sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Capitulo 5–  Porto Alegre a noite.

Fazia frio naquela sexta-feira. Tínhamos terminado a semana e recebido os prêmios dos contratos da semana, além dos valores para alimentação. Um grupo de vendedores resolveu sair à noite para conhecer as belezas daquela cidade e fomos num grupo de uns 10 vendedores, além de 01 supervisor e por indicação de motoristas de táxi. Recomendaram uma casa de dança, localizada na Avenida 28 de outubro, onde toda sexta feira tinha música ao vivo e era um lugar muito bom para se divertir. Não me recordo dos nomes que estavam comigo, com exceção do Jocafe, que naquela época era com quem eu tinham mais amizade e repartíamos o mesmo apartamento.

Ao chegarmos ao local, parecia com uma boate dos dias de hoje. Pagamos um valor para entrar e lá dentro do clube, havia uma grande pista de dança, com mesas em toda sua volta. Era um ambiente bem iluminado e tinha um local reservado para uma orquestra. Nada de DJs ou luz especial. Era tudo olho no olho, sem direito a disfarçar com jogos de luzes. Como sempre acontece quando você chega num lugar estranho, primeiramente, você fica parado num canto observando os movimentos, conhecendo os caminhos, se ambientando.

Os bailes eram todos iluminados.
- Uma garrafa de uísque, garçom, disse um dos vendedores e com a chegada da bebida, o ambiente foi ficando mais alegre e o pessoal foi se animando. Um deles se animou e tirou uma garota para dançar, pois era assim que funcionava. Se quisesse, tinha que chegar na mesa e convidar a moça para dançar. De vez em quando levava um não, mas à medida que o uísque ia fazendo efeito, o não já não tinha importância. Queríamos se divertir e a cada música e cada volta a mesa mais uma dose da bebida e mais alegria. Nesta altura do campeonato, tudo era lindo, maravilhoso. Todas as mulheres eram sensacionais e nós, os melhores dançarinos do mundo.

O tempo foi passando e os pares foram sendo formados e me recordo que o Jocafe conheceu uma loira alta, mulher muito bonita, atraente e rolou um clima entre eles e depois de um certo tempo, eles foram embora do clube. Outros também juntaram com parceiras e a noite foi sendo cada vez mais agradável. Eu estava dançando já algum tempo com uma morena, creio que bonita também, quando a bebida começou a fazer efeito para valer. Tudo começou a girar e eu não estava mais conseguindo ficar em pé, quando o supervisor que estava conosco me levou até um taxi e pediu para o taxista me deixar no Hotel Embaixador. 

Entrei no carro dormindo. Recordo ter chegado na recepção do hotel e pedido a chave e daí para frente não lembro como cheguei no apartamento e não lembro até hoje. Realmente apaguei. Acordei no dia seguinte por volta de 14 horas com uma tremenda dor de cabeça e aí pude notar a sujeira que estava no apartamento. Mas nada do Jocafe. A cama dele estava arrumada, portanto, ele ainda não havia voltado da noitada.

Tomei um banho e desci para a recepção do hotel e lá encontrei alguns vendedores, outros tinham saído para ir as compras ou mesmo visitar os belos parques daquela cidade, mas não encontrei nenhum vendedor que havia ido ao baile. A noite resolvi ir ao cinema e o Jocafe ainda não havia voltado. Quando retornei, já por volta de 23 horas, o Jocafe estava dormindo profundamente e para não ser perturbado, colocou na orelha aquela plaquinha que você coloca na porta – Não Perturbe. Foi muito engraçado. No dia seguinte ele me contou que a loira era um furacão e quase acabou com ele. Os outros também tiveram boas lembranças desta noite, mas a que vivenciei foi a do Jocafe.

Mas esta cidade foi palco de outras grandes histórias como a vivida pela nossa colega Lea Gení Morais. Veja como foi: Em 1981 o Grêmio, um dos principais times do Brasil jogava a final do Campeonato Brasileiro contra o São Paulo e venceu a partida com gol de Balthazar. A festa foi imensa, começou no Morumbi e terminou nas ruas de Porto Alegre, mas esta conquista foi inesquecível para os gremistas e também para a Lea, pois ela tinha vindo passar o final de semana na sua casa, em São Paulo e não tinha conseguindo voo para voltar a Porto Alegre no domingo a noite. Seu marido, que trabalhava na aviação, conseguiu convencer o pessoal da companhia aérea a deixa-la embarcar no voo do time do Grêmio. Imaginem a emoção dela de estar ao lado dos campeões brasileiros. Inesquecível. 


Só que esta foi uma pequena parte da história, pois por coincidência, ela estava levando para Porto Alegre, para um amigo, duas garrafas de Pinga 51. Pronto, estava feito a festa. Ainda no ônibus, antes de embarcar, ela teve, devido a insistência dos jogadores, ceder uma garrafa que ela estava levando e isto somente aumentou a festa que durou todo o voo, regada com abertura da segunda garrafa. O amigo ficou na saudade, mas em troca de ter cedido as garrafas e tornado a viagem inesquecível, ela chegou junto com a comitiva vestindo uma camisa do Grêmio e de quebra, uma toalha de banho, que diz ter guardado até hoje como lembrança daquele dia inesquecível. Ao chegar no Aeroporto de Porto Alegre, a torcida do Grêmio estava aguardando os campeões e estava impossível conseguir um táxi. Ela estava desesperada para chegar ao hotel e por sorte de listeiro, surgiu uma carona e tudo acabou bem. Coisas de Porto Alegre.


Domingo, era dia de descanso, pois tínhamos estrada para enfrentar na segunda feira e foi um dia de preguiça. Segunda feira cedo, já estava na estrada em direção a Santa Maria e outros vendedores também partiram, cada um para seu destino, deixando para trás as boas lembranças daquela cidade que nos acolheu tão bem.

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