sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Capitulo 2 – O treinamento

Depois de muita conversa e ficar todo encantado com a maciez da cama que o hotel oferecia, do primeiro banho de ducha na vida. Foi emocionante tomar aquele banho demorado, com muita água quente. A emoção deste momento foi tão intensa que consigo ainda hoje recordar aquela cena. Na época eu tinha completado 36 anos e meus banhos eram sempre de chuveiros simples e rápido para não gastar energia. Estava me sentido o rei do mundo. O Avansi também comentou comigo que teve a mesma sensação. Parece meio bobo comentar isso depois de tantos anos, mas foi importante, pois parecia que aquele banho estava tirando todo o passado, tudo que havia dado errado e preparando o corpo e a alma para uma nova vida. E foi assim que aconteceu.

Lembrança dos apartamentos do Bristol

Acordei 06 horas da manhã e mais uma super ducha, barba feita e lá vamos nós tomar o café da manhã. Acostumado com o café com pão, eventualmente com leite e manteiga, eis que me deparo com uma mesa enorme, totalmente cheia dos mais variados tipos de comidas, como pães, doces (quindim delicioso e inesquecível), frutas, sucos, presunto fatiados, queijos e vários tipos, literalmente um banquete. Nunca na vida imaginava que existia uma coisa daquela. Era muito comida e como todo bom guloso, peguei um pouco de cada coisa, como se aquela fosse a única vez na vida que iria ter esta oportunidade. Durante o café, tinha uma mesa onde estavam alguns supervisores e consigo recordar que nela estava o Manoel, o Marco Antonio, o Alexandre e o Silvio e pela primeira vez ouvi a expressão “pezinhos”.
Café da manhã no Bristol - Inesquecivel

O prédio onde funcionava a LTN era um edifício que ficava defronte ao Bristol. Era só atravessar a rua. Não era muito alto e sua entrada tinha a fachada de vidro, sendo à direita do prédio um local para estacionamento de dois ou três carros e ficava sempre com uma corrente limitando o espaço, quando não estava sendo usado pela diretoria. Pelo lado esquerdo do prédio ficava a entrada principal, onde tinha a portaria, logo depois os elevadores e mais em frente via-se a porta de uma sala. Pelo lado direito deste corredor existia uma parede que separava o hall da sala onde ficava as equipes de vendas e dos supervisores. Entrando no salão, deparava-se com uma sala muito grande com muitas mesas, onde os vendedores faziam seus trabalhos ou aguardavam a sua vez de serem atendidos pelos seus respectivos supervisores. Cada supervisor tinha sua sala, todas no mesmo estilo, feitas com divisórias e com uma identificação na porta com o nome do supervisor. Lia-se Silvio, Alexandre, Meneghetti, Morales, Jair, Marco Antonio e Cavalcanti. Na sala localizada mais ao fundo era a sala da Supervisão Chefe, onde trabalhava o Manoel e o Antonio Carlos (Tonico).

Todos os vendedores contratados naquela etapa deviam se apresentar as 08:00 horas e aguardar no salão de vendas, juntos com os vendedores que já eram funcionários para iniciar o processo de admissão e treinamento. Quando entrei no salão, meio tímido, meio assustado, fiquei surpreso com a descontração dos vendedores, mas todos eles pareciam nos ignorar completamente. Não recordo de nenhum deles vir nos cumprimentar, ou desejar boas-vindas. Ouvia-se sempre alguém falar um pouco mais alto. “Olha a quantidade de pézinhos”” Vamos ter gente para carregar nossas pastas” ”Tem carne fresca no pedaço”, e outros comentários, mas ninguém veio até nós. Conforme os vendedores eram atendidos pelos seus supervisores, eles saiam com uns pacotinhos marrons e comentavam com outro colega o que havia naquele pacote e iam embora. Em pouco tempo, só restava na sala nós e os supervisores. Ai, sim, pela primeira vez, tivemos a primeira apresentação oficial do trabalho que iriamos fazer. Foi explicado pelos supervisores chefes que iriamos ser treinados e iriamos iniciar os trabalhos em campo dentro de uns 15 dias, no Guia Brasil Telex, um guia nacional de telex, onde constavam todos os telex do Brasil, conforme publicação anual autorizada pela Embratel.
O produto mais rentável da empresa

Ficou também claro naquele primeiro encontro que após o treinamento, os vendedores seriam divididos entre as equipes, por sorteio e cada equipe iria para um determinado lugar. Aquilo era um sonho. Era tudo que eu queria e sonhava fazer. Voltar a viajar, conhecer novos lugares. Estava encantado. Depois desta explanação, tivemos também oportunidade de conhecer os gerentes Falco e Sidney e aí ficamos à disposição do Departamento Pessoal para entrega dos documentos de admissão e finalmente fomos entregues aos cuidados do nosso mentor, que cuidou muito bem de todos nós que estávamos iniciando, o Sr. Thomaz. Nunca cheguei a perguntar, mas corria o boato que o Thomaz havia sido padre e deixado a batina para se casar, mas eu nunca tive a liberdade de perguntar e este assunto ficou como contavam, mas ele era uma pessoa muito generosa. Mostrava preocupação com todos e foi nosso parceiro durante todo o treinamento.

Quando chegou minha vez de ser admitido, fui até o departamento pessoal e o Sr. Thomaz veio conversar comigo. Disse que eu tinha tido um ótimo aproveitamento nos testes admissionais e que todos os que me entrevistaram recomendaram minha contratação, mas havia uma regra na casa que não podia contratar pessoas que tivessem o nome sujo no serviço de proteção ao credito, o que era meu caso, mas que ele poderia abrir uma exceção se eu concordasse em assinar uma carta pedindo demissão, sem data, somente assinada. Fazer o que? Perguntei. Claro que assino, preciso do emprego, minha família está necessitada. Naquela hora acho que concordaria em até abrir mão de parte do salário. Depois de tudo resolvido, já de volta a sala, comecei a rir sozinho, pois eu havia sido contratado e pedido demissão no mesmo momento, mas iria trabalhar. Agora, já mais descontraído, fui conhecendo os meus colegas, entre eles recordo do Jocafe, Ângela, Soeli, Ruz, Avansi, Adão, Vera e tinha outros, que lamento não recordar neste texto.

O primeiro dia de trabalho foi todo tomado por orientações, procedimentos e oportunidades para conhecer os novos amigos. No final do dia, ficou marcado o início do curso preparatório para o dia seguinte, que aconteceria no Hotel San Raphael, localizado no Largo do Arouche. Pontualmente, estávamos todos às 08:00 e novas orientações pelo Sr. Thomaz e finalmente o início do curso com a Dona Rosinha. Durante 02 ou 03 dias aprendemos tudo sobre que significava IA, MA, NG, 1QCO, MEIA PAGINA, UMA COLUNA, LOGOTIPO COM NEGRITO, MONTAR TÍTULOS, SELINHOS, QUARTA CAPA, CONTRACAPA e inúmeros outros macetes. Confesso que aquilo me empolgava. Fazia os melhores exercícios, vendia as melhores propagandas. A Rosinha fazia tudo parecer fácil e diante do que estava sendo ensinado, eu tinha certeza que iria estourar quando estivesse em campo junto de um cliente. Na quinta feira terminamos o curso e nos apresentamos no dia seguinte no Hotel Bristol, onde tivermos reuniões que com os supervisores, gerentes e fomos apresentados a diversas pessoas e finalmente, o mais esperado, o sorteio da equipe.

Creio que tive sorte, pois fui sorteado para trabalhar com o Cavalcante. Ele era tido como um dos melhores supervisores. Pessoa de língua afiada, elogiava quando merecia, mas era duro quando o vendedor não correspondia. Foi aí que tive oportunidade de conhecer os vendedores veteranos, os famosos faixas “A”, que passavam por nós como se não existíssemos. O da minha equipe era o Agno. Vendia uma barbaridade. Bem antes de iniciar as viagens, fomos trabalhar em TJ com os vendedores veteranos, nunca os mais antigos, para aprendermos como era o trabalho no campo. Literalmente éramos um estorvo para eles. Nas vezes que fiz acompanhamento com o vendedor que me orientou, ele entrou improdutivo, consequentemente, não me ensinou nada. Depois de dois dias, o Cavalcanti me fez uma atribuição de “novos” para eu ir sozinho. A maioria das fichas estava localizada na Avenida Paulista e região. Era o fim do treinamento e o início da minha carreia na LTN.

Continua na semana que vem.











Um comentário:

  1. Bons tempos aqueles. Eu me hospedava no Bristol, um belo hotel, com muita qualidade e um ótimo restaurante. Ficava bem de frente à LTN e ao bar do Dinei......não dá para esqucer...

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