Capitulo 1 – Em busca de um sonho
O Natal daquele ano seria o pior de
todos os tempos. Não havia dinheiro para comprar nem uma simples lembrança para
as crianças que moravam junto com a mãe na cidade de Descalvado, onde para
ajudar no orçamento, a Zezé,minha esposa, ia diariamente com meus filhos, apanhar algodão
numa fazenda próxima. O que ela conseguia dava para comprar o pão e o leite das
crianças e o que eu contribuía, dava para pagar o aluguel e comprar alguma
comida. Eu trabalhava na cidade de Sorocaba e morava nos fundos de uma lojinha
de material de construção, que eu havia resolvido montar em parceria com um
amigo. A expectativa do final do ano se aproximava e a situação não mudava. Não
havia dinheiro e a possibilidade de consegui-lo estava cada vez mais escassa.
Quando encontrei com o Inácio há
cerca de 02 anos antes, ele era um vendedor de materiais de construção da Loja Monteiro, da cidade de Sorocaba, empresa já extinta, e eu era o representante
de uma empresa de concreto, a Concrebrás, daquela cidade e no relacionamento
comercial surgiu a ideia de montar uma loja de material de construção, onde
venderíamos produtos contra pedidos. Não tínhamos dinheiro suficiente para ter
uma loja com estoque e optamos então por montar um show room com diversos tipos
de azulejos, pisos, louças e metais sanitários e criamos um nome bem sugestivo
para a loja, que se chamou MAGO ACABAMENTOS.
Este nome foi criado da junção dos nossos sobrenomes, Marchetti e Gonçalves e a nossa pequena loja começou a funcionar no início de 1984. A euforia da inauguração foi muito festejada por nós, afinal estávamos realizando um sonho de ter nosso próprio negócio. O barracão onde montamos a empresa tinha uma estrutura bem simples, um espaço de 10 metros de largura, 20 metros de comprimento, 02 banheiros, piso de cimento e no fundo um pequeno quintal. Antes de nós, naquele local funcionava uma oficina mecânica. Nos fundos da loja, montamos um escritório, com uma mesa, um cofre, um arquivo, um sofá para atender os eventuais clientes. Com o passar dos dias, este local passou a ser minha casa.A noite eu guardava o meu chevette dentro da loja e dormia no sofá do escritório. Para as refeições, tinha um pequeno fogão e pelo tempo que a loja existiu a refeição predileta era sopão e polentina, pois além de ser mais fácil cozinhar, era o que eu sabia fazer.
Como todo início de projeto, todos os
sonhos são grandiosos, mas a realidade nem sempre acompanha os devaneios dos
sonhadores. Temos que fazer uma reforma no prédio, colocar piso, pintar as
paredes, colocar expositores chamativos. Esta era a nossa conversa do dia a dia
e o nosso desejo era realiza-los, à medida que as vendas fossem prosperando e o
dinheiro sobrando, que na verdade nunca aconteceu. Quando fazíamos alguma
venda, o processo era emitir o pedido, fazer uma nota fiscal da compra e ir
numa financeira trocar a dita nota e com o dinheiro comprar o material vendido
para entregar ao cliente. Era literalmente vender o almoço para comer a janta.
Esta rotina foi se repetindo pelos meses de 1984 e nada de novo acontecia, mas
de repente, as coisas começaram a mudar.
Conseguirmos fechar a venda de pisos
para um prédio de apartamentos e como o volume era grande para o nosso cacife,
conseguimos comprar direto o piso da fábrica Giotoku. Com a liberação do
credito, aproveitamos e compramos um pequeno estoque, que na nossa opinião
seria o início do nosso projeto de finalmente ter uma loja, mas o sonho foi uma
bola de sabão; explodiu assim que foi criada. No dia seguinte à chegada do
estoque de piso em nossa lojinha, eu estava na cidade visitando clientes,
quando o Inácio me ligou dizendo que havia feito um excelente negócio, pois
tinha vendido com um bom lucro todo o piso que havíamos recebido e que o
cliente já havia carregado e que fizera o pagamento com cheque. Não deu outra.
O cheque não tinha fundos e nunca conseguimos localizar o emitente e perdemos
tudo. Não demorou que a dívida que tínhamos com a fábrica virou o motivo de
começarmos a perder tudo e a firma acabou falindo.
Bateu o desespero. Não tinha dinheiro
para comprar material, os fornecedores já não aceitavam os nossos cheques e o
nosso estoque havia evaporado, a solução encontrada foi começar a procurar
emprego e foi aí que a LTN entrou em minha vida. A semana havia sido
desastrosa. Não havia acontecido nenhuma venda e para piorar o quadro, um pouco
de dinheiro que restava, teve que ser usado para consertar o carro do Inácio.
Ao terminar o trabalho no sábado à tarde, tinha no caixa o dinheiro suficiente
para comprar um botijão de gás para abastecer meu carro, comprar uns pacotes de
sopão e comprar o “Estadão”, jornal onde era, na época, publicado os anúncios
de empregos.
Passei quase todo o domingo selecionando classificados e entre eles, tinha dois que estavam dentro do meu perfil: a LTN e a IOB. O anuncio da IOB oferecia uma possibilidade de ganho imediato – era o que precisava – e a LTN oferecia tudo que eu não tinha, ou seja, comida, gasolina e um lugar para dormir e vinha de encontro ao meu desejo maior que era ter um emprego que me permitisse viajar. Parecia perfeito, tinha que dar certo!
Passei quase todo o domingo selecionando classificados e entre eles, tinha dois que estavam dentro do meu perfil: a LTN e a IOB. O anuncio da IOB oferecia uma possibilidade de ganho imediato – era o que precisava – e a LTN oferecia tudo que eu não tinha, ou seja, comida, gasolina e um lugar para dormir e vinha de encontro ao meu desejo maior que era ter um emprego que me permitisse viajar. Parecia perfeito, tinha que dar certo!
Na segunda feira, logo pela manhã,
liguei para a LTN e fui muito bem atendido e já marcaram uma entrevista para o
dia seguinte na Rua Martins Fontes, 230, no centro da cidade de São Paulo.
Embora eu já tivesse alguma experiência em vendas, sempre tive minhas
atividades profissionais voltadas para um público diferente, pois vendia
material de construção para o consumidor final e meus clientes, na sua grande
maioria era formada por pessoas humildes e era dentro desta simplicidade que eu
vivia. Nunca tinha usado um terno para trabalhar e preocupação com roupas,
sapatos, unhas e cabelos não eram as minhas prioridades. Da mesma maneira que
eu visitava obras, fui a entrevista na LTN. Me recordo que na ocasião estava
utilizando um sapato surrado, calça jeans meia vida e camisa de manga curta e
ao chegar no prédio onde funcionava a editora, o primeiro susto: Eu era um
estranho no ninho. Parecia a porta de uma igreja evangélica de hoje. Os homens
de ternos, gravatas, pastas estilo 007 e as mulheres todas de roupas sociais.
Creio que havia mais de 50 pessoas para serem entrevistadas. Não posso afirmar,
pois estava muito nervoso, mas creio que era o único que não estava devidamente
trajado para uma entrevista de emprego, mas já era tarde para recuar. Já que estava
lá, vamos ver o que poderia acontecer.
O primeiro passo da entrevista foi o
preenchimento da ficha de informações pessoais, experiências profissionais e
todo o procedimento burocrático de praxe. Isto aconteceu no período da manhã e
a tarde retornamos para as entrevistas e testes psicotécnicos, não recordo de
todos, mas neste dia tive contato pela primeira vez com o Sr. Thomaz, com o
Manoel, com o Falco, com o Sidney, com a Ana Maria e com outros
entrevistadores, que eram os supervisores da época. Foram várias entrevistas e
no final do dia, o Thomaz agradece a nossa presença e promete dar uma resposta
ais candidatos escolhidos até a próxima sexta feira, pois o treinamento para as
pessoas escolhidas iria ter seu início na segunda feira seguinte. Confesso que
sai dali ansioso, mas frustrado, pois queria ter a certeza que seria contratado
e com esta incerteza, voltei para a minha rotina em Sorocaba.
Na quarta-feira, dois dias depois de
ter feito os testes eu estava no meu limite. Já não tinha dinheiro nem para
comprar comida, não tinha gás para o carro e estava sem nenhuma saída e resolvi
ligar para a LTN. Era tudo ou nada. Se fosse nada, estava decidido voltar para
Descalvado e trabalhar no que fosse possível para sobreviver, mas não ficaria
mais em Sorocaba. Já havíamos decidido que iriamos fechar a loja e devolver o
prédio e o prazo de encerramento do contrato de locação era naquela semana.
Estava literalmente no meu limite. Se a LTN me aceitasse, então eu iria ficar
até domingo na minha casa, em Descalvado, com minha família, para poder me
apresentar em São Paulo para iniciar o curso. Usando o telefone emprestado da
transportadora, vizinha de nossa lojinha,pois o nosso já estava cortado, fiz a
ligação e falei com o Departamento Pessoal, que disseram que ainda estavam
analisando os candidatos e que não tinham ainda definição. Argumentei com a
pessoa que me atendeu que estava ansioso pelo resultado e que esperava ser
aproveitado, pois havia gostado muito da empresa e que a contratação seria um
sonho para mim. Parece que meu apelo surtiu efeito, pois a pessoa pediu que eu
ligasse dentro de 02 horas e ela daria uma posição final.
Foram 02 horas de agonia e quando
ligo novamente a pessoa que havia me atendido estava em horário de almoço.
Pediram para retornar a ligação mais tarde e quando o fiz novamente, fui
atendido pelo Sr. Thomaz, que conversou um pouco comigo e disse que iria
verificar para eu aguardar uns instantes. Estas ligações eram um grande
problema para mim, pois na época os telefonemas interurbanos eram feitos por
aquelas fichas de orelhão, ou então você quando terminava a ligação, a Telesp
informava o custo da ligação e eu teria que pagar ao meu vizinho. Estava
agoniado com a espera e com o custo da ligação, quando o Thomaz voltou a linha
e disse que eu havia sido aprovado no processo de seleção e que devia me
apresentar na segunda feira para iniciar o curso. Como eu morava fora de São
Paulo, eu poderia chegar no domingo e me hospedar no Hotel Bristol, que ficava
defronte a LTN.
Naquele mesmo dia deixei tudo para
trás em Sorocaba e fui para Descalvado contar as boas novas para a família. Não
tinha ideia de qual seria o desafio, que tipo de trabalho seria realmente
realizado, nem quanto iria ganhar. Contei para minha família que nossa vida
iria mudar e era isso o que importava. A Zezé arrumou umas roupas para eu poder
levar e passar a semana e finalmente no domingo à tarde, emprestei dinheiro de
parentes e tomei um ônibus para São Paulo e cheguei no hotel por volta de 19
horas. Quando entrei no saguão do hotel fiquei encantado. Eu nunca tinha
entrado num ambiente como aquele e já na portaria conheci o primeiro amigo na
LTN, que estava chegando no hotel naquele mesmo momento, era Irineu Vilella
Avansi, que estava chegando de Andradina. Estava finalmente no lugar que iria
mudar minha vida para sempre.
Que emocionante, Luis quero ler e vibrar em todos os capitulos das historias das vidas reais!!!! :-)
ResponderExcluirAbraço da sua amiga Nay