e depois de uma semana naquela capital e ter visitado diversas empresas, finalmente encontrei uma e celebramos um acordo de representação exclusiva para o Estado do Paraná. Em seguida, aproveitando a indicação do representante da capital paranaense, fui visitar uma empresa em Florianópolis e também o nomeamos representante para aquele estado.

Minha missão terminava ali. Eu devia voltar para São Carlos, mas resolvi ligar para a Diretoria da Empresa e pedir permissão para ir até Porto Alegre, procurar outro representante. Devidamente autorizado, cheguei a Porto Alegre com uma lista de 30 empresas que atuavam no ramo. Se eu fosse visitar todas, talvez gastasse uns 10 dias. Resolvi então selecionar as 03 maiores e ver no que dava. Mas, tentando ganhar tempo, tentei agendar um encontro com os diretores das mesmas, mas nada de conseguir. Resolvi então ir direto ao maior deles e ver o que acontecia.

Cheguei nesta empresa por volta de 16:00 horas, já meio derrubado, cabelos despenteados, suado, pois o carro não tinha ar condicionado e estava começando a chover. Fechei o carro e corri rapidamente até a recepção da empresa e pedi  para conversar com um dos responsáveis da empresa. A secretaria olhou pra mim, pro meu estado e quase mandou chamar um segurança, mas por aquele acaso do destino, naquele momento, um dos assessores daquela empresa, que eu por acaso havia conhecido no Congresso de Santos, veio até a mim e perguntou o que eu estava fazendo perdido por lá. Expliquei o motivo da visita e ele prontamente me levou para conversar com o presidente da empresa. Foi o melhor negocio que fiz. Eles se tornaram os melhores representantes da empresa  em todo o Brasil e até hoje, 25 anos depois, ainda são os lideres de vendas de todos os distribuidores do Brasil.
Muito trabalho e muito calor em Cuiabá

Depois desta etapa, praticamente eu não tinha o que fazer na empresa. De quando em quando uma viagem e passava a maior parte parado no escritório e eu sabia que meu tempo na empresa estava acabando. Como disse antes, numa venda que fiz ao Laboratório LID, eu havia conseguido um emprego para meu filho e vi neste laboratório uma oportunidade de criar um serviço similar ao que meu filho vinha fazendo na região de São Carlos em todo o Brasil. Fui até eles e apresentei a ideia. Montaríamos um serviço de coleta de material nas principais capitais do Brasil. Ficaram de pensar. Minha condição era ter um salário fixo, carro e dinheiro para despesas de viagens e hospedagem.
O que estava prevendo acabou acontecendo. Certo dia, o diretor da empresa me chamou em sua sala e disse que o momento não estava bom para a empresa e que teria que me demitir, mas que as portas estavam abertas para eu voltar no futuro, caso quisesse, o que de certa forma acabou acontecendo 15 anos mais tarde
.
Sem emprego e sem nada em vista, resolvi investir na única chance que eu tinha de continuar trabalhando que era o Laboratório LID. Liguei para eles e depois de 02 semanas, finalmente marcaram uma reunião em São Paulo para discutirmos como seria o projeto. Neste tempo que fiquei em casa fiz um planejamento bem detalhado do que pretendia fazer, quem contratar, o custo do projeto e o possível resultado. A reunião estava marcada para acontecer às 14 horas e começou por volta de 19:00 horas. Fiquei sentado na sala de espera da diretoria por 05 longas horas, até que finalmente fui chamado e depois de um longo debate, consegui aprovar a ideia, mas eu não seria registrado pela CLT e teria 03 meses para fazer o projeto acontecer.

Voltando a Salvador pela primeira vez sem estar na LTN

Fechamos o acordo e da parte deles, além de um salário, ficou estabelecido que eu teria direito a um carro, despesas de viagens e hotelaria. O primeiro desafio foi o Rio de Janeiro. Lá tinha um laboratório que se considerava filial do LID, mas na pratica, não tinha nenhuma atuação junto a outros laboratórios.  Depois de 20 dias trabalhando no Rio de Janeiro, tomei a primeira decisão que mudou  o rumo do mercado de apoio a laboratório. Descredenciei  a empresa que representava o LID e contratei um motorista vendedor para visitar e fazer coletas nos laboratórios, a medida que fossem sendo cadastrados.

Trabalhei direto no Rio de Janeiro por cerca de dois meses e ao final deste tempo já tinha feito contrato com mais de 50 laboratórios e estávamos mandando diariamente para São Paulo uma caixa de isopor cada vez maior com as amostras  coletadas. Passei a partir daí a ter o apoio total da diretoria.

Dali, fui para Cuiabá, onde tinha uma situação similar ao Rio de Janeiro e fiz a mesma coisa. Mandei a empresa para e contratei uma vendedora da cidade e o resultado apareceu rapidamente. Tendo o Rio e Cuiabá produzindo muito bem, voltei minha atenção para o interior de São Paulo, onde trabalhei um tempo com meu filho e reestruturamos o sistema de coleta de exames para os moldes que existe hoje. Explicando: no inicio as coletas eram feitas semanalmente. O mesmo motorista visitava 05 rotas diferentes, sendo um por dia. Em São Carlos, com meu filho, resolvemos mudar o sistema e modificamos as rotas para as coletas serem feitas diariamente. A produção triplicou em menos de um mês. Foi um golpe de mestre.

Com tudo funcionando, agora o projeto previa expandir os negócios para outros horizontes, mas antes tinha que fazer um trabalho em Salvador, onde existia uma filial do LID, tocada por um médico  que era sócio da empresa. Ali trabalhei sozinho 15 dias, visitando laboratórios no interior da Bahia. Andei por dezenas de cidades, de Vitória da Conquista a Juazeiro e de Ilhéus a Feira de Santana. Era uma visita atrás de outra e no final consegui cadastrar umas 30 empresas, que passaram a enviar seus exames para o LID via correio.

O carro da linguiça era parecido com o da foto.

Mas meu projeto de expansão ainda não havia começado. Queria criar frentes de trabalhos novas e ai que começa uma nova historia envolvendo a LTN.

Volta à cena o meu amigo Manoel Santander. Nesta época, a LTN já tinha mudado sua forma de atuar e o escritório que eles tinham em Fortaleza havia sido fechado e o Mané ficou desempregado. Morando numa casa maravilhosa no Bairro Água Fria, pegado a Aldeota, bem próximo das praias, ele levava uma vida muito boa.  Ficando desempregado, ele e a Cleide, tiveram a ideia de produzir linguiça caseira e vende-la para o comercio em geral. Ele tinha comprado uma caminhonete com  carroceria de madeira e com cobertura de encerado.

A linguiça era produzida nos fundos de sua casa e havia até um quartinho feito especialmente para defumar a linguiça calabresa. Era uma vida muito sofrida. Semanalmente tinha que ir ao frigorífico comprar carne para o preparo e a carne para este tipo de embutido é a que fica grudada na  parte interna do couro do boi após o mesmo ser abatido. Fui com ele certa vez comprar esta carne e era um espetáculo muito triste, pois o carro ficava estacionado bem próximo de onde os bois eram mortos. Sentia o cheiro da morte no ar.

Frigorifico FriFor 

O Manoel saia para viajar pelo interior do Ceará nas segundas feiras e voltava somente quando havia vendido todo o estoque. Ele odiava aquele trabalho e a Cleide o dela, que era literalmente fazer e defumar a linguiça. Eu mantinha sempre contato por telefone com o Manoel e numa das conversas disse a ele que estava num novo projeto e gostaria de oferecer a ele a oportunidade de representar o LID em Fortaleza.

Ele ficou muito feliz com a ideia e eu marquei de visita-lo algum tempo depois. Quando cheguei a Fortaleza, o Manoel já estava desistindo do projeto de vendedor de linguiça e estava sendo contratado para ser representante comercial de uma Radio FM local. Iria vender anúncios para a emissora. Ele pediu que eu passasse o serviço do LID para a Cleide, que embora não tivesse por ela ainda uma grande amizade, reconhecia nela um grande talento para vendas e fechamos negócio.

Defumador de linguiça

Trabalhei uns dias com ela visitando alguns laboratórios de Fortaleza e prometi arrumar um carro para ela poder desempenhar suas funções, visto que ela utilizava para trabalhar um Fiat 147, importado de Ribeirão Preto, que já estava pra lá do fim de sua vida útil. Era uma sucata mesmo. Tempos depois consegui convencer a diretoria do LID e eles autorizaram a compra de um Gol 1996, tirado zero na agencia de Fortaleza. Ela trabalhou com este carro por muitos anos e quando saiu da empresa, ficou com o carro por conta de indenização.

A caranga na epoca foi tirada zerada na agencia


Muito tempo depois, a Cleide já dominava todo o mercado de Fortaleza e de varias cidades na região e tinha uma carteira de cliente muito forte. Com esta experiência, ela foi convidada a trabalhar num outro laboratório, chamado Álvaro, onde continuou fazendo sucesso. Um dia o Manoel a acompanhou, mas isto é outra historia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário