Capitulo 8 – Fim de Campanha
Depois de mais de três meses
viajando pelo sul do Brasil e pelas cidades do Estado do Rio de Janeiro,
inclusive com muito trabalho na capital, estávamos de volta a São Paulo. Era a
última etapa para fechar a edição do Guia Brasil Telex daquele ano. Voltamos
todos os que moravam no interior a se hospedar no Hotel Bristol e os de São
Paulo em suas casas.
Todos estavam na expectativa do início do ciclo das Listas
Telefônicas, onde, segundo os vendedores mais experientes, afirmavam ser mais
fácil trabalhar, pois era um produto mais vendável que o GBT. Para mim,
acreditava ser tudo igual, pois durante o tempo que estive trabalhando nas
viagens, tinha um aproveitamento considerado de ruim para regular. Sofria muito
para ficar dentro dos percentuais. As equipes eram formadas em média por 07 a
08 vendedores e eu estava sempre entre o quinto e o sexto, embora em alguns
momentos segurei a lanterna da equipe.
O nosso trabalho era simples,
tínhamos que visitar e vender anuncio para empresas que tinham telex e estas atribuições
eram entregues aos vendedores, sempre em envelope indevassável, que nem os
supervisores sabiam o tinham dentro, aliás, depois de fechado os pacotes,
ninguém sabia mesmo, nem mesmo o Manoel, que com seu famoso “jacaré”, uma
engenhoca que ele inventou para separar as fichas. Era tudo no escuro e dentro
dos percentuais. Mas o trabalho não acabava aí, tinha os famosos PRTs, e isto
merece ser melhor explicado.Aquele que conseguiu viver sem
fazer os famosos PRTs, não trabalhou na LTN ou não trabalhou. Tinha vendedor
que fazia PRT até de IA, acreditem quem quiser.
Primeiro dia de trabalho,
parece que os vendedores sofreram amnésia coletiva, ninguém sabia mais nada e aí
para que serve os veteranos? Para sacanear os pezinhos, claro! No começo, ainda
a maioria entrava improdutivo ou no máximo vendia uma IA e os mais ousados um
MA ou NG, mas devagar as coisas iam acontecendo e os problemas aumentando. O
que fazer quando conseguia uma venda de valor grande? Acertar o contrato na frente
do cliente? Nem pensar, a noite se faz o PRT e olha que mesmo assim se fazia
cada barbaridade, e aí o supervisor devolvia o contrato ao vendedor e ele fazia
PRT dos PRTs e tinha vendedor que chegava a ficar com o contrato sem saber como
fazer por quase uma semana. Resolvia quando se ameaçava cortar gasolina,
prêmio. Mas o PRTs era temido. Dependendo do humor do supervisor, o vendedor ficava fazendo PRTs até tarde da noite. A LTN era um lugar muito bom para trabalhar, viver na comunidade, as viagens, as aventuras, mas os PRTs, ninguém merece... e esquece.
Mas as besteiras não paravam aí
e sempre sobrava para a equipe que estava fazendo o agenciamento no ano das
rendas feitas no ano anterior e era praxe trocar as equipes e por isso
dificilmente o mesmo vendedor visitava o mesmo cliente duas vezes. O que pode
vender uma empresa que produz aço em grande escala? Quem poderia ser cliente
desta empresa que se utilizaria do telex para fechar algum tipo de negócio?
Vocês sabem a resposta: ninguém.
Bem, teve um vendedor que fez
um contrato monstruoso com a Siderúrgica CSN de Volta Redonda, cidade
localizada no interior do Rio de Janeiro, enorme mesmo e para justificar o
valor do contrato, colocou páginas inteiras com o logotipo da empresa, em todos
os títulos que coubesse aço, desde arame até vergalhão. De verdade, umas 30
páginas ou mais, fora os logotipos, quarto de páginas com telefones, enfim, um
verdadeiro show de marketing e de PRTs. Ganhou muito dinheiro com esta venda,
mas no ano seguinte para renovar, foi uma outra história. Eu tive que ir na empresa, já na condição de
supervisor, pois a ficha caiu na minha equipe e enfrentar dois diretores
furiosos, que falaram alhos e bugalhos e tive que aguentar firme. No final
consegui fechar um acordo, oferecendo um desconto no valor das mensalidades,
mas este contrato que era um dos maiores, continuou posteriormente, mas dentro
de uma realidade mais adequada ao tipo de comercio que a CSN utilizava.
Eu já tinha a duras penas
alcançado os índices para uma atribuição que daria direito a ficha prêmio, que
vinha acompanhada com pacotes de A e B, além de 01 pacote de fichas de clientes
novos e todos eram da cidade de Sorocaba. Analisando as fichas como todo
vendedor fazia, não tinha grandes esperanças de ter uma boa produção, mas
aquele foi um dia especial, que atribuo minha permanência na LTN depois deste
dia. Pela ordem, para ganhar confiança, visitei os clientes das rendas B e
renovei as duas, depois fui no cliente da renda A e renovei com um aumento na
inserção que ele tinha e finalmente a renda prêmio foi renovada sem nenhum
problema. Ainda estava no meio do dia e dava tempo de visitar algumas fichas de
novos.
Tecelagem Cianê da cidade de Sorocaba |
Normalmente, quando uma empresa tinha muitas filiais, ela possuía
diversos telex e uma empresa que visitei, a Cianê, uma grande indústria de
tecidos, tinha mais de 50 aparelhos de telex espalhados pelo Brasil. Chegando
na empresa, conversei com um assessor da diretoria sobre o que estávamos
fazendo e fiz a famosa conferencia das fichas e perguntei se tudo ficaria como
estava ou haveria mudança. Falei um valor por telex e ele pediu licença e
entrou para conversar com a diretoria da empresa e eu fiquei esperando na
recepção. Confesso que estava agoniado, pois se eles concordassem, seriam meu
maior contrato até então. Demorou uns 40 minutos até este assessor voltar.
Vocês que já passaram por isso sabem o que representava ficar esperando numa
recepção o cliente retornar.
Depois deste tempo, que para
mim pareceu dias, ele volta todo sorridente, com o contrato assinado por dois
diretores, com o extenso colocado corretamente, além de colocar o carimbo da
empresa abaixo das assinaturas. Agradeci muito a ele e sai dali rapidinho e
sentei no carro uns minutos para recuperar da emoção. Ainda naquele dia,
consegui fazer mais dois contratos de clientes novos e a noite no atendimento,
o Cavalcante brincou muito comigo e eu subi para terceiro na produção da
equipe, lugar que mantive até o final da campanha.
Estava na hora de se despedir
de São Paulo. Só voltaríamos a sede da LTN em dezembro e eu levava comigo as
lembranças daquela cidade como almoço rotineiro num restaurante que ficava na
saída do Galeria Metrópole, onde tinha uma agencia do Banco Nacional no segundo
andar, da Rua 07 de Abril, da agência do Banco Itaú, onde tínhamos a conta salário
e todos aplicavam no Over Night, que era a bola da vez na época. Dava uma
ilusão de ganhar muito dinheiro, mas a inflação do outro lado levava tudo. Era
muito doido. Ali mesmo, saindo do Banco Itaú, a direita tinha um restaurante
que servia uma bisteca sensacional, além de umas lojas de camisas e meias na
Rua Marconi. Como esquecer do Mappin!
Mappin nos idos de 1986 |
Era quase um ritual no intervalo do
almoço ir almoçar naquela praça, quando não ia ao Bar do Dinei, e dar uma passada no
banco, passar na sede da Telefônica, ou mesmo descer até Barão de Itapetininga
para apreciar a movimentação. Sempre que podia, a noite ia ao Cine Ipiranga, na
época o melhor cinema do centro de São Paulo e na última vez que passei por ele,
estava todo abandonado, servindo de abrigo para moradores de rua.
Interior do Cine Ipiranga |
Mas a campanha chegara ao fim.
As comemorações de praxe e o Cavalcante havia vencido a campanha. Os faixas A,
como Agno, Marçola, Ribeiro, C. Dourado, Lucas e outros tinham feito produções
enormes e foram os grandes vencedores, mas agora iria começar uma nova etapa. A
temporada das listas telefônicas iria começar e no sorteio das novas equipes,
tive sorte novamente e fui trabalhar com o Marco Antonio Ramos e nosso primeiro
trabalho era a queridinha da empresa: a Lista Telefônica de Ribeirão Preto. Ia
começar tudo de novo.
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