Capitulo 6 – De volta às
estradas
Depois da ressaca do final de
semana, chegou finalmente a segunda feira que muitos de nós estava aguardando
ansiosamente e ao mesmo tempo com aquela pontinha de medo e ansiedade. Iriamos
literalmente fazer aquilo para o que fomos contratados, ou seja, renovar e
fazer novos contratos de publicidades, só que agora sozinhos. Meu destino
inicial era a cidade de Santa Maria, distante 200 quilômetros de Porto Alegre,
onde eu teria que renovar algumas fichas de renda e se manter dentro do
percentual físico e financeiro para que tivesse direito a uma nova atribuição.
Para quem não se recorda, o
sistema era perverso neste aspecto, mas apesar desta característica,
funcionava, pois, cada vendedor para ter direito a uma nova atribuição, deveria
ter um percentual de aproveitamento físico superior a 105%, ou seja, tinha que
ter sempre um crescimento de 5% na sua produção e manter sua linha de produção
financeira no mínimo acima de 120% para ter direito a rendas de maior valor,
como as Prêmios e Especiais. Se por acaso, o vendedor estivesse com os
percentuais abaixo de 100%. Tanto físico ou financeiro, teria que trabalhar
clientes novos até atingir o teto mínimo estabelecido pela empresa.
Era fácil
perder o percentual, bastava cancelar um contrato de valor alto, que você
comprometia toda sua campanha. Vou citar um exemplo clássico. Você tem um
percentual físico superior a 105% e um percentual financeiro superior a 120%.
Com estes números, você teria direito a ser atribuído com uma ficha especial,
que renovada daria um grande avanço no seu faturamento, uma ficha prêmio, que
também tinha um ótimo valor para ser renovada, uma ficha A e duas fichas B e um
pacote somente com clientes novos. Se tudo corresse bem e o trabalho do
vendedor anterior tivesse sido bem feito, então você ficava bem na fita, mas se
tivesse a infelicidade de cancelar os contratos, principalmente os de renda
alta, você estava condenado a ficar visitando cliente novo, que eram os mais
difíceis de serem convencidos, até voltar ao percentual, enquanto isso, a
campanha seguia e os Faixas A, já com toda a experiência adquirida, levavam
tudo.
Cabe aqui um esclarecimento.
As atribuições eram sempre feitas à noite, após o atendimento do vendedor. Se o
vendedor entrasse com um contrato alto, ele era atribuído com todas as rendas
que seu percentual permitisse. No dia seguinte, os contratos eram todos
checados e se este contrato grande que tinha permitido ao representante pegar
uma grande atribuição, fosse cancelado pelo supervisor, por qual motivo fosse,
o vendedor não seria punido em nada, pois continuava com a atribuição recebida.
Muitos vendedores faziam contratos, sabendo que os supervisores iriam cancelar,
mas que permitia a eles continuarem dentro dos percentuais.
Quando havia viagens como a
que eu estava iniciando, o sistema era diferente. Para reduzir os custos, era
atribuído ao vendedor todas as fichas daquela cidade e ele teria que prestar
conta do seu trabalho quando voltasse a se encontrar com seu supervisor em
outra cidade. A cidade de Santa Maria era uma das maiores do interior do Estado
do Rio Grande do Sul e minha atribuição previa visitar algumas empresas e como
todas eram fichas de valores pequenos, consegui renova-las e ainda acrescentei
na minha linha dois contratos de novos. Imaginem a minha felicidade. Estava
dentro do percentual e era isso que importava naquele momento. Terminando o
trabalho em Santa Maria, a próxima cidade que iria visitar seria Ijuí e lá tem
uma história que vale a pena ser contada.
Entre
vários “causos” que aconteceram comigo e com certeza com alguns de vocês
também, tem aqueles que considero inesquecíveis e sempre que posso conto para
os meus amigos mais próximos e hoje vou contar para vocês, aliás, vou contar
dois e que aconteceram na minha primeira viagem, quando sozinho sai de Porto
Alegre, no meu velho Chevette 74, movido a gás de cozinha e fui trabalhar no
interior do Estado e posteriormente encontrar com a equipe em Blumenau. Coisa
de doido, principalmente para a época, pois as estradas eram horríveis.
Nesta
viagem teve dois fatos que guardo com carinho. Tinha saído da cidade de Não Me
Toques e alguém sugeriu que seu eu cortasse por uma estrada de terra, iria
economizar uns 30 km até Ijuí. Topei na hora, pois a palavra economizar soava
como música para meus ouvidos e por uma destas coisas inexplicáveis eu tinha
comigo um rolo de corda no porta malas e no meio desta viagem, tinha uma
família, com o carro quebrado, pedindo socorro, numa estrada de terra que tinha
somente pastos e mais nada. Parei para ver se podia ajudar – não sei se faria
isso hoje – e notei que o carro deles tinha estourado uma correia e não iriam
conseguir sair dali se não fossem guinchados. O que eu fiz então: Amarrei o
carro deles atrás do chevette com a corda que sei lá por que razão levava comigo e reboquei o carro daquela
família por uns 20 km quilômetros, deixando-os numa pequena cidadezinha, mais
parecida com uma vila e segui viagem para Ijuí.
Em outro momento desta viagem, já próximo de Catanduvas, já no Estado de Santa Catarina, já havia escurecido; estava fazendo um frio tão grande e baixou uma cerração tão forte, que não dava para saber onde estava, o farol não conseguia clarear a pista e fui rodando bem devagar, com o coração na mão, quando no meio do nada avisto uma luzinha amarela, bem fraquinha devido a cerração e eu disse pra mim mesmo – é lá que vou parar. Sorte de principiante. Era um hotel de beira de estrada, simples mesmo, mas foi maravilhoso encontra-lo. Passei muito frio, não tinha café da manhã, mas este hotel foi inesquecível, pois pode até ter salvado minha vida. No dia seguinte, antes de chegar a Catanduvas, pude ver o tipo de estrada que estava viajando. Era curvas e barrancos. Deus protegia os listeiros.
Tanto
esforço por nada. Ao chegar em Catanduvas, fui procurar a empresa que devia
visitar e não encontrei, pergunta aqui, pergunta ali e nada de encontrar alguém
que soubesse da empresa que eu estava procurando, quando percebi o erro. Quando
na separação das fichas, alguém por engano, trocou a ficha da cidade de
Catanduva, que fica no interior de São Paulo e a colocou como sendo Catanduvas,
em Santa Catarina. Este engano custou quase dois dias de viagem e quando
cheguei a Blumenau, as atribuições daquela cidade já estavam no fim.
Blumenau - Uma das mais belas cidades brasileiras |
Mas, foi aí,
nesta cidade, que tive a primeira lição do que era ser um vendedor de anuncio
em lista telefônica. Devido ao meu resultado pífio do meu peão, o Cavalcante
pediu que eu saísse em TJ com meu xará, Luis Antonio Guerra, um listeiro, por coincidência,
da cidade de Catanduva, que realmente me ensinou diversos macetes de como
abordar um cliente, como evitar um cancelamento, como sair de situações
constrangedoras criadas por vendedores anteriores e como melhorar meu
aproveitamento nos agenciamentos.
Comecei a partir deste momento, dar adeus as
IA e MA e passei a ser um pouco mais agressivo e minha posição na equipe
melhorou e passei a ser adotado por toda a equipe, inclusive pelo Agno, que até
então mal me cumprimentava.De
Blumenau fui trabalhar no Paraná, terminando meu trabalho na cidade de
Londrina. Não me destacava, mas não era mais um dos piores, estava melhorando
dia a dia no agenciamento e nas atribuições. A próxima etapa do trabalho seria
o Rio de Janeiro e em seguida o interior de São Paulo, onde terminaria a
campanha daquele ano. Mas antes de contar as aventuras do Rio de Janeiro, eis o
que aconteceu na volta de Londrina.
Tem uma história interessante que aconteceu em outra época com a Léa, que também
não tinha a menor afinidade com dirigir, principalmente em estradas. Aos
trancos e barrancos, ela saiu de São Paulo, com destino a Porto Alegre e
chegando em Curitiba, já exausta e desesperada, parou num posto de gasolina
para se recuperar, e perguntou a um passageiro de uma empresa de ônibus qual o
melhor caminho para ir a Porto Alegre. O homem respondeu que devia ser pela
Serra (BR 116) e acho que notando a insegurança da Léa, ofereceu para ir com
ela, pois ele motorista profissional e poderia ajudá-la a levar o carro. De
pronto ela aceitou. O carona, morava em Novo Hamburgo e ainda restava um grande
trecho para ser percorrido. A viagem foi melhor que a Léa imaginava, veja como
ela conta:
”Aceitei...arrumei um companheiro de viagem,
outros tempos, além de que ,ele era caminhoneiro, conhecia lugares
lindos...além de que ele dirigia.....me lembro que até adormeci depois que
almoçamos....aliás...foi fantástico o almoço...paramos um churrasco público, que
comprovamos um espeto que estava sendo assado em a grande vala.....sentamos
embaixo de uma árvore com um copo de plástico ,tomamos chopp ,foi
ótimo....seguimos viagem...me lembro de uma clareira onde os caminhoneiros
descansava m...era cheia de orquídeas...lindíssimas, além das estórias das
mulheres que ali estavam...lavando roupa em a cachoeira... crianças...um
universo fantástico....enfim...seguimos viagem.”
Chegaram
a Novo Hamburgo a noite e de lá até Porto Alegre a Léa, seguiu sozinha pela
Free Way, a melhor estrada do Estado e chegou no hotel já tarde da noite,
encontrando o Falco preocupado, mas tudo terminou bem.
Depois
de algum tempo viajando, um comando policial me mandou parar e como meu carro
estava com gás, que na época era ilegal, eles queriam prender meu carro.
Conversas e mais conversas até que de repente, eis que surge o Cavalcante no
seu Alfa Romeu e eu aí pensei, agora ele vai me ajudar. Não ajudou. Passou
devagarzinho, abanou a mão e seguiu viagem. Fiquei retido naquele posto
policial até por volta de 14 horas, quando um policial ficou com pena de mim e
liberou minha partida, mas ficou com o botijão de gás e tive que seguir na
gasolina.
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