sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Capitulo 3 -  O Paletó de Couro



A primeira atribuição dada pelo Cavalcante a mim foram dois pacotes com 10 fichas de clientes novos cada. Estas fichas estavam localizadas na sua maioria na Avenida Paulista e imediações e eram as fichas que os veteranos nunca visitavam, pois, o índice de aproveitamento era pífio. Ninguém, já com experiência se interessava em visitar firmas de advocacia, dentistas, médicos pois o veículo Guia Brasil Telex não vinha de encontro aos interesses deste segmento de mercado, mas como estávamos iniciando, tudo era novidade, portanto, não havia o que reclamar; as visitas eram feitas e o resultado era o previsível. A maioria de nós que estávamos iniciando entravamos improdutivos, e era uma sensação horrível, pois todos os veteranos traziam vendas e nós nada.  Uma exigência era que todos deveriam trabalhar de gravata e paletó, o que não era muito compatível com a época, visto os automóveis não terem ar condicionado e você entrar no cliente todo desalinhado, suado, descabelado.

Foi o que aconteceu comigo. Quando entrei na LTN estava numa situação financeira para lá de horrível. Vendia o almoço para comer na janta, quando conseguia, e a única indumentária que eu tinha na época, era um paletó de couro preto, pesado, feito especialmente para o frio, mas era o que tinha, portanto, como era obrigatório o uso do paletó e da gravata, lá ia eu visitar aquelas empresas da Avenida Paulista e vender que é bom nada, mas um determinado dia fui visitar uma empresa na Rua Frei Caneca e quando cheguei ao local, a pessoa que me atendeu, mandou eu tirar o paletó e ficasse a vontade. 

Minha camisa estava encharcada de suor e para que eu me esfriasse um pouco, ligou o ar condicionado, mandou servir um suco de laranja e conversou um tempo comigo sobre as atividades da sua empresa, que era uma distribuidora de material de escritório e finalmente falamos do motivo da minha visita, que era fazer uma publicidade no Guia Brasil Telex. Acho que até por pena e não por necessidade, aquele sujeito autorizou que o nome da sua empresa fosse inserido na próxima edição com um negrito. Foi minha primeira venda. Não cabia mais dentro de mim e nem dentro do paletó.

Foi o máximo para mim. A tarde cheguei para o atendimento todo orgulhoso, suado, mas orgulhoso, afinal tinha feito meu primeiro contrato e aí outros vieram naturalmente, mas o primeiro ninguém esquece! Neste dia, o Cavalcante informou que iriamos começar a viajar a partir da próxima semana e o nosso primeiro trabalho seria feito a partir de Porto Alegre, portanto, tínhamos que avisar a família que iriamos ficar um tempo fora, pois, todas as equipes estariam juntas e iriam visitar todos os clientes da região sul, num prazo de 60 dias aproximadamente. Uma boa lembrança desta época consegui obter de uma publicação do Kaká (Jose Carlos Fecuri), com as equipes formadas e foi nelas que nós, os novatos, entramos. Matem a saudade?

SUP. MENEGHETTI: Alcio - C. Pereira - Genilson - Reginaldo - Araújo - Silvestre - Barra Grande - Granconato - J. Aparecido.

SUP. MORALES: Ortiz - Virginio - Reinaldo - Salles - Hildebrando - Lourenço - R. Souza - Visgueiro - Dalaro.

SUP. JAIR: Benito - Clóvis - Julidori - Herivelto - Castro - Altran - Ortolani - Claudecir - J. Roberto.

SUP. CAVALCANTI: Agno - Petrilli - Nair - Anfrísio - Ulisses - Edmundo - Expedito - Trindade - Cida (Ex-chacrete)

SUP. MARCOS: Mairo - Jarbas - Coutinho - Roseana - Adriano - Leda - Dimitrios - Bértolo - Lucas.

SUP. A. CARLOS: Mara - Zatiti - Wellington - Vasco - Nicolau - Simões - Spineli - Augusto - Ribeiro.

SUP. ALEXANDRE: Valdir - Medeiros - Gonçalves - Vicente - Fonseca - Olímpio - Demarco - Marçola.

SUP. SILVIO: Fabiano - C. Dourado - Walter - David - J. Silva - Nivaldo - Kleens - J. Rubens.

O tempo conspira, mas guardo lembranças de alguns deles, que pode não ser mesma de vocês, mas ajuda a recordar.

Meneghetti – Era um sujeito duro, mas leal. Protegia a equipe e quem não o conhecia, em primeiro momento, não queria trabalhar com ele, mas ele sempre foi um grande líder e levava suas equipes a disputarem os primeiros lugares em todas as campanhas. Somos amigos até hoje.

Morales – Não tive nenhum contato comercial com ele. Ele saiu da empresa no final do ano de 1985, mas diziam ser uma boa pessoa.

Jair – a exemplo do Morales, não tive oportunidade de conhece-lo como profissional. Saiu da empresa também no final de 1985.

Cavalcanti – Um grande cara. Sujeito muito simpático, tinha resposta pronta para toda situação. Foi um grande mestre.

Marcos – Meu segundo supervisor. Depois de um início difícil, conseguimos nos acertar e trabalhamos juntos 03 campanhas de listas. Grande amigo.

Antonio Carlos – Era extremamente simpático a todos. Era aquele que sem ele nenhuma festa começava.

Alexandre – Grande mestre. Aprendi muito com ele já como supervisor.

Silvio – O preferido de todos os vendedores. Ele sempre foi amigo de todos e está qualidade o credenciava a ser o supervisor mais querido por todos.

Manoel – Este fez parte da história de todos os que trabalharam com ele. Muito inteligente, tinha tiradas inesquecíveis como: pessoal, vamos discutir agora o que esta resolvido.

Falco e Sidney – Eram os gerentes da época. Ambos tinham em comum a soberba. Acreditavam que o mundo girava em torno deles

Sr. Josias, como era chamado, era o diretor geral da empresa. Tive poucas oportunidades de conversar com ele, mas nas poucas vezes, sempre foi muito solicito.

Fecuri – o famoso Kaká, uma das pessoas mais criativas e inteligente que conheci. Era ele, junto com sua equipe que dava vida aos anúncios que os vendedores faziam. Um grande amigo e merece todos os elogios
R. Souza – um negão simpático, lembrava um pouco o Martinho da Vila, era sempre uma surpresa a cada dia. As vezes chegava estourando a boca do balão e outras entrava num ostracismo, mas era um cara muito bom.
Julidori – Na época já era um dos veteranos, como nunca mais tive notícias dele, hoje se estiver bem de saúde, já deve estar na casa dos 70 anos. Era um gentleman, muito educado, bom vendedor, e sempre recordo de uma ideia dele de montar um restaurante que se chamaria “Raízes”, onde seria servido somente pratos que pudessem ser comidos com a mão, sem frescura. No lugar de talheres, seria oferecido um avental para que o cliente se sentisse completamente à vontade. Ele dizia sempre que rabada e frango só fica gostoso se comer com as mãos sem uso de talheres. Espero que ele tenha realizado seu sonho.
Herivelto – Cheguei a trabalhar algumas vezes com ele e era um vendedor dentro da média, não era de conversar muito, pelo menos tenho esta imagem dele, mas provou ser um grande empresário, quando saiu da LTN montou uma lista de telex internacional, com escritório perto do Largo São Bento e cheguei até pegar a representação, mas não deu certo. O meu tempo de listeiro já havia passado.
Altran – que conheceu não esquece dele. Era um sujeito bom, mas vivia reclamando disso, daquilo e numa ocasião, estávamos no Hotel Bourbon em Curitiba e no estacionamento do hotel ele e o Ortolani, entraram em discussão por alguma besteira e chegaram as vias de fatos e passaram trocar socos. Eu entrei no meio para apartar e consegui, mas acabei levando um soco no peito que trincou uma costela e fiquei com aquela dor por muitos dias.
Nair – sinto saudades dela. Aprendi muito com ela. Era minha parceira predileta para TJ. Na época ela era de Rio Preto e nunca mais tive notícias. Gostaria de encontrá-la.
Leda – Por muito tempo éramos apenas colegas de trabalho. Um bom dia no máximo, mas com o tempo fomos ficando amigos e uma ocasião estávamos em Araçatuba e fomos almoçar juntos num restaurante chamado Bola 7, se a memória não me trair e a comida foi servida era horrível. A Leda virou bicho. Brigou com o garçom, com o gerente e saímos sem pagar a conta.
Lucas – Era um grande vendedor, chegava no atendimento falando alto, colocando pilha. Era adorado por todos. Nunca trabalhamos junto, mas sempre teve a admiração de todos.
C.Dourado – uma grande amiga. Foi a primeira veterana a me acolher como amiga. Amizade que dura até hoje.
Ortiz – Não tive oportunidade de trabalhar com ele muitas vezes, mas sempre se mostrou um vendedor hábil e hoje um bom contador de histórias.
Augusto – Cara simpático, bom de vendas, tinha uma cabeleira “em falta”. Grande amigo.
Ribeiro – Era um dos veteranos e era cotado por todos os vendedores para ser o novo supervisor juntamente com o Mairo. Quando a diretoria escolheu eu e o Mairo ele ficou muito revoltado e não tenho recordação se ele continuou na empresa.
Vicente – Gente finíssima. Era de Barretos. Dividi apartamento com ele por diversas vezes e nunca mais tive notícias. Gostaria de saber notícias dele.
David – Grande vendedor. Ele e seu inseparável bigode era um bom amigo. Me prestou socorro uma vez na estrada, quando o meu Chevette estava quebrado.
J. Rubens – Lembro bem deste menino, pois quando ficávamos a noite na calçada da Avenida Rio Branco, defronte ao Hotel São Francisco, ele esnobava, pois era o único da turma que conseguia conversar em inglês com os turistas que estavam no mesmo hotel.
Voltando ao relato terminamos a semana na quinta feira e no final do dia durante o atendimento, foi dado o dinheiro para a viagem até Porto Alegre. Todos os vendedores deveriam estar no atendimento na próxima segunda feira, a partir das 08:00 no Hotel Embaixador. 

Destino inicial da primeira viagem

Tudo simples e sem muita frescura. Segunda feira em Porto Alegre e ponto. Porto Alegre? Ficava imaginando como seria a viagem, considerando o carro que eu tinha na época, um Chevette 1974, movido a gás de cozinha e precisava deixar dinheiro com minha esposa, pois como estava iniciando na empresa e já vinha sem dinheiro a bastante tempo, fiz um sacrifício enorme e deixei quase a metade do que havia recebido para as despesas de viagens.

Como um botijão de gás dava para rodar cerca de 200 quilômetros, com o tanque cheio de gasolina eu daria um jeito de ir comprando gás pelo caminho e com isso economizaria o valor que havia deixado com a família. Com o dinheiro contado e com o risco de ser pego pela polícia, pois era proibido na época utilizar o gás como combustível, terminei os preparativos para a viagem e finalmente, no sábado de manhã, saímos em comitiva de São Paulo, com destino a Porto Alegre. A viagem foi com a  Ângela Guerreiro, com a Soeli e com o Ruz. Esta viagem foi tão espetacular, que merece ser contada num capitulo exclusivo.

Continua na próxima semana.


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