sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

AMAZONIA – UM MUNDO VERDE. UM MUNDO DE SONHOS E FANTASIAS

Manaus - A capital do Estado da Amazonas

Fiz diversas viagens para  Manaus e em todas sempre teve um algo mais de aventura, embora tivesse muitas atividades profissionais durante a semana. Não pretendo contar neste capitulo nada sobre o trabalho, mas sim sobre os encantos desta região do Brasil. No capitulo anterior, foquei um pouco sobre meu grande amigo Samuel e neste capitulo também citarei fatos que ocorreram nesta grandiosa cidade da região norte do Brasil.

Numa viagem  cheguei a Manaus num momento que a cidade estava sofrendo muito com as queimadas, tanto que quando o avião se aproximava da pista de pouso, somente a poucos metros do chão foi possível ver a vegetação em torno do aeroporto. A fumaça era tanta que conversando com um dos tripulantes da aeronave ele disse que naquelas condições, o pouso somente poderia ocorrer por instrumentos, pois não se enxergava nada da cabine da aeronave.

Também, devido as queimadas, a energia elétrica da cidade era fornecida por usinas movidas à óleo e com isso havia um racionamento em toda cidade. No hotel que eu estava hospedado a força era desligada às 9:00 horas e religadas às 17:00 horas. Eu, nesta viagem, fiquei por lá uns 20 dias.


Num final de semana, minha esposa veio me visitar.  Eu estava fora de casa à quase 03 meses e enquanto eu saia para trabalhar, ela ia passear nas lojas da Zona Franca e numa vez, ela resolveu jogar no bicho. Apostou R$ 5,00 no Pavão e para sua surpresa, a tarde, quando passou no cambista, soube que havia ganhado R$ 100,00. Vocês nem  podem imaginar a alegria dela. Sorte de principiante, pois até aquele dia nunca havia jogado.

O final de semana foi muito agitado. O Samuel tinha arrumado com um guia canoeiro, um passeio pelo Rio Negro até o encontro com o Rio Solimões, dando inicio ao Rio Amazonas. Foi um passeio inesquecível, pois além de chegarmos bem no meio dos rios, onde as águas não se misturam, tivemos oportunidade de conhecer as vazantes dos rios, chamados de “parana”, onde moram muitos ribeirinhos. Depois, fomos levados por dentro da floresta, por caminhos que o guia conhecia, até um restaurante instalado num tablado flutuante em um grande lago. Foi servido uma das melhores refeições de peixe que se podia esperar. Rodizio de tucunaré, tambaqui e pirarucu e muita cerveja.

Melhor rodizio de peixes da Amazonia

Voltamos para Manaus no final do dia e já tínhamos um programa legal para o  dia seguinte. Era a comemoração do Dias dos Pais e iriamos subir o Rio Negro num barco de 18 metros, pertencente ao um parente do Samuel. Foi inesquecível fazer um churrasco numa praia deserta de areias brancas na companhia de mais 30 pessoas. Junto com o barco, o parente da Samuel levou também uma lancha e um jet sky e foi a primeira e ultima vez que tive oportunidade de dirigir uma lancha, por pouco tempo, e dar uma volta de jet sky.
Aqui é o paraíso na Terra;
Voltamos para Manaus já no começo da noite e chegamos cansados no hotel, mas ainda sobrou tempo para tomar um tacacá, uma iguaria deliciosa, feita com goma de mandioca, tucupi, jambu e camarão. No dia seguinte, minha esposa voltou para São Paulo e eu fiquei trabalhando mais uns dias com o Samuel. Eu iria na sequencia para Belém e como teria uns dias de feriado, resolvi abrir mão da viagem aérea e ir de barco, viagem que demoraria 05 dias.


Comprei um camarote neste navio e o preço era muito barato considerando o tempo de viagem, com refeições inclusas. Não tive a curiosidade de conhecer o navio antes da partida e quando cheguei no porto para embarcar, a noite, notei que se tratava de um catamarã, todo de ferro, com uns 50 metros de comprimento e uns 15 metros de altura. O Samuel me ajudou a levar a bagagem até o camarote e ai notei que haviam apenas dois apartamentos para passageiros do lado direito do navio e dois do lado esquerdo. Eu ocupei um deles e uma família ocupou o outro. Esta família fez um trecho curto, somente até Parintins. Do outro lado, os camarotes eram utilizados pela tripulação. Por outro lado, em dois pavimentos abaixo do plano onde estavam os camarotes e a sala de comando do navio, haviam mais de 700 pessoas, todas em redes.


Era uma cena chocante e me senti muito mal em ver aquilo. Eu usando um apartamento com cama espaçosa, ar condicionado e logo abaixo, 700 pessoas em rede, sofrendo com o calor, chuva e com a falta de higiene, pois os banheiros eram imundos. Mas era muito barato. Não tenho idéia da epoca, mas se colocarmos no valor de hoje, eu teria pago pelo camarote por 05 dias, com refeições inclusas um valor semelhante a R$ 450,00, enquanto os que viajavam na rede estariam pagando um valor equivalente a R$ 150,00
.
Na cobertura, quase ao lado dos camarotes, funcionava uma lanchonete e lá era o encontro do pessoal. Com o calor intenso, o consumo de cerveja era bem alto e fiquei muito amigo da tripulação, depois de pagar algumas duzias de cervejas para  eles. A viagem é linda e recomendo a todos um dia, se puderem que a façam. O Rio Amazonas é magico. Tem lugares que ele tão largo, que não se consegue enxergar a outra margem e tem um trecho, que ele fica estreito, perto de 02 quilômetros de largura, mas neste ponto, perto da cidade de Óbidos, a profundidade, chega a mais de 1500 metros.
A cidade toda se veste de vermelho ou azul

A primeira escala foi na cidade de Parintins, a capital brasileira do Festival do Boi. A parada ali foi rápida. Cerca de duas horas, mas foi o suficiente para conhecer rapidamente uma pedacinho da cidade, onde prevalece, nas casas, as cores vermelha ou azul, dependendo de que time o morador é torcedor. Se do Boi Garantido (vermelho) ou do Boi Caprichoso (azul). Todo ano, ali é realizado um festival, que se assemelha muito com o Carnaval do Rio de Janeiro, onde existe a disputa do melhor desfile entre as duas agremiações.

Fruto da Açai
Seguindo a viagem, outro detalhe que me chamou a atenção foi o carregamento de açai. Em pontos já previamente combinados, o navio toca uma sirene e reduz a velocidade da embarcação. Nisso, pessoas manobrando canoas apenas no remo, se aproximam do navio, que não para, se amarram ao barco por cordas e transferem balaios cheios da fruta. Quando a operação termina, eles se soltam do navio e voltam para suas casas, todas casebres, à beira do Rio Amazonas, cercadas de arvores por todos os lados.  Este procedimento de se repetiu por diversas vezes durante a viagem e acontecia inclusive durante a noite. Quando o navio aportou em Belém havia mais de 100 balaios de açaí.

Outra cena que ficou gravada na memória foram as crianças dos ribeirinhos. Pilotando uma pequena canoa, meninos e meninas, alguns com idade aparente de 05 anos, iam de encontro ao navio e ficavam acenado para os passageiros jogarem coisas para eles. Parece que já era um costume estabelecido, pois eram atirados dezenas de sacos plásticos, uns com roupa, outros com comida e ai se notava a pericia daquelas crianças em manobrar suas canoas para recolher os pacotes lançados.



A viagem que durou 05 dias, teve muitos momentos inesquecíveis, mas não posso deixar de relatar a parada do navio em Santarém. Ali ficamos parado por umas 05 horas, tempo necessário para o navio ser carregado com uma enorme carga de peixes, Dentro do navio havia uma grande câmara frigorifica e os peixes eram retirados de caminhões estacionados num plano mais alto e jogados diretos para o navio através de uma rampa feita especialmente para isso. Não consigo imaginar a quantidade de peixes e tamanhos que  foram embarcados, mas eram muito peixes. 

Eram lotes como essses da foto. Mas em pilhas altas











Mas o que me chamou mais a atenção foi o que vi no Porto de Santarém: uma floresta de madeira cortada (mogno), embalada, pronta para ser embarcada para a Europa. Podem imaginar uma  linha de uns 150 metros de comprimento, por uns 05 metros de altura e 05 de largura. Bem este era o volume de madeira que estava a espera de um navio para ser enviado para algum pais europeu. Fiquei indignado com a cena, mas creio que a mesma se repete até os dias de hoje.

Para completar a viagem, até a chegada à Belém, tenho que relatar como era servido as refeições. A comida era igual para todos, tripulação e passageiros. Eram servidos num grande salão em horarios previamente agendados. Café da manhã, almoço e jantar. Mas o diferente era o tratamento. Dentro do salão, havia uma pequena sala, toda fechada com vidro e com ar condicionado. Alí é que era servido as refeições para a tripulação e para mim, o único passageiro que viajava nos camarotes. Os outros passageiros também eram servidos, mas em mesas colocadas ao longo do salão, sujeitos às intempéries do tempo.


Finalmente chegamos a Belém e lá fui recebido pela vendedora Ana Maria Melo, que eu havia contratado em um outra viagem, mas esta é uma historia que irei  contar em detalhes no próximo capitulo.

Abraços




sábado, 20 de janeiro de 2018

BOI GARANTIDO CONTRA BOI CAPRICHOSO

Samuel e Georgia - Grandes amigos 

A ultima publicação do blog teve um record de visualizações. Foram quase 500. Foi muito mais que acontecia, pois a média era em torno de 60 por publicação. Mérito total a pessoa homenageada. Jacira Moreno, minha gratidão por ter-me permitido contar apenas parte de sua linda historia. Você mereceu todos os comentários recebidos de seus amigos.

Mas temos que seguir em frente, pois a fila ainda está grande. Hoje vou escrever sobre a Região Amazônica, focando basicamente em 04 cidades: Manaus, Santarém, Boa Vista e Belém. Tudo que constar neste capitulo foram momentos inesquecíveis que passei ao lado de pessoas talentosas, a quem presto nestas linhas minha singela homenagem.

O sonho do amazonense. Torcer para um dos Bois.

Tinha como proposito iniciar a região norte. Optei por começar em Manaus. Não ia à aquela cidade a muitos anos e a conhecia muito superficialmente. Quando cheguei no aeroporto, bateu a lembrança do tempo de LTN, mas eu estava ali com outro proposito. Instalar uma frente de trabalho para o Laboratório Pardini. Na cidade já tinhamos clientes ativos. Ainda em Belo Horizonte, liguei para um deles e pedi para receberem e guardarem o material de trabalho até minha chegada. Eram diversos catalogos, material de coleta, requisições, enfim, uma boa quantidade de produtos,  que foram enviados dias antes da minha partida.
Depois de estar instalado num hotel próximo a Zona Franca e ter alugado um carro para visitar os laboratórios da cidade, fiquei a tarde toda mapeando a cidade, marcando o roteiro que pretendia fazer, mas o mais importante era contratar um vendedor.

Em primeiro plano, minha primeira ajuda em Manaus Andreia Benzecry

Fiz duas visitas e ninguém foi indicado. Na terceira visita, conheci a Andreia Benzecry, dona de um tradicional laboratório. Fui muito bem recebido e durante a conversa ela sugeriu que eu entrevistasse o seu irmão Samuel, que estava desempregado. Concordei em conhece-lo e marcamos um encontro para logo mais a tarde. Quando ele chegou, fiquei aliviado, pois ele tinha o perfil de vendedor que eu havia imaginado para Manaus. Acertamos os detalhes e ele passou a ser o representante Pardini naquela região. Foi uma ótima contratação. Ele permaneceu na empresa vários anos, sempre com bom desempenho.

Manaus, para quem ainda não teve oportunidade de conhecer, é uma grande cidade, moderna, com um enorme parque industrial, um comércio forte, devido a Zona Franca e também a industria do turismo. Situado às margens esquerda do Rio Negro, fica distante do inicio do Rio Amazonas uns 15 quilômetros. Por ser uma cidade distante de outras capitais, só se chega a Manaus de avião ou barco. Estrada somente uma que leva até Boa Vista e segue até a cidade de Santa Helena, já na Venezuela e outra que vai até Itacoatiara. Agora tem uma que leva até Porto Velho, mas noticias atuais informam que esta intransitável.

Encontro das águas do Rio Negro e Solimões

Numa das viagens que estive em Manaus, tinha que ir na sequencia para Boa Vista,em Roraima. Nesta epoca já tínhamos um escritório montado naquela cidade e uma secretária eficiente, que ajudava o Samuel na coleta dos exames. Eu estava programado para fazer a viagem até Boa Vista de avião, mas pelo espirito de aventura, resolvi faze-la de carro. O Samuel tinha um chevette e combinamos que iriamos sair cedo para chegar ao entardecer na capital do Acre.

Iniciamos a viagem pela BR-174 por volta de 09 horas e ao chegar na primeira cidade, Presidente Médici, resolvemos não abastecer, contando que encontraríamos mais postos pela estrada. Seguimos a viagem tranquilos até a chegada da reserva indígena Waimiri-Atroari, controlada pelo Exercito. Fomos parados e instruídos que não poderíamos parar em parte alguma da estrada dentro da reserva, pois poderíamos ser hostilizados pelos índios que lá habitavam. Não havia socorro, não havia nada. Era acelerar e atravessar os 160 quilômetros de estrada sem nenhuma parada. Normalmente, você percorre uma distancia desta em uma hora e pouco, mas dentro da floresta é diferente. Primeiro, devido a quantidade e altura das árvores, tivemos que fazer toda a viagem de farol ligado. Não tinha espaço para o Sol jogar sua luz na estrada, salvo em pequenos trechos. Mata fechada o trecho todo. Não vimos uma alma viva, nem índios, nem bichos. Creio que foi mais pressão dos soldados do exercito que nos pararam. Mas durante a travessia, que durou quase 02 horas, o coração batia acelerado.

Quando terminamos a travessia da reserva, tinha um pequeno posto de gasolina, mas sem gasolina. Era apenas uma bomba de gasolina ao relento e uma cabaninha, onde funcionava um boteco.. Não tinha nada. Compramos um refrigerante e tivemos a informação que a 120 quilômetros à frente tinha um posto de gasolina. Nesta altura, o odômetro marcava meio tanque e ainda faltava mais de 400 quilômetros para chegar. O combustível iria acabar antes. Seguimos viagem, atravessamos a Linha do Equador e quando chegamos no tal posto, para nossa decepção e preocupação, também não havia gasolina para vender. Ainda restava uns 300 quilômetros para chegar e pouco mais que um quarto de gasolina. Ai começou realmente a aventura. Começamos atravessar dezenas de igarapés, todos, literalmente todos, com as pontes quebradas. Cada uma delas tinha um jeito de atravessar, até passando pelo igarapé, com a água chegando no assoalho do carro, mas o que mais preocupava ainda era o combustível. Estava acabando.
Marco do linha do Equador

Começamos a dirigir em ponto morto. Acelerava o carro até ganhar velocidade e ai jogava ponto morto e deixava ir até quase parar e depois acelerava novamente. Uma hora fiz um teste e desliguei o motor e rodamos um longo trecho com o carro desligado e passamos a trabalhar desta maneira, mas mesmo assim, o combustível estava acabando. De repente, acende a luz de reserva  e ainda faltava uns 80 quilômetros para Boa Vista. Tinha começado a chover e ficar escuro. O movimento na estrada era minimo, de vez em quando cruzava um caminhão, era um deserto, só que em vez de areia, eram arvores. Já estávamos conformados com a idéia de ter que dormir no carro, quando do nada,  aparece uma luzinha. Era um posto de gasolina. Chegamos lá praticamente com 100 ml de combustível no tanque. Foi um presente da Deus.

Só de imaginar dormir a noite ao relento, em plena Floresta Amazônica, já é bem complicado, agora se realmente tivesse acontecido, hoje, certamente, estaria contando uma historia de terror. Chegamos em Boa Vista por volta de 19:00 horas. Lamentei muito ter vindo de carro. Poderia até voltar de avião e deixar o Samuel voltar sozinho, mas ai seria muita sacanagem.

Trabalhamos quatro dias em Boa Vista, contratamos uma vendedora, visitamos todos os laboratórios da cidade e retornamos a Manaus. Enchemos o tanque e pelos cálculos, daria para chegar em Presidente Figueiredo. Lá colocaríamos gasolina novamente e chegaríamos à Manaus. Só que quem quer voltar para casa, sempre anda um pouco mais depressa. Essa parece ser a regra. Foi o que aconteceu. Voltamos um pouco mais rápido e não tivemos a preocupação de economizar e não deu outra. A 15 quilômetros de Presidente Figueiredo a gasolina acabou. Paramos no acostamos e o Samuel pegou uma carona e foi até a cidade buscar combustível. Por conta disso chegamos em Manaus já bem a noite.

Manaus sempre me trás grandes recordações, mas contarei isto no próximo capitulo,  como o passeio que fiz de canoa pelo Rio Negro até o encontro das águas e um super churrasco em plena selva, na companhia de mais de 40 pessoas e uma das melhores historias por mim vividas, que foi a viagem de barco de Manaus a Belem, mas para justificar o titulo, recordo certa feita no Centro de Convenções de Manaus, o encontro entre os grupos folclóricos Caprichoso e Garantido. É como uma disputa de final de campeonato brasileiro. Arquibancadas lotadas, os Caprichosos, vestidos de azul e o time do Garantido de vermelho, a cor que o Samuel usava tocando um enorme bumbo, junto com sua esposa Georgia. 


No próximo capitulo tem mais.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

MEL DA LUA

MEL DA LUA

Jacira Moreno - Uma extraordinária vendedora e uma historia maior ainda.

Já contei muitas historias neste blog, mas esta que conto hoje é especial. Começou quando ainda estava no LID. Em Cuiabá havia um representante que fazia tudo, menos representar a  empresa. Certo dia a empresa me convocou e pediu que eu fosse até a capital do Mato Grosso organizar aquela região.
Lá chegando, estive com o médico que era o representante do LID e o mesmo, até por força da profissão, não tinha tempo para visitar laboratórios e deixava este serviço para sua secretária, de nome Eliane, que também não tinha a menor idéia de como fazer o serviço, mas notei que ela tinha tino comercial. Precisava apenas ser desenvolvido.
Encerrei o contrato que havia com o médico e contratei a Eliana para ser a vendedora e coletadora do LID em Cuiabá. Garota esperta, em pouco tempo, dominou o mercado e contratou seu marido para ser o coletador. Fiquei muito amigo de ambos, inclusive de toda família dela, pois sempre que ia a Cuiabá, os visitava.

Cuiabá - Linda cidade brasileira. 

O maior fornecedor de exames para o LID naquele cidade era o Hospital Universitário Julio Muller, cujo responsavel técnico era a Dra. Inês, que futuramente viria trabalhar comigo no Laboratório Pardini. Por ser um hospital publico, a rotina deles era muito grande. Somente este laboratório enviava mais de 80% da produção da cidade.
Com o passar do tempo, a Eliana começou a trabalhar também para um outra empresa do grupo do LID, a CPEI, que vendia reagentes para os laboratórios realizarem seus exames e tudo estava funcionando bem. Ela tinha recebido um carro da empresa e a paz reinava naquele pedaço do Brasil. Só que não!


Num determinado dia, o marido da Eliana tem uma briga com ela e os dois acabam se agredindo. Por vingança, o marido dela, pegou o carro do LID e por varias horas passava com o veiculo em alta velocidade por todas barreiras eletronicas de Cuiabá, gerando mais de 200 multas.
Fui para Cuiaba logo em seguida, demiti o Luis e tive que ir no departamento de transito negociar as multas, que valiam uns 03 carros na epoca. Depois de muita conversa, e pagamento de honorários para advogado, chegamos a um valor aceitável que o LID concordou em  pagar e descontar da comissão da Eliana em suaves parcelas.

Este imbróglio ocorreu no meio de uma semana e se arrastou até a sexta feira. Resolvi ficar por lá no final de semana, pois pretendia ir a Campo Grande na sequencia.  Conversando com a Eliana, ela me convidou para ir conhecer a Chapada dos Guimarães e passar o final de semana na casa da Dra. Inês, que tinha uma propriedade naquele local.  Aceitei o convite e ela disse que iria levar uma amiga, de nome Jacira, que em tupi-guarani, significa  MEL DA LUA.

Chapada dos Guimarães

Fomos buscar a Jacira, uma mulher gordinha, estava com o cabelo ruivo na epoca, tinha um olhar determinado, forte, que me encantou muito, de imediato.

Quando começamos a viagem, ainda dentro da cidade, o carro começou a falhar. Estava com problema num dos bicos injetor de gasolina. Eu dirigia o carro e para não estragar o passeio resolvi seguir a viagem, pisando firme no acelerador para que ele ganhasse velocidade nas descidas e tivesse força para vencer as subidas. A duras penas conseguimos chegar na Chapada dos Guimarães.
Na casa da Dra. Inês já tinha um grupo de pessoas e entre eles um  mecânico, que deu um jeito no carro para podermos voltar. Passamos o sábado e o domingo conhecendo as belezas daquele parque que a natureza criou. Quem nunca teve oportunidade de ir até lá, faça um esforço e conheça. Vai valer a pena mesmo.

Bem, voltando a Jacira, tentei fazer amizade com ela, mas ela estava tão revoltada com a forma que eu vim dirigindo, que me classificou de “sujeito babaca” e não teve jeito de ficarmos amigos. Apenas colegas de viagem. Mas minha admiração pelo força que aquela mulher emanava não diminuiu por conta dela não ser minha amiga naquele momento. Senti que ela iria trabalhar comigo. Só não sabia quando e onde.

Fui embora de Cuiabá e nunca mais voltei lá pelo LID. A Eliane ficou a frente da empresa e foi se desenvolvendo na área de laboratório  e acabou com o tempo criando sua própria distribuidora de reagentes e equipamentos. Infelizmente não tenho noticias dela à mais de 20 anos, mas torço  para que ela esteja bem.

Já trabalhava no Pardini e o plano de expansão da empresa não parava. Eu já estava com toda a região sudeste e nordeste funcionando e agora estava começando a trabalhar na região Sul. O projeto previa a contratação de vendedores para as regiões de Londrina, Curitiba, Florianópolis, Chapecó e Porto Alegre.

Para a região de Londrina o escolhido foi o José Marcelo, um vendedor talentoso, mas sem experiencia na área. Teve uma grande trajetória na empresa e quando saiu do Pardini, anos depois foi trabalhar na Criesp e teve tambem grande sucesso. Uma pessoa maravilhosa, fácil de se gostar.
Em Curitiba contratei o Gaetano, um gaúcho de Passo Fundo, contador de historias, mas de boa índole. Tive oportunidade de conhecer toda sua família são pessoas encantadoras. Em outro momento contarei mais sobre estes dois personagens.

Ponte Hercílio Luz - Cartão Postal de Florianopólis

Minha meta era abrir a filial de Chapecó e para tanto, lembrei da ruivinha de Cuiabá, que soube pela Eliana, estava trabalhando numa fabrica de cabo de vassoura, mas estava descontente. Fiz contato com ela e a convidei para vir trabalhar comigo. Ela, para minha surpresa, aceitou de pronto.

Ocorreu então uma mudança na estratégia da empresa. De repente, eles queriam que eu contratasse somente bioquímicos para fazerem o serviço de vendas e eu já estava comprometido com a Jacira para assumir a Região de Chapecó e não podia recuar. Conversei com o Jorge na epoca e ele conseguiu contornar a situação em Belo Horizonte e eu continuei a contratar que eu escolhesse.

Eu combinei com a Jacira que ela iria trabalhar em Florianópolis e não mais Chapecó. Para ela nada mudava, pois não conhecia nada da região Sul e comprou passagem de  Cuiabá para Florianópolis e veio de mala e cuia, trazendo toda sua bagagem. Um salto no escuro. Ela ainda não havia sido contratada, não me conhecia, tinha pedido demissão do seu emprego, com o dinheiro da indenização, comprado passagem de seu bolso e estava arriscando tudo. Aquilo me sensibilizou muito. Só quem acredita faz uma loucura desta. Assim que eu classifiquei na epoca.

Jacira chegando em Florianópolis

Neste ínterim, eu já estava em Florianópolis e fui apresentado a um vendedor indicado pelo proprietário da sala que eu havia alugado e ele se mostrou apto para o trabalho e resolvi contrata-lo.  Pronto, estava com um grande problema na mão. A vaga de Florianópolis que seria da Jacira, já estava preenchida. Restava agora somente Porto Alegre. Pouco tempo depois, demiti o Luis e contratei o Hemerson, que fez um excelente trabalho e hoje atua na Unimed.

No dia marcado da sua chegada, um sábado pela manha, fui ao aeroporto de Florianópolis busca-la. Ela tinha tanta bagagem que o Gol que eu trabalhava ficou totalmente lotado. Já dentro do carro, fazendo a entrevista de emprego, ela me disse que havia tirado carta a pouco tempo e não tinha dinheiro para comprar um carro, Danou! Pensei na hora. E agora? Bem, quem esta na chuva é pra se molhar! Disse pra ela. Vou te contratar, mas você vai trabalhar em Porto Alegre. Moleza total. Sair de uma região  mais quente do Brasil para a mais fria.

E vamos para Porto Alegre agora – disse a ela. E vamos de carro. Chegamos em Porto Alegre ao entardecer, procurei uma pensão barata para ela ficar e no domingo saímos procurando uma casa para ela morar e achamos uma edicula para locação, dentro do orçamento que ela dispunha, nos fundos do quintal de uma família muito simpática, que posteriormente vim a contratar uma das filhas do casal para ser a secretária do escritório que abri em Porto Alegre.

Simbolo do gaúcho
Para resumir a historia, sob minha responsabilidade e ninguém mais sabia, ela ficou trabalhando e produzindo muito em Porto Alegre, visitando os laboratórios usando ônibus ou indo à pé. Isto durou uns 03 meses. Mas o trabalho que ela realizava era tão bom que ninguém em Belo Horizonte chegou a notar. Quando ela conseguiu comprar seu primeiro carro eu abri a região para ela visitar a grande Porto Alegre e posteriormente Caxias do Sul e outras regiões. Anos depois foi promovida a supervisora e montou  uma equipe em todo o Rio Grande do Sul, revelando grandes vendedores. Até hoje rendo minhas homenagens a esta grande guerreira, que depois que deixou o Pardini, foi supervisora do Laboratório Álvaro, foi morar em Cuiabá novamente, voltou para Porto Alegre, foi transferida para Juiz de Fora, Belo Horizonte, Brasilia e atualmente em Ribeirão Preto. É igual bambu, verga mas não quebra.



Fez historia...

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

NEM TUDO FORAM FLORES. LAGRIMAS TAMBÉM FIZERAM PARTE DA HISTORIA.

O Menino da Porteira - Simbolo da cidade de Ouro Fino - Sul de Minas Gerais

As historias que conto neste blog necessariamente não obedecem a ordem que exata que ocorreram, caso contrário ficaria sem muito ação.  Por isso, de vez em quando as épocas vão se misturar, mas os fatos contados foram todos verdadeiros.

Meu filho Fernando tinha-se mudado com a família para a cidade de Mogi Mirim e passou atender o Sul de Minas e cidades do interior de São Paulo. O material coletado era enviado no final do dia, via ônibus, para Belo Horizonte. Era tudo cronometrado. Qualquer atraso significava ter quer no final do dia até a cidade de Pouso Alegre despachar em outro horário. Embora não fosse tão distante, a viagem de ida e volta ficava próxima de 200 quilômetros e a estrada muito sinuosa, sempre oferecia perigo a cada curva.

Região do Sul de Minas

Ele estava se desenvolvendo bem e conseguindo um bom movimento financeiro na região, mas os clientes passaram a cobrar que as coletas dos exames passassem a serem feitas diariamente, o que não acontecia em nenhuma região ate então. Tive uma longa conversa com a diretoria da empresa e finalmente eles concordaram em criar um novo cargo: coletador.

Este cargo previa apenas ter um funcionário para fazer a coleta das amostras, sem a preocupação de efetuar vendas ou procurar novos laboratórios. Com isso, a função que o Fernando exercia até então de vender e coletar, ficou mais fácil e permitiu aumentar ainda mais sua área de atuação. Passou a focar seus esforços na  região do Estado de São Paulo, enquanto seu auxiliar, o Rony, ficava responsável pela coleta nos laboratórios da região do Sul de Minas.

No inicio, ainda havia a necessidade de um processo burocrático de separação, conferencia de requisição antes do envio das amostras. Com isso, todo dia a tarde, o Rony se encontrava com o Fernando em Mogi Mirim. Esta parceria durou vários meses e estava funcionando muito bem.

Num certo dia, era um feriado, o Rony apareceu na casa do Fernando, junto com um amigo para mostrar um novo carro que havia adquirido. Estava muito feliz, cheio de planos e ao se despedir a tarde, estava dando um adeus definitivo. Cerca de meia hora depois chocou-se violentamente contra um cavalo que atravessava a pista, vindo ter morte instantânea. Seu amigo ficou bastante ferido, mas sobreviveu. Foi a primeira morte que eu enfrentava  na minha vida de viajante, agora como gerente de um laboratório. Infelizmente, durante ao tempo que estive à frente do Departamento Comercial do Pardini,  tive que enfrentar mais 05 mortes de grandes vendedores.

Foram dias tristes que se seguiram. A empresa esteve presente, seu todo apoio a família, mas o bem maior tinha partido para sempre. Deixou somente boas recordações.

A vida segue. Precisava fazer a contratação de uma nova pessoa e resolvemos então criar uma nova região, baseada em Pouso Alegre, onde seria contratado um novo vendedor para atender toda a região, estendendo a atuação para a região de Poços de Caldas. Com isso, o Fernando, que estava baseado em Mogi Mirim, ficaria responsável pelo desenvolvimento da região de Campinas e faria a supervisão da região do sul de Minas.
Pouso Alegre - cidade prospera do Sul de Minas

Feito o anuncio para selecionar o candidato através do SINE, fui a Pouso Alegre entrevistar os candidatos. Apareceram 12. 11 homens e uma mulher. Fomos bastante exigentes no critério de seleção, pois o RH do Laboratório Pardini tinha duas psicologas que validavam ou não a contratação, muito diferente da epoca do LID, onde minha escolha é a que prevalecia.

No final, acabamos optando pela mulher. Soeli Silva. A escolha foi tão acertada que até hoje ainda continua na empresa com quase 18 anos de trabalho. Mas o começo foi desastroso. Após ser definida como nova representante, ela teria um treinamento de campo com o Fernando,  uns 10 dias, até que ela pudesse ficar sozinha.

Um ponto que sempre considerávamos numa contratação, principalmente numa mulher, era seu estado civil. Se a mesma estivesse noiva, com pretensão de casar em breve, de ter filhos, por melhor que fosse, não contratava. Explico o motivo. Todas as regiões eram formadas por apenas 01 vendedor. Se uma mulher engravidasse eu criaria um grande problema para mim e para a empresa. No caso da Soeli, embora ainda fosse solteira na epoca, ela mostrava uma força, uma energia, que me fez confiar inteiramente nela, mas esqueci um pequeno detalhe, que quase foi fatal. Embora tivesse carro e carteira de motorista, não sabia dirigir. E isto não foi em momento algum comentado na entrevista inicial, mas serviu para outras entrevistas futuras.

Tudo pronto para iniciar os trabalhos, Soeli ao volante e o Fernando ao lado e partem em direção de Itajubá. Já nos primeiros quilômetros, o Fernando me contou depois, ele já notava um grande nervosismo por parte da Soeli, que demonstrava não ter a menor idéia de como dirigir numa estrada e não deu outra. Alguns quilômetros à frente, ela perdeu o controle do veiculo  e desceu uma ladeira com o carro desgovernado, parando dentro de um riacho. O Fernando, por ser um homem grande, conseguiu se segurar e sofreu somente algumas escoriações, mas a Soeli, por ser pequena, ela foi batendo a testa no volante, causando vários ferimentos. Fraturou um braço e mais algumas escoriações. Foi o fim do trabalho.


Eu estava neste dia na cidade de São Paulo e tão logo soube do acidente me dirigi para Santa Rita de Caldas, onde estavam hospitalizados. Encontrei o Fernando já em pé, mas a Soeli ainda ficou vários dias acamada. Quando tudo terminou, ela estava preocupada em perder o trabalho, mas fiz o que devia ter feito desde o inicio. Voltei a deixar o Fernando trabalhando com ela por mais uns 20 dias, mas ele era quem dirigia e devagar foi deixando ela ir treinando e perdendo o medo de estrada. 

Tempos depois, já bem experiente, a empresa montou um escritório regional naquela cidade  e ela teve sua própria equipe.

Hoje, ela ainda roda por aquelas estradas do Sul de Minas. Nunca mais teve nenhum acidente. Chegou a trabalhar por um tempo na cidade do Rio de Janeiro, em Brasilia, mas preferiu voltar para sua terra, onde hoje vive com seu marido e dois filhos.
Grande mulher, embora seja bem pequena de tamanho.

Continua.