MEL DA LUA
Jacira Moreno - Uma extraordinária vendedora e uma historia maior ainda. |
Já contei muitas historias neste
blog, mas esta que conto hoje é especial. Começou quando ainda estava no LID.
Em Cuiabá havia um representante que fazia tudo, menos representar a empresa. Certo dia a empresa me convocou e
pediu que eu fosse até a capital do Mato Grosso organizar aquela região.
Lá chegando, estive com o médico que
era o representante do LID e o mesmo, até por força da profissão, não tinha
tempo para visitar laboratórios e deixava este serviço para sua secretária, de
nome Eliane, que também não tinha a menor idéia de como fazer o serviço, mas
notei que ela tinha tino comercial. Precisava apenas ser desenvolvido.
Encerrei o contrato que havia com o
médico e contratei a Eliana para ser a vendedora e coletadora do LID em Cuiabá.
Garota esperta, em pouco tempo, dominou o mercado e contratou seu marido para
ser o coletador. Fiquei muito amigo de ambos, inclusive de toda família dela,
pois sempre que ia a Cuiabá, os visitava.
Cuiabá - Linda cidade brasileira. |
O maior fornecedor de exames para o
LID naquele cidade era o Hospital Universitário Julio Muller, cujo responsavel
técnico era a Dra. Inês, que futuramente viria trabalhar comigo no Laboratório
Pardini. Por ser um hospital publico, a rotina deles era muito grande. Somente
este laboratório enviava mais de 80% da produção da cidade.
Com o passar do tempo, a Eliana
começou a trabalhar também para um outra empresa do grupo do LID, a CPEI, que
vendia reagentes para os laboratórios realizarem seus exames e tudo estava
funcionando bem. Ela tinha recebido um carro da empresa e a paz reinava naquele
pedaço do Brasil. Só que não!
Num determinado dia, o marido da
Eliana tem uma briga com ela e os dois acabam se agredindo. Por vingança, o
marido dela, pegou o carro do LID e por varias horas passava com o veiculo em
alta velocidade por todas barreiras eletronicas de Cuiabá, gerando mais de 200
multas.
Fui para Cuiaba logo em seguida,
demiti o Luis e tive que ir no departamento de transito negociar as multas, que
valiam uns 03 carros na epoca. Depois de muita conversa, e pagamento de
honorários para advogado, chegamos a um valor aceitável que o LID concordou
em pagar e descontar da comissão da
Eliana em suaves parcelas.
Este imbróglio ocorreu no meio de uma
semana e se arrastou até a sexta feira. Resolvi ficar por lá no final de semana,
pois pretendia ir a Campo Grande na sequencia.
Conversando com a Eliana, ela me convidou para ir conhecer a Chapada dos
Guimarães e passar o final de semana na casa da Dra. Inês, que tinha uma
propriedade naquele local. Aceitei o
convite e ela disse que iria levar uma amiga, de nome Jacira, que em
tupi-guarani, significa MEL DA LUA.
Chapada dos Guimarães |
Fomos buscar a Jacira, uma mulher
gordinha, estava com o cabelo ruivo na epoca, tinha um olhar determinado,
forte, que me encantou muito, de imediato.
Quando começamos a viagem, ainda
dentro da cidade, o carro começou a falhar. Estava com problema num dos bicos
injetor de gasolina. Eu dirigia o carro e para não estragar o passeio resolvi
seguir a viagem, pisando firme no acelerador para que ele ganhasse velocidade nas
descidas e tivesse força para vencer as subidas. A duras penas conseguimos
chegar na Chapada dos Guimarães.
Na casa da Dra. Inês já tinha um
grupo de pessoas e entre eles um
mecânico, que deu um jeito no carro para podermos voltar. Passamos o
sábado e o domingo conhecendo as belezas daquele parque que a natureza criou.
Quem nunca teve oportunidade de ir até lá, faça um esforço e conheça. Vai valer
a pena mesmo.
Bem, voltando a Jacira, tentei fazer
amizade com ela, mas ela estava tão revoltada com a forma que eu vim dirigindo,
que me classificou de “sujeito babaca” e não teve jeito de ficarmos amigos.
Apenas colegas de viagem. Mas minha admiração pelo força que aquela mulher
emanava não diminuiu por conta dela não ser minha amiga naquele momento. Senti
que ela iria trabalhar comigo. Só não sabia quando e onde.
Fui embora de Cuiabá e nunca mais
voltei lá pelo LID. A Eliane ficou a frente da empresa e foi se desenvolvendo
na área de laboratório e acabou com o
tempo criando sua própria distribuidora de reagentes e equipamentos.
Infelizmente não tenho noticias dela à mais de 20 anos, mas torço para que ela esteja bem.
Já trabalhava no Pardini e o plano de
expansão da empresa não parava. Eu já estava com toda a região sudeste e
nordeste funcionando e agora estava começando a trabalhar na região Sul. O
projeto previa a contratação de vendedores para as regiões de Londrina,
Curitiba, Florianópolis, Chapecó e Porto Alegre.
Para a região de Londrina o escolhido
foi o José Marcelo, um vendedor talentoso, mas sem experiencia na área. Teve
uma grande trajetória na empresa e quando saiu do Pardini, anos depois foi
trabalhar na Criesp e teve tambem grande sucesso. Uma pessoa maravilhosa, fácil
de se gostar.
Em Curitiba contratei o Gaetano, um
gaúcho de Passo Fundo, contador de historias, mas de boa índole. Tive
oportunidade de conhecer toda sua família são pessoas encantadoras. Em outro
momento contarei mais sobre estes dois personagens.
Ponte Hercílio Luz - Cartão Postal de Florianopólis |
Minha meta era abrir a filial de
Chapecó e para tanto, lembrei da ruivinha de Cuiabá, que soube pela Eliana,
estava trabalhando numa fabrica de cabo de vassoura, mas estava descontente.
Fiz contato com ela e a convidei para vir trabalhar comigo. Ela, para minha
surpresa, aceitou de pronto.
Ocorreu então uma mudança na
estratégia da empresa. De repente, eles queriam que eu contratasse somente
bioquímicos para fazerem o serviço de vendas e eu já estava comprometido com a
Jacira para assumir a Região de Chapecó e não podia recuar. Conversei com o
Jorge na epoca e ele conseguiu contornar a situação em Belo Horizonte e eu
continuei a contratar que eu escolhesse.
Eu combinei com a Jacira que ela iria
trabalhar em Florianópolis e não mais Chapecó. Para ela nada mudava, pois não
conhecia nada da região Sul e comprou passagem de Cuiabá para Florianópolis e veio de mala e
cuia, trazendo toda sua bagagem. Um salto no escuro. Ela ainda não havia sido
contratada, não me conhecia, tinha pedido demissão do seu emprego, com o
dinheiro da indenização, comprado passagem de seu bolso e estava arriscando
tudo. Aquilo me sensibilizou muito. Só quem acredita faz uma loucura desta.
Assim que eu classifiquei na epoca.
Jacira chegando em Florianópolis |
Neste ínterim, eu já estava em
Florianópolis e fui apresentado a um vendedor indicado pelo proprietário da
sala que eu havia alugado e ele se mostrou apto para o trabalho e resolvi
contrata-lo. Pronto, estava com um
grande problema na mão. A vaga de Florianópolis que seria da Jacira, já estava
preenchida. Restava agora somente Porto Alegre. Pouco tempo depois, demiti o Luis e contratei o Hemerson, que fez um excelente trabalho e hoje atua na Unimed.
No dia marcado da sua chegada, um sábado
pela manha, fui ao aeroporto de Florianópolis busca-la. Ela tinha tanta bagagem
que o Gol que eu trabalhava ficou totalmente lotado. Já dentro do carro,
fazendo a entrevista de emprego, ela me disse que havia tirado carta a pouco
tempo e não tinha dinheiro para comprar um carro, Danou! Pensei na hora. E
agora? Bem, quem esta na chuva é pra se molhar! Disse pra ela. Vou te
contratar, mas você vai trabalhar em Porto Alegre. Moleza total. Sair de uma
região mais quente do Brasil para a mais
fria.
E vamos para Porto Alegre agora –
disse a ela. E vamos de carro. Chegamos em Porto Alegre ao entardecer, procurei
uma pensão barata para ela ficar e no domingo saímos procurando uma casa para
ela morar e achamos uma edicula para locação, dentro do orçamento que ela
dispunha, nos fundos do quintal de uma família muito simpática, que
posteriormente vim a contratar uma das filhas do casal para ser a secretária do
escritório que abri em Porto Alegre.
Simbolo do gaúcho |
Para resumir a historia, sob minha
responsabilidade e ninguém mais sabia, ela ficou trabalhando e produzindo muito
em Porto Alegre, visitando os laboratórios usando ônibus ou indo à pé. Isto
durou uns 03 meses. Mas o trabalho que ela realizava era tão bom que ninguém em
Belo Horizonte chegou a notar. Quando ela conseguiu comprar seu primeiro carro
eu abri a região para ela visitar a grande Porto Alegre e posteriormente Caxias
do Sul e outras regiões. Anos depois foi promovida a supervisora e montou uma equipe em todo o Rio Grande do Sul,
revelando grandes vendedores. Até hoje rendo minhas homenagens a esta grande
guerreira, que depois que deixou o Pardini, foi supervisora do Laboratório Álvaro,
foi morar em Cuiabá novamente, voltou para Porto Alegre, foi transferida para
Juiz de Fora, Belo Horizonte, Brasilia e atualmente em Ribeirão Preto. É igual
bambu, verga mas não quebra.
Fez historia...
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