Meu primeiro grande desafio na área de apoio |
Quando estava por completar dois
anos de empresa, houve uma sensível queda nas vendas, parte pelo mercado, parte
pelos produtos, que embora fossem de boa qualidade, não tinham competitividade
em comparação com produtos similares nacionais. Houve por bem então a empresa
optar por deixar os equipamentos em segundo plano e partir para vendas de
reagentes para realização de exames laboratoriais. No inicio, eu visitava
inúmeros laboratórios, mas as vendas eram pequenas. Surgiu então a possibilidade
de nomearmos empresas distribuidoras, que já tinham mercado formado.
Ideia aprovada sai a campo para
procurar empresas que se adequasse as necessidades da Wama. Minha primeira
parada foi em Curitiba e depois de uma semana naquela capital e ter visitado
diversas empresas, finalmente encontrei uma e celebramos um acordo de
representação exclusiva para o Estado do Paraná. Em seguida, aproveitando a
indicação do representante da capital paranaense, fui visitar uma empresa em
Florianópolis e também o nomeamos representante para aquele estado.
Minha missão terminava ali. Eu
devia voltar para São Carlos, mas resolvi ligar para a Diretoria da Empresa e
pedir permissão para ir até Porto Alegre, procurar outro representante.
Devidamente autorizado, cheguei a Porto Alegre com uma lista de 30 empresas que
atuavam no ramo. Se eu fosse visitar todas, talvez gastasse uns 10 dias.
Resolvi então selecionar as 03 maiores e ver no que dava. Mas, tentando ganhar
tempo, tentei agendar um encontro com os diretores das mesmas, mas nada de
conseguir. Resolvi então ir direto ao maior deles e ver o que acontecia.
Cheguei nesta empresa por volta
de 16:00 horas, já meio derrubado, cabelos despenteados, suado, pois o carro
não tinha ar condicionado e estava começando a chover. Fechei o carro e corri
rapidamente até a recepção da empresa e pedi
para conversar com um dos responsáveis da empresa. A secretaria olhou
pra mim, pro meu estado e quase mandou chamar um segurança, mas por aquele
acaso do destino, naquele momento, um dos assessores daquela empresa, que eu
por acaso havia conhecido no Congresso de Santos, veio até a mim e perguntou o
que eu estava fazendo perdido por lá. Expliquei o motivo da visita e ele
prontamente me levou para conversar com o presidente da empresa. Foi o melhor
negocio que fiz. Eles se tornaram os melhores representantes da empresa em todo o Brasil e até hoje, 25 anos depois, ainda
são os lideres de vendas de todos os distribuidores do Brasil.
Muito trabalho e muito calor em Cuiabá |
Depois desta etapa, praticamente
eu não tinha o que fazer na empresa. De quando em quando uma viagem e passava a
maior parte parado no escritório e eu sabia que meu tempo na empresa estava
acabando. Como disse antes, numa venda que fiz ao Laboratório LID, eu havia
conseguido um emprego para meu filho e vi neste laboratório uma oportunidade de
criar um serviço similar ao que meu filho vinha fazendo na região de São Carlos
em todo o Brasil. Fui até eles e apresentei a ideia. Montaríamos um serviço de
coleta de material nas principais capitais do Brasil. Ficaram de pensar. Minha
condição era ter um salário fixo, carro e dinheiro para despesas de viagens e
hospedagem.
O que estava prevendo acabou
acontecendo. Certo dia, o diretor da empresa me chamou em sua sala e disse que
o momento não estava bom para a empresa e que teria que me demitir, mas que as
portas estavam abertas para eu voltar no futuro, caso quisesse, o que de certa
forma acabou acontecendo 15 anos mais tarde
.
Sem emprego e sem nada em vista,
resolvi investir na única chance que eu tinha de continuar trabalhando que era
o Laboratório LID. Liguei para eles e depois de 02 semanas, finalmente marcaram
uma reunião em São Paulo para discutirmos como seria o projeto. Neste tempo que
fiquei em casa fiz um planejamento bem detalhado do que pretendia fazer, quem
contratar, o custo do projeto e o possível resultado. A reunião estava marcada
para acontecer às 14 horas e começou por volta de 19:00 horas. Fiquei sentado
na sala de espera da diretoria por 05 longas horas, até que finalmente fui
chamado e depois de um longo debate, consegui aprovar a ideia, mas eu não seria
registrado pela CLT e teria 03 meses para fazer o projeto acontecer.
Voltando a Salvador pela primeira vez sem estar na LTN |
Fechamos o acordo e da parte
deles, além de um salário, ficou estabelecido que eu teria direito a um carro,
despesas de viagens e hotelaria. O primeiro desafio foi o Rio de Janeiro. Lá
tinha um laboratório que se considerava filial do LID, mas na pratica, não
tinha nenhuma atuação junto a outros laboratórios. Depois de 20 dias trabalhando no Rio de
Janeiro, tomei a primeira decisão que mudou
o rumo do mercado de apoio a laboratório. Descredenciei a empresa que representava o LID e contratei
um motorista vendedor para visitar e fazer coletas nos laboratórios, a medida
que fossem sendo cadastrados.
Trabalhei direto no Rio de Janeiro
por cerca de dois meses e ao final deste tempo já tinha feito contrato com mais
de 50 laboratórios e estávamos mandando diariamente para São Paulo uma caixa de
isopor cada vez maior com as amostras
coletadas. Passei a partir daí a ter o apoio total da diretoria.
Dali, fui para Cuiabá, onde tinha
uma situação similar ao Rio de Janeiro e fiz a mesma coisa. Mandei a empresa
para e contratei uma vendedora da cidade e o resultado apareceu rapidamente.
Tendo o Rio e Cuiabá produzindo muito bem, voltei minha atenção para o interior
de São Paulo, onde trabalhei um tempo com meu filho e reestruturamos o sistema
de coleta de exames para os moldes que existe hoje. Explicando: no inicio as
coletas eram feitas semanalmente. O mesmo motorista visitava 05 rotas diferentes,
sendo um por dia. Em São Carlos, com meu filho, resolvemos mudar o sistema e
modificamos as rotas para as coletas serem feitas diariamente. A produção
triplicou em menos de um mês. Foi um golpe de mestre.
Com tudo funcionando, agora o
projeto previa expandir os negócios para outros horizontes, mas antes tinha que
fazer um trabalho em Salvador, onde existia uma filial do LID, tocada por um
médico que era sócio da empresa. Ali
trabalhei sozinho 15 dias, visitando laboratórios no interior da Bahia. Andei
por dezenas de cidades, de Vitória da Conquista a Juazeiro e de Ilhéus a Feira
de Santana. Era uma visita atrás de outra e no final consegui cadastrar umas 30
empresas, que passaram a enviar seus exames para o LID via correio.
O carro da linguiça era parecido com o da foto. |
Mas meu projeto de expansão ainda
não havia começado. Queria criar frentes de trabalhos novas e ai que começa uma
nova historia envolvendo a LTN.
Volta à cena o meu amigo Manoel
Santander. Nesta época, a LTN já tinha mudado sua forma de atuar e o escritório
que eles tinham em Fortaleza havia sido fechado e o Mané ficou desempregado.
Morando numa casa maravilhosa no Bairro Água Fria, pegado a Aldeota, bem próximo
das praias, ele levava uma vida muito boa. Ficando desempregado, ele e a Cleide, tiveram
a ideia de produzir linguiça caseira e vende-la para o comercio em geral. Ele
tinha comprado uma caminhonete com carroceria
de madeira e com cobertura de encerado.
A linguiça era produzida nos
fundos de sua casa e havia até um quartinho feito especialmente para defumar a linguiça
calabresa. Era uma vida muito sofrida. Semanalmente tinha que ir ao frigorífico
comprar carne para o preparo e a carne para este tipo de embutido é a que fica
grudada na parte interna do couro do boi
após o mesmo ser abatido. Fui com ele certa vez comprar esta carne e era um espetáculo
muito triste, pois o carro ficava estacionado bem próximo de onde os bois eram
mortos. Sentia o cheiro da morte no ar.
Frigorifico FriFor |
O Manoel saia para viajar pelo
interior do Ceará nas segundas feiras e voltava somente quando havia vendido
todo o estoque. Ele odiava aquele trabalho e a Cleide o dela, que era
literalmente fazer e defumar a linguiça. Eu mantinha sempre contato por
telefone com o Manoel e numa das conversas disse a ele que estava num novo
projeto e gostaria de oferecer a ele a oportunidade de representar o LID em
Fortaleza.
Ele ficou muito feliz com a ideia
e eu marquei de visita-lo algum tempo depois. Quando cheguei a Fortaleza, o
Manoel já estava desistindo do projeto de vendedor de linguiça e estava sendo
contratado para ser representante comercial de uma Radio FM local. Iria vender anúncios
para a emissora. Ele pediu que eu passasse o serviço do LID para a Cleide, que
embora não tivesse por ela ainda uma grande amizade, reconhecia nela um grande
talento para vendas e fechamos negócio.
Defumador de linguiça |
Trabalhei uns dias com ela
visitando alguns laboratórios de Fortaleza e prometi arrumar um carro para ela
poder desempenhar suas funções, visto que ela utilizava para trabalhar um Fiat
147, importado de Ribeirão Preto, que já estava pra lá do fim de sua vida útil.
Era uma sucata mesmo. Tempos depois consegui convencer a diretoria do LID e
eles autorizaram a compra de um Gol 1996, tirado zero na agencia de Fortaleza.
Ela trabalhou com este carro por muitos anos e quando saiu da empresa, ficou
com o carro por conta de indenização.
A caranga na epoca foi tirada zerada na agencia |
Muito tempo depois, a Cleide já
dominava todo o mercado de Fortaleza e de varias cidades na região e tinha uma
carteira de cliente muito forte. Com esta experiência, ela foi convidada a
trabalhar num outro laboratório, chamado Álvaro, onde continuou fazendo
sucesso. Um dia o Manoel a acompanhou, mas isto é outra historia.
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