Capitulo 3 - O Paletó de Couro
A primeira atribuição dada
pelo Cavalcante a mim foram dois pacotes com 10 fichas de clientes novos cada.
Estas fichas estavam localizadas na sua maioria na Avenida Paulista e
imediações e eram as fichas que os veteranos nunca visitavam, pois, o índice de
aproveitamento era pífio. Ninguém, já com experiência se interessava em visitar
firmas de advocacia, dentistas, médicos pois o veículo Guia Brasil Telex não
vinha de encontro aos interesses deste segmento de mercado, mas como estávamos
iniciando, tudo era novidade, portanto, não havia o que reclamar; as visitas
eram feitas e o resultado era o previsível. A maioria de nós que estávamos
iniciando entravamos improdutivos, e era uma sensação horrível, pois todos os
veteranos traziam vendas e nós nada. Uma
exigência era que todos deveriam trabalhar de gravata e paletó, o que não era
muito compatível com a época, visto os automóveis não terem ar condicionado e
você entrar no cliente todo desalinhado, suado, descabelado.
Foi o que aconteceu comigo.
Quando entrei na LTN estava numa situação financeira para lá de horrível.
Vendia o almoço para comer na janta, quando conseguia, e a única indumentária
que eu tinha na época, era um paletó de couro preto, pesado, feito
especialmente para o frio, mas era o que tinha, portanto, como era obrigatório
o uso do paletó e da gravata, lá ia eu visitar aquelas empresas da Avenida
Paulista e vender que é bom nada, mas um determinado dia fui visitar uma
empresa na Rua Frei Caneca e quando cheguei ao local, a pessoa que me atendeu,
mandou eu tirar o paletó e ficasse a vontade.
Minha camisa estava encharcada de
suor e para que eu me esfriasse um pouco, ligou o ar condicionado, mandou
servir um suco de laranja e conversou um tempo comigo sobre as atividades da sua
empresa, que era uma distribuidora de material de escritório e finalmente
falamos do motivo da minha visita, que era fazer uma publicidade no Guia Brasil
Telex. Acho que até por pena e não por necessidade, aquele sujeito autorizou
que o nome da sua empresa fosse inserido na próxima edição com um negrito. Foi
minha primeira venda. Não cabia mais dentro de mim e nem dentro do paletó.
Foi o máximo para mim. A tarde
cheguei para o atendimento todo orgulhoso, suado, mas orgulhoso, afinal tinha
feito meu primeiro contrato e aí outros vieram naturalmente, mas o primeiro
ninguém esquece! Neste dia, o Cavalcante informou que iriamos começar a viajar
a partir da próxima semana e o nosso primeiro trabalho seria feito a partir de
Porto Alegre, portanto, tínhamos que avisar a família que iriamos ficar um
tempo fora, pois, todas as equipes estariam juntas e iriam visitar todos os
clientes da região sul, num prazo de 60 dias aproximadamente. Uma boa lembrança
desta época consegui obter de uma publicação do Kaká (Jose Carlos Fecuri), com
as equipes formadas e foi nelas que nós, os novatos, entramos. Matem a saudade?
SUP. MENEGHETTI: Alcio - C.
Pereira - Genilson - Reginaldo - Araújo - Silvestre - Barra Grande - Granconato
- J. Aparecido.
SUP. MORALES: Ortiz - Virginio - Reinaldo -
Salles - Hildebrando - Lourenço - R. Souza - Visgueiro - Dalaro.
SUP. JAIR: Benito - Clóvis - Julidori - Herivelto - Castro - Altran - Ortolani -
Claudecir - J. Roberto.
SUP. CAVALCANTI: Agno -
Petrilli - Nair - Anfrísio - Ulisses - Edmundo - Expedito - Trindade - Cida
(Ex-chacrete)
SUP. MARCOS: Mairo - Jarbas - Coutinho - Roseana -
Adriano - Leda - Dimitrios - Bértolo - Lucas.
SUP. A. CARLOS: Mara - Zatiti - Wellington - Vasco
- Nicolau - Simões - Spineli - Augusto - Ribeiro.
SUP. ALEXANDRE: Valdir - Medeiros - Gonçalves -
Vicente - Fonseca - Olímpio - Demarco - Marçola.
SUP. SILVIO: Fabiano - C. Dourado - Walter - David
- J. Silva - Nivaldo - Kleens - J. Rubens.
O tempo conspira, mas guardo lembranças de
alguns deles, que pode não ser mesma de vocês, mas ajuda a recordar.
Meneghetti – Era um sujeito duro, mas leal.
Protegia a equipe e quem não o conhecia, em primeiro momento, não queria
trabalhar com ele, mas ele sempre foi um grande líder e levava suas equipes a
disputarem os primeiros lugares em todas as campanhas. Somos amigos até hoje.
Morales – Não tive nenhum contato comercial com
ele. Ele saiu da empresa no final do ano de 1985, mas diziam ser uma boa
pessoa.
Jair – a exemplo do Morales, não tive
oportunidade de conhece-lo como profissional. Saiu da empresa também no final
de 1985.
Cavalcanti – Um grande cara. Sujeito muito
simpático, tinha resposta pronta para toda situação. Foi um grande mestre.
Marcos – Meu segundo supervisor. Depois de um
início difícil, conseguimos nos acertar e trabalhamos juntos 03 campanhas de
listas. Grande amigo.
Antonio Carlos – Era extremamente simpático a
todos. Era aquele que sem ele nenhuma festa começava.
Alexandre – Grande mestre. Aprendi muito com
ele já como supervisor.
Silvio – O preferido de todos os vendedores.
Ele sempre foi amigo de todos e está qualidade o credenciava a ser o supervisor
mais querido por todos.
Manoel – Este fez parte da história de todos os
que trabalharam com ele. Muito inteligente, tinha tiradas inesquecíveis como:
pessoal, vamos discutir agora o que esta resolvido.
Falco e Sidney – Eram os gerentes da época.
Ambos tinham em comum a soberba. Acreditavam que o mundo girava em torno deles
Sr. Josias, como era chamado, era o diretor
geral da empresa. Tive poucas oportunidades de conversar com ele, mas nas
poucas vezes, sempre foi muito solicito.
Fecuri – o famoso Kaká, uma das pessoas mais
criativas e inteligente que conheci. Era ele, junto com sua equipe que dava
vida aos anúncios que os vendedores faziam. Um grande amigo e merece todos os
elogios
R. Souza – um negão
simpático, lembrava um pouco o Martinho da Vila, era sempre uma surpresa a cada
dia. As vezes chegava estourando a boca do balão e outras entrava num
ostracismo, mas era um cara muito bom.
Julidori – Na época
já era um dos veteranos, como nunca mais tive notícias dele, hoje se estiver
bem de saúde, já deve estar na casa dos 70 anos. Era um gentleman, muito
educado, bom vendedor, e sempre recordo de uma ideia dele de montar um
restaurante que se chamaria “Raízes”, onde seria servido somente pratos que
pudessem ser comidos com a mão, sem frescura. No lugar de talheres, seria
oferecido um avental para que o cliente se sentisse completamente à vontade.
Ele dizia sempre que rabada e frango só fica gostoso se comer com as mãos sem
uso de talheres. Espero que ele tenha realizado seu sonho.
Herivelto – Cheguei
a trabalhar algumas vezes com ele e era um vendedor dentro da média, não era de
conversar muito, pelo menos tenho esta imagem dele, mas provou ser um grande
empresário, quando saiu da LTN montou uma lista de telex internacional, com
escritório perto do Largo São Bento e cheguei até pegar a representação, mas
não deu certo. O meu tempo de listeiro já havia passado.
Altran – que
conheceu não esquece dele. Era um sujeito bom, mas vivia reclamando disso,
daquilo e numa ocasião, estávamos no Hotel Bourbon em Curitiba e no
estacionamento do hotel ele e o Ortolani, entraram em discussão por alguma
besteira e chegaram as vias de fatos e passaram trocar socos. Eu entrei no meio
para apartar e consegui, mas acabei levando um soco no peito que trincou uma
costela e fiquei com aquela dor por muitos dias.
Nair – sinto
saudades dela. Aprendi muito com ela. Era minha parceira predileta para TJ. Na
época ela era de Rio Preto e nunca mais tive notícias. Gostaria de encontrá-la.
Leda – Por muito
tempo éramos apenas colegas de trabalho. Um bom dia no máximo, mas com o tempo
fomos ficando amigos e uma ocasião estávamos em Araçatuba e fomos almoçar
juntos num restaurante chamado Bola 7, se a memória não me trair e a comida foi
servida era horrível. A Leda virou bicho. Brigou com o garçom, com o gerente e
saímos sem pagar a conta.
Lucas – Era um
grande vendedor, chegava no atendimento falando alto, colocando pilha. Era
adorado por todos. Nunca trabalhamos junto, mas sempre teve a admiração de
todos.
C.Dourado – uma
grande amiga. Foi a primeira veterana a me acolher como amiga. Amizade que dura
até hoje.
Ortiz – Não tive
oportunidade de trabalhar com ele muitas vezes, mas sempre se mostrou um
vendedor hábil e hoje um bom contador de histórias.
Augusto – Cara
simpático, bom de vendas, tinha uma cabeleira “em falta”. Grande amigo.
Ribeiro – Era um
dos veteranos e era cotado por todos os vendedores para ser o novo supervisor
juntamente com o Mairo. Quando a diretoria escolheu eu e o Mairo ele ficou
muito revoltado e não tenho recordação se ele continuou na empresa.
Vicente – Gente
finíssima. Era de Barretos. Dividi apartamento com ele por diversas vezes e
nunca mais tive notícias. Gostaria de saber notícias dele.
David – Grande
vendedor. Ele e seu inseparável bigode era um bom amigo. Me prestou socorro uma
vez na estrada, quando o meu Chevette estava quebrado.
J. Rubens – Lembro
bem deste menino, pois quando ficávamos a noite na calçada da Avenida Rio
Branco, defronte ao Hotel São Francisco, ele esnobava, pois era o único da
turma que conseguia conversar em inglês com os turistas que estavam no mesmo
hotel.
Voltando ao relato terminamos
a semana na quinta feira e no final do dia durante o atendimento, foi dado o
dinheiro para a viagem até Porto Alegre. Todos os vendedores deveriam estar no
atendimento na próxima segunda feira, a partir das 08:00 no Hotel Embaixador.
Destino inicial da primeira viagem |
Tudo simples e sem muita frescura. Segunda feira em Porto Alegre e ponto. Porto
Alegre? Ficava imaginando como seria a viagem, considerando o carro que eu
tinha na época, um Chevette 1974, movido a gás de cozinha e precisava deixar
dinheiro com minha esposa, pois como estava iniciando na empresa e já vinha sem
dinheiro a bastante tempo, fiz um sacrifício enorme e deixei quase a metade do
que havia recebido para as despesas de viagens.
Como um botijão de gás dava
para rodar cerca de 200 quilômetros, com o tanque cheio de gasolina eu daria um
jeito de ir comprando gás pelo caminho e com isso economizaria o valor que
havia deixado com a família. Com o dinheiro contado e com o risco de ser pego
pela polícia, pois era proibido na época utilizar o gás como combustível,
terminei os preparativos para a viagem e finalmente, no sábado de manhã, saímos
em comitiva de São Paulo, com destino a Porto Alegre. A viagem foi com a Ângela Guerreiro, com a Soeli e com o Ruz.
Esta viagem foi tão espetacular, que merece ser contada num capitulo exclusivo.
Continua na próxima semana.
Amei os detalhes desse capitulo, esperano o proximo ja rsrs
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