quarta-feira, 17 de junho de 2020

9200 VISUALIZAÇÕES


No dia 12 de janeiro de 2017, resolvi escrever um diário sobre minhas viagens e não tinha nenhuma pretensão, a não ser registrar para que um dia algum familiar pudesse encontrar estas historias. Um diário, depois de alguns dias, acabou sendo um projeto sem sentido, pois não conseguia escrever tudo o que queria e daí surgiu a ideia de criar um blog. O nome escolhido foi bastante sugestivo “Vendedor de Sonhos”, o que de verdade, eu, e todos os vendedores somos. Vendemos a necessidade de outros. Precisava de um nome para o blog e como havia passado muitos anos numa empresa de lista telefônica, adotei o nome


Usando este nome, comecei a contar minhas historias como vendedor a partir de 1985, quando fui contratado pelo Editora de Lista Telefônica – LTN, para seu quadro de vendedores e lá permaneci até meados de 1989, quando já ocupava o cargo de supervisor. Nesta empresa trabalhavam centenas de vendedores e atuávamos em todo território nacional durante o ano todo e nossas vidas eram estradas, clientes, hotéis e quando dava, voltava pra casa para visitar a familia.

Foram anos de muito trabalho, muita dificuldade, principalmente no inicio, mas hoje, passado mais de 30 anos, valeu a pena cada minuto e o aprendizado daqueles anos foram a base para o sucesso que obtive em outras empresas e outros segmentos.

Voltando ao blog, ao longo destes anos, publiquei um sem números de historias e como disse, sem nenhuma pretensão a não ser registrar minhas memórias, mas com o tempo, as pessoas foram descobrindo o blog e meus escritos começaram a ser lidos e isto me motivou a continuar escrevendo sobre viagens, lugares e pessoas e esta semana, o blog chegou a um numero de visitantes que considero fantástico, considerando que não sou escritor profissional, apenas um amador, que provavelmente comete alguns erros durante a escrita, mas o numero que me impressiona é este 9.200 visualizações até o momento que escrevo estas linhas.

Quero agradecer a todos que estiveram comigo todo este tempo e confessar que nunca esperava nada disso. Minhas historias chegaram a lugares que eu nunca estive e foram lidas por pessoas que jamais conhecerei, mas é muito gostoso ter este reconhecimento.  Bem, já que cheguei até aqui, só me resta continuar. Novas historias, novas homenagens virão no futuro e espero continuar contando com a colaboração de todos.

Hoje vou publicar meu primeiro artigo, que escrevi no dia 12 de dezembro de 2017.
Abraços a todos.


Capitulo 1 – Em busca de um sonho

O Natal daquele ano seria o pior de todos os tempos. Não havia dinheiro para comprar nem uma simples lembrança para as crianças que moravam junto com a mãe na cidade de Descalvado, onde para ajudar no orçamento, a Zezé,minha esposa,  ia diariamente com meus filhos, apanhar algodão numa fazenda próxima. O que ela conseguia dava para comprar o pão e o leite das crianças e o que eu contribuía, dava para pagar o aluguel e comprar alguma comida. Eu trabalhava na cidade de Sorocaba e morava nos fundos de uma lojinha de material de construção, que  havia montado resolvido  em parceria com um amigo. A expectativa do final do ano se aproximava e a situação não mudava. Não havia dinheiro e a possibilidade de consegui-lo estava cada vez mais escassa.

Quando encontrei com o Inácio há cerca de 02 anos antes, ele era um vendedor de materiais de construção em Sorocaba da Loja Monteiro,  empresa já extinta, e eu era o gerente da Concrebrás, uma empresa de concreto usinado e no relacionamento comercial surgiu a ideia de montar uma loja de material de construção, onde venderíamos produtos contra pedidos. Não tínhamos dinheiro suficiente para ter uma loja com estoque e optamos então por montar um show room com diversos tipos de azulejos, pisos, louças e metais sanitários e criamos um nome bem sugestivo para a loja, que se chamou MAGO ACABAMENTOS.

Este nome foi criado da junção dos nossos sobrenomes, Marchetti e Gonçalves e a nossa pequena loja começou a funcionar no início de 1984. A euforia da inauguração foi muito festejada por nós, afinal estávamos realizando o sonho de ter nosso próprio negócio. O barracão onde montamos a empresa tinha uma estrutura bem simples, um espaço de 10 metros de largura, 20 metros de comprimento, 02 banheiros, piso de cimento e no fundo um pequeno quintal. Antes de nós, naquele local funcionava uma oficina mecânica. Nos fundos da loja, montamos um escritório, com uma mesa, um cofre, um arquivo, um sofá para atender os eventuais clientes. Com o passar dos dias, este local passou a ser minha casa. A noite eu guardava o meu chevette dentro da loja e dormia no sofá do escritório. Para as refeições, tinha um pequeno fogão e pelo tempo que a loja existiu a refeição  era sopão e polentina, pois além de ser mais fácil cozinhar, era o que eu sabia fazer.

Como todo início de projeto, todos os sonhos são grandiosos, mas a realidade nem sempre acompanha os devaneios dos sonhadores. Temos que fazer uma reforma no prédio, colocar piso, pintar as paredes, colocar expositores chamativos. Esta era a nossa conversa do dia a dia e o nosso desejo era realiza-los, à medida que as vendas fossem prosperando e o dinheiro sobrando, que na verdade nunca aconteceu. Quando fazíamos alguma venda, o processo era emitir o pedido, fazer uma nota fiscal da compra e ir numa financeira trocar a dita nota e com o dinheiro comprar o material vendido para entregar ao cliente. Era literalmente vender o almoço para comer a janta. Esta rotina foi se repetindo pelos meses de 1984 e nada de novo acontecia, mas de repente, as coisas começaram a mudar.

A alegria durou muito pouco

Conseguirmos fechar a venda de pisos para um prédio de apartamentos e como o volume era grande para o nosso cacife, conseguimos comprar direto o piso da fábrica Giotoku. Com a liberação do credito, aproveitamos e compramos um pequeno estoque, que  seria o início do nosso projeto de finalmente ter uma loja, mas o sonho foi uma bola de sabão; explodiu assim que foi criada. No dia seguinte à chegada do estoque de piso em nossa lojinha, eu estava na cidade visitando clientes, quando o Inácio me ligou dizendo que havia feito um excelente negócio, pois tinha vendido com um bom lucro todo o piso que havíamos recebido e que o cliente já havia carregado e que fizera o pagamento com cheque. Não deu outra. O cheque não tinha fundos e nunca conseguimos localizar o emitente e perdemos tudo. Não demorou que a dívida que tínhamos com a fábrica virou o motivo de começarmos a perder tudo e a firma acabou falindo.

Bateu o desespero. Não tinha dinheiro para comprar material, os fornecedores já não aceitavam os nossos cheques e o nosso estoque havia evaporado, a solução encontrada foi começar a procurar emprego e foi aí que a LTN entrou em minha vida. A semana havia sido desastrosa. Não havia acontecido nenhuma venda e para piorar o quadro, um pouco de dinheiro que restava, teve que ser usado para consertar o carro do Inácio. Ao terminar o trabalho no sábado à tarde, tinha no caixa o dinheiro suficiente para comprar um botijão de gás para abastecer meu carro, comprar uns pacotes de sopão e comprar o “Estadão”, jornal onde era, na época, publicado os anúncios de empregos. 

Passei quase todo o domingo selecionando classificados e entre eles, tinha dois que estavam dentro do meu perfil: a LTN e a IOB. O anuncio da IOB oferecia uma possibilidade de ganho imediato – era o que precisava – e a LTN oferecia tudo que eu não tinha, ou seja, comida, gasolina e um lugar para dormir e vinha de encontro ao meu desejo maior que era ter um emprego que me permitisse viajar. Parecia perfeito, tinha que dar certo!

Na segunda feira, logo pela manhã, liguei para a LTN e fui muito bem atendido e já marcaram uma entrevista para o dia seguinte na Rua Martins Fontes, 230, no centro da cidade de São Paulo. Embora eu já tivesse alguma experiência em vendas, sempre tive minhas atividades profissionais voltadas para um público diferente, vendendo material de construção para o consumidor final e meus clientes, na sua grande maioria era formada por pessoas humildes e era dentro desta simplicidade que eu vivia. Nunca tinha usado um terno para trabalhar e preocupação com roupas, sapatos, unhas e cabelos não eram as minhas prioridades. Da mesma maneira que eu visitava obras, fui a entrevista na LTN. Me recordo que na ocasião estava utilizando um sapato surrado, calça jeans meia vida e camisa de manga curta e ao chegar no prédio onde funcionava a editora, o primeiro susto: Eu era um estranho no ninho. Parecia a porta de uma igreja evangélica de hoje. Os homens de ternos, gravatas, pastas estilo 007 e as mulheres todas de roupas sociais. Creio que havia mais de 50 pessoas para serem entrevistadas. Não posso afirmar, pois estava muito nervoso, mas creio que era o único que não estava devidamente trajado para uma entrevista de emprego, mas já era tarde para recuar. Já que estava lá, tinha que ver o que poderia acontecer.

O primeiro passo da entrevista foi o preenchimento da ficha de informações pessoais, experiências profissionais e todo o procedimento burocrático de praxe. Isto aconteceu no período da manhã e a tarde retornamos para as entrevistas e testes psicotécnicos, não recordo de todos, mas neste dia tive contato pela primeira vez com o Sr. Thomaz, com o Manoel, com o Falco, com o Sidney, com a Ana Maria e com outros entrevistadores, que eram os supervisores da época. Foram várias entrevistas e no final do dia, o Thomaz agradece a nossa presença e promete dar uma resposta aos candidatos escolhidos até a próxima sexta feira, pois os treinamentos  iriam ter seu início na segunda feira seguinte. Confesso que sai dali ansioso, mas frustrado, pois queria ter a certeza que seria contratado e com esta incerteza, voltei para a minha rotina em Sorocaba.

Na quarta-feira, dois dias depois de ter feito os testes eu estava no meu limite. Já não tinha dinheiro nem para comprar comida, não tinha gás para o carro e estava sem nenhuma saída e resolvi ligar para a LTN. Era tudo ou nada. Se fosse nada, estava decidido voltar para Descalvado e trabalhar no que fosse possível para sobreviver, mas não ficaria mais em Sorocaba. Já havíamos decidido que iriamos fechar a loja e devolver o prédio e o prazo de encerramento do contrato de locação era naquela semana. Estava literalmente no meu limite. Se a LTN me aceitasse, então eu iria ficar até domingo na minha casa, em Descalvado, com minha família, para poder me apresentar em São Paulo para iniciar o curso. Usando o telefone emprestado da transportadora, vizinha de nossa lojinha,pois o nosso já estava cortado, fiz a ligação e falei com o Departamento Pessoal, que disseram que ainda estavam analisando os candidatos e que não tinham ainda definição. Argumentei com a pessoa que me atendeu que estava ansioso pelo resultado e que esperava ser aproveitado, pois havia gostado muito da empresa e que a contratação seria um sonho para mim. Parece que meu apelo surtiu efeito, pois a pessoa pediu que eu ligasse dentro de 02 horas e ela daria uma posição final.
Praça Dom José Gaspar, onde começou a LTN
Foram 02 horas de agonia e quando ligo novamente a pessoa que havia me atendido estava em horário de almoço. Pediram para retornar a ligação mais tarde e quando o fiz novamente, fui atendido pelo Sr. Thomaz, que conversou um pouco comigo e disse que iria verificar para eu aguardar uns instantes. Estas ligações eram um grande problema para mim, pois na época os telefonemas interurbanos eram feitos por aquelas fichas de orelhão, ou então você quando terminava a ligação, a Telesp informava o custo da ligação e eu teria que pagar ao meu vizinho. Estava agoniado com a espera e com o custo da ligação, quando o Thomaz voltou a linha e disse que eu havia sido aprovado no processo de seleção e que devia me apresentar na segunda feira para iniciar o curso. Como eu morava fora de São Paulo, eu poderia chegar no domingo e me hospedar no Hotel Bristol, que ficava defronte a LTN.

Um café da manha deste porte para quem só vivia de pão e água

Naquele mesmo dia deixei tudo para trás em Sorocaba e fui para Descalvado contar as boas novas para a família. Não tinha ideia de qual seria o desafio, que tipo de trabalho seria realmente realizado, nem quanto iria ganhar. Contei para minha família que nossa vida iria mudar e era isso o que importava. A Zezé arrumou umas roupas para eu poder levar e passar a semana e finalmente no domingo à tarde, emprestei dinheiro de parentes e tomei um ônibus para São Paulo e cheguei no hotel por volta de 19 horas. Quando entrei no saguão do hotel fiquei encantado. Eu nunca tinha entrado num ambiente como aquele e já na portaria conheci o primeiro amigo na LTN, que estava chegando no hotel naquele mesmo momento, era Irineu Vilella Avansi, que estava chegando de Andradina. Estava finalmente no lugar que iria mudar minha vida para sempre e muitas historias aconteceram, mas fica para a próxima publicação.



7 comentários:

  1. Que história fantástica Luis. Trabalhamos juntos tanto tempo, e nunca falamos sobre isso e agora entendo o seu vigor em viajar o Brasil vendendo os exames do Pardini. Agora está explicado!!!

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  2. Alma de vendedor
    Hoje não se valoriza mais isto.

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  3. Que história linda, de um vencedor!

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  4. Incrível, uma história com força e muita verdade.
    Parabéns

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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