sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

MEL DA LUA

MEL DA LUA

Jacira Moreno - Uma extraordinária vendedora e uma historia maior ainda.

Já contei muitas historias neste blog, mas esta que conto hoje é especial. Começou quando ainda estava no LID. Em Cuiabá havia um representante que fazia tudo, menos representar a  empresa. Certo dia a empresa me convocou e pediu que eu fosse até a capital do Mato Grosso organizar aquela região.
Lá chegando, estive com o médico que era o representante do LID e o mesmo, até por força da profissão, não tinha tempo para visitar laboratórios e deixava este serviço para sua secretária, de nome Eliane, que também não tinha a menor idéia de como fazer o serviço, mas notei que ela tinha tino comercial. Precisava apenas ser desenvolvido.
Encerrei o contrato que havia com o médico e contratei a Eliana para ser a vendedora e coletadora do LID em Cuiabá. Garota esperta, em pouco tempo, dominou o mercado e contratou seu marido para ser o coletador. Fiquei muito amigo de ambos, inclusive de toda família dela, pois sempre que ia a Cuiabá, os visitava.

Cuiabá - Linda cidade brasileira. 

O maior fornecedor de exames para o LID naquele cidade era o Hospital Universitário Julio Muller, cujo responsavel técnico era a Dra. Inês, que futuramente viria trabalhar comigo no Laboratório Pardini. Por ser um hospital publico, a rotina deles era muito grande. Somente este laboratório enviava mais de 80% da produção da cidade.
Com o passar do tempo, a Eliana começou a trabalhar também para um outra empresa do grupo do LID, a CPEI, que vendia reagentes para os laboratórios realizarem seus exames e tudo estava funcionando bem. Ela tinha recebido um carro da empresa e a paz reinava naquele pedaço do Brasil. Só que não!


Num determinado dia, o marido da Eliana tem uma briga com ela e os dois acabam se agredindo. Por vingança, o marido dela, pegou o carro do LID e por varias horas passava com o veiculo em alta velocidade por todas barreiras eletronicas de Cuiabá, gerando mais de 200 multas.
Fui para Cuiaba logo em seguida, demiti o Luis e tive que ir no departamento de transito negociar as multas, que valiam uns 03 carros na epoca. Depois de muita conversa, e pagamento de honorários para advogado, chegamos a um valor aceitável que o LID concordou em  pagar e descontar da comissão da Eliana em suaves parcelas.

Este imbróglio ocorreu no meio de uma semana e se arrastou até a sexta feira. Resolvi ficar por lá no final de semana, pois pretendia ir a Campo Grande na sequencia.  Conversando com a Eliana, ela me convidou para ir conhecer a Chapada dos Guimarães e passar o final de semana na casa da Dra. Inês, que tinha uma propriedade naquele local.  Aceitei o convite e ela disse que iria levar uma amiga, de nome Jacira, que em tupi-guarani, significa  MEL DA LUA.

Chapada dos Guimarães

Fomos buscar a Jacira, uma mulher gordinha, estava com o cabelo ruivo na epoca, tinha um olhar determinado, forte, que me encantou muito, de imediato.

Quando começamos a viagem, ainda dentro da cidade, o carro começou a falhar. Estava com problema num dos bicos injetor de gasolina. Eu dirigia o carro e para não estragar o passeio resolvi seguir a viagem, pisando firme no acelerador para que ele ganhasse velocidade nas descidas e tivesse força para vencer as subidas. A duras penas conseguimos chegar na Chapada dos Guimarães.
Na casa da Dra. Inês já tinha um grupo de pessoas e entre eles um  mecânico, que deu um jeito no carro para podermos voltar. Passamos o sábado e o domingo conhecendo as belezas daquele parque que a natureza criou. Quem nunca teve oportunidade de ir até lá, faça um esforço e conheça. Vai valer a pena mesmo.

Bem, voltando a Jacira, tentei fazer amizade com ela, mas ela estava tão revoltada com a forma que eu vim dirigindo, que me classificou de “sujeito babaca” e não teve jeito de ficarmos amigos. Apenas colegas de viagem. Mas minha admiração pelo força que aquela mulher emanava não diminuiu por conta dela não ser minha amiga naquele momento. Senti que ela iria trabalhar comigo. Só não sabia quando e onde.

Fui embora de Cuiabá e nunca mais voltei lá pelo LID. A Eliane ficou a frente da empresa e foi se desenvolvendo na área de laboratório  e acabou com o tempo criando sua própria distribuidora de reagentes e equipamentos. Infelizmente não tenho noticias dela à mais de 20 anos, mas torço  para que ela esteja bem.

Já trabalhava no Pardini e o plano de expansão da empresa não parava. Eu já estava com toda a região sudeste e nordeste funcionando e agora estava começando a trabalhar na região Sul. O projeto previa a contratação de vendedores para as regiões de Londrina, Curitiba, Florianópolis, Chapecó e Porto Alegre.

Para a região de Londrina o escolhido foi o José Marcelo, um vendedor talentoso, mas sem experiencia na área. Teve uma grande trajetória na empresa e quando saiu do Pardini, anos depois foi trabalhar na Criesp e teve tambem grande sucesso. Uma pessoa maravilhosa, fácil de se gostar.
Em Curitiba contratei o Gaetano, um gaúcho de Passo Fundo, contador de historias, mas de boa índole. Tive oportunidade de conhecer toda sua família são pessoas encantadoras. Em outro momento contarei mais sobre estes dois personagens.

Ponte Hercílio Luz - Cartão Postal de Florianopólis

Minha meta era abrir a filial de Chapecó e para tanto, lembrei da ruivinha de Cuiabá, que soube pela Eliana, estava trabalhando numa fabrica de cabo de vassoura, mas estava descontente. Fiz contato com ela e a convidei para vir trabalhar comigo. Ela, para minha surpresa, aceitou de pronto.

Ocorreu então uma mudança na estratégia da empresa. De repente, eles queriam que eu contratasse somente bioquímicos para fazerem o serviço de vendas e eu já estava comprometido com a Jacira para assumir a Região de Chapecó e não podia recuar. Conversei com o Jorge na epoca e ele conseguiu contornar a situação em Belo Horizonte e eu continuei a contratar que eu escolhesse.

Eu combinei com a Jacira que ela iria trabalhar em Florianópolis e não mais Chapecó. Para ela nada mudava, pois não conhecia nada da região Sul e comprou passagem de  Cuiabá para Florianópolis e veio de mala e cuia, trazendo toda sua bagagem. Um salto no escuro. Ela ainda não havia sido contratada, não me conhecia, tinha pedido demissão do seu emprego, com o dinheiro da indenização, comprado passagem de seu bolso e estava arriscando tudo. Aquilo me sensibilizou muito. Só quem acredita faz uma loucura desta. Assim que eu classifiquei na epoca.

Jacira chegando em Florianópolis

Neste ínterim, eu já estava em Florianópolis e fui apresentado a um vendedor indicado pelo proprietário da sala que eu havia alugado e ele se mostrou apto para o trabalho e resolvi contrata-lo.  Pronto, estava com um grande problema na mão. A vaga de Florianópolis que seria da Jacira, já estava preenchida. Restava agora somente Porto Alegre. Pouco tempo depois, demiti o Luis e contratei o Hemerson, que fez um excelente trabalho e hoje atua na Unimed.

No dia marcado da sua chegada, um sábado pela manha, fui ao aeroporto de Florianópolis busca-la. Ela tinha tanta bagagem que o Gol que eu trabalhava ficou totalmente lotado. Já dentro do carro, fazendo a entrevista de emprego, ela me disse que havia tirado carta a pouco tempo e não tinha dinheiro para comprar um carro, Danou! Pensei na hora. E agora? Bem, quem esta na chuva é pra se molhar! Disse pra ela. Vou te contratar, mas você vai trabalhar em Porto Alegre. Moleza total. Sair de uma região  mais quente do Brasil para a mais fria.

E vamos para Porto Alegre agora – disse a ela. E vamos de carro. Chegamos em Porto Alegre ao entardecer, procurei uma pensão barata para ela ficar e no domingo saímos procurando uma casa para ela morar e achamos uma edicula para locação, dentro do orçamento que ela dispunha, nos fundos do quintal de uma família muito simpática, que posteriormente vim a contratar uma das filhas do casal para ser a secretária do escritório que abri em Porto Alegre.

Simbolo do gaúcho
Para resumir a historia, sob minha responsabilidade e ninguém mais sabia, ela ficou trabalhando e produzindo muito em Porto Alegre, visitando os laboratórios usando ônibus ou indo à pé. Isto durou uns 03 meses. Mas o trabalho que ela realizava era tão bom que ninguém em Belo Horizonte chegou a notar. Quando ela conseguiu comprar seu primeiro carro eu abri a região para ela visitar a grande Porto Alegre e posteriormente Caxias do Sul e outras regiões. Anos depois foi promovida a supervisora e montou  uma equipe em todo o Rio Grande do Sul, revelando grandes vendedores. Até hoje rendo minhas homenagens a esta grande guerreira, que depois que deixou o Pardini, foi supervisora do Laboratório Álvaro, foi morar em Cuiabá novamente, voltou para Porto Alegre, foi transferida para Juiz de Fora, Belo Horizonte, Brasilia e atualmente em Ribeirão Preto. É igual bambu, verga mas não quebra.



Fez historia...

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